Oração: diálogo que nasce no coração daquele que busca a Deus

(foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

A oração está no centro da vida cristã e, no tempo quaresmal, adquire um destaque maior. Dentre as muitas definições, a de São João Damasceno é uma das que mais abrangem seu sentido, sendo, inclusive, usada pelo Catecismo da Igreja Católica (CIC), 2559: “A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”.

Já para Santa Teresinha do Menino Jesus, a oração é “um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”.

A oração está intimamente ligada à vocação do ser humano, criado por Deus e que “conserva o desejo daquele que o chama à existência” (cf. CIC, 2566). O Catecismo também ressalta que, mesmo que o ser humano esqueça seu Criador, ou se esconda longe de sua face, “o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração”.

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora”, ressalta o Catecismo, acrescentando que, se o coração estiver longe de Deus, “a expressão da oração será vã” (CIC, 2562). Sobre esse aspecto, o Papa Francisco, na homilia da Quarta-feira de Cinzas de 2014, afirmou que “sem oração, a vida cristã torna-se abstrata e corre o risco de se converter num extenuante es- forço pessoal de busca da perfeição ética sem esperança nem alegria”.

O que dizer?

Nesse diálogo com Deus, é possível abordar qualquer assunto presente no coração. No entanto, a tradição cristã indica alguns tipos de oração mais comuns:

Petição – É o próprio Jesus quem ensina a pedir ao Pai em oração, por meio de uma prece simples, confiante. Pede-se o perdão, a própria salvação e a dos outros, pela Igreja, pelo apostolado e pelas mais variadas necessidades.

Ação de graças – O fiel, movido pelo reconhecimento dos dons recebidos e a misericórdia divina, dirige o espírito a Deus para proclamar e agradecer os seus benefícios. A maior ação de graças do cristão é a Eucaristia, por meio da qual se faz memória do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.

Adoração e louvor – Partes essenciais da oração, por meio das quais a pessoa se reconhece criatura diante do Criador e proclama a grandeza e a plenitude do seu ser. “O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus!” (CIC, 2639).

(Foto: Vatican Media)

Formas

Os autores de espiritualidade cristã costumam distinguir a oração de diferentes formas: vocal e mental; pública e privada; intelectual e afetiva; regrada e espontânea etc. O Catecismo distingue, basicamente, de três formas:

Oração vocal – Aquela que se faz por meio de fórmulas preestabelecidas, tanto longas quanto breves (jaculatórias), tomadas da Sagrada Escritura (o Pai-nosso, a Ave-Maria…), ou da tradição espiritual (Oração ao Espírito Santo, Salve-Rainha, Lembrai-vos…).

Meditação – Ato de orientar o pensamento para Deus e, a partir Dele, dirigir o olhar à própria existência. Nessa forma, põe-se em ação a inteligência, a imaginação, a emoção, o desejo de conversão do coração e a busca da vontade de Deus. Sua principal base está na leitura da Palavra de Deus ou de algum livro espiritual.

Contemplação – Definida pelo Catecismo como o “olhar de fé fito em Jesus”, no silêncio e no amor. Santa Teresa de Jesus descreve esse estágio como “um relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados”. Refere-se, portanto, a um sentido da presença de Deus e do desejo de uma profunda comunhão com Ele.

Condições

Tanto a Sagrada Escritura quanto a doutrina da Igreja indicam que, para haver uma autêntica vida de oração, são necessárias algumas disposições:

Recolhimento – Atitude interior e, quando possível, também exterior, de se colocar diante de Deus, em silêncio, evitando outras tarefas e tentando impedir as distrações.

Confiança – Mais do que a certeza de que seu pedido será atendido, significa a atitude de entrega filial daquele que, na alegria e na dor, no trabalho e no descanso, dirige-se com simplicidade e sinceridade ao seu Pai, colocando a vida em suas mãos.

Humildade – É o fundamento da oração e a disposição necessária para receber gratuitamente o dom de Deus.

(Reprodução da internet)

Jesus: mestre a oração

O Filho de Deus, Verbo Encarnado, aprendeu a orar com sua mãe, a Virgem Maria, segundo a tradição hebraica. No entanto, sua oração brota do coração do Filho eterno de Deus, revelando, portanto, a dimensão da oração filial.

Os evangelhos mostram a oração de Jesus em momentos decisivos da sua missão: ao retirar-se no deserto por 40 dias antes de ser batizado; no monte onde se transfigurou; antes de escolher e chamar os 12 apóstolos; antes da ressurreição de Lázaro; no horto, na véspera de sua Paixão e em muitos outros momentos. “A oração de Jesus, antes das ações salvíficas que realiza a pedido do Pai, é uma entrega, humilde e confiante, de sua vontade humana à vontade amorosa do Pai” (CIC, 2600).

Jesus ensina seus discípulos a orar não apenas por meio do Pai-nosso, mas, também, quando Ele reza. Santo Agostinho resume as três dimensões da oração de Jesus da seguinte forma: “Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora por nós como nossa cabeça; e a Ele sobe nossa oração ao nosso Deus. Reconheçamos, pois, Nele, os nossos clamores e em nós os seus clamores”.

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