Paróquia Santa Domitila completa 50 anos e projeta ações à luz do sínodo arquidiocesano

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A única paróquia no Brasil dedicada a Santa Flávia Domitila, mártir dos primeiros séculos do Cristianismo, completa 50 anos de criação neste mês de maio, festejados com uma novena entre os dias 3 e 11, com o tema “Deus habita esta cidade. A exemplo de Santa Flávia Domitila, somos suas testemunhas”. O dia padroeira foi celebrado em 12 de maio.

“Na novena, para dar continuidade àquilo que foi proposto no sínodo, trabalhamos a temática da Carta Pastoral de Dom Odilo e as Propostas Sinodais. Além disso, convidamos para a novena padres e bispos que tiveram algum vínculo com a Paróquia, incluindo sacerdotes que aqui tiveram o despertar vocacional”, contou ao O SÃO PAULO o Padre Fabrício Mendes de Moraes, Administrador Paroquial, recordando que três religiosas e cinco sacerdotes iniciaram sua trajetória vocacional na Paróquia Santa Domitila.

Na sexta-feira, 26, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa em ação de graças pelo jubileu de ouro da Paróquia, localizada no Parque Maria Domitila, na zona Noroeste, Região Episcopal Lapa.

“Aqui no bairro, vocês são a expressão da Igreja de Jesus. São 50 anos de história, de testemunho da fé, da caridade e da esperança cristã. São 50 anos de serviço missionário e de transmissão da fé”, disse o Arcebispo Metropolitano na homilia.

COM FÉ E UNIÃO

Instituída em maio de 1966, a Capela Santa Domitila inicialmente pertenceu à Paróquia São Domingos Sávio, e teve a primeira missa celebrada em 1967. Em 1971, já com atividades pastorais iniciadas e grande participação de famílias, foi integrada à Paróquia São João Batista, da Vila Mangalot, sob os cuidados da Congregação dos Missionários do Espírito Santo (Espiritanos). A um desses sacerdotes missionários, o Padre Gregório Lutz, coube a responsabilidade de comprar o terreno e construir a Capela, em 1972, com a ajuda de cinco famílias. Em 12 de maio de 1973, a Paróquia Santa Domitila foi erigida e inaugurada por Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo Metropolitano.

“Para a construção, fizemos mutirões, quermesses e pedimos muitas doações. Fomos nós quem construímos a Capela, orientados por um engenheiro responsável. E o Padre Gregório acompanhava tudo”, recordou Aparecida Conceição Rodrigues Picco, 75. Cida, como é mais conhecida, atualmente participa do Apostolado da Oração.

Os padres Espiritanos estiveram à frente da Paróquia até 1989. Dai em diante, passaram pela igreja padres da Arquidiocese. No ano 2000, teve início a construção da atual matriz paroquial, ao lado da primeira Capela.

Maria Dias de Goz é a atual coordenadora paroquial. Ela e a família frequentam a Paróquia desde 1995, após terem tido a casa visitada e abençoada em uma atividade missionária. Lia, como é mais conhecida, destaca que a Paróquia Santa Domitila é uma grande família na fé.

“Quando alguém da comunidade tem uma perda, passa por um sofrimento, a comunidade se mostra presente. Em 2005, meu filho foi vítima de uma bala perdida e faleceu. Eu me sustentei no apoio da comunidade. Aqui servimos uns aos outros, vivemos o verdadeiro amor fraterno”, enfatizou.

REVITALIZAÇÃO PASTORAL

Padre Fabrício está à frente da Paróquia desde fevereiro e tem procurado atrair mais pessoas para as missas – de segunda-feira a sábado, sempre às 6h30, e aos domingos às 8h, 10h e 18h– e para as demais ações da igreja, que está com as portas abertas diariamente para a adoração ao Santíssimo e o atendimento de Confissões.

O Sacerdote contou que tem feito visitas às casas e prédios na área de abrangência da Paróquia, abençoando as famílias, ação que tem ajudado a trazer mais fiéis para a igreja.

“O povo tem correspondido, como pudemos ver na Semana Santa, mas ainda nem todos os bancos estão cheios nas missas”, comentou o Padre. “A partir destas visitas, vamos conhecer a realidade pastoral, mapeá-la e depois, com base na Carta Pastoral de Dom Odilo, iremos estruturar os trabalhos da Paróquia”, prosseguiu.

Com os agentes da Pastoral da Saúde, Padre Fabrício tem ido ao encontro dos enfermos nas casas e nos hospitais. Na Paróquia também se apresentam bem estruturadas as Pastorais da Criança e do Dízimo, o movimento da Mãe Rainha, com as Capelinhas de Nossa Senhora em 19 casas; o Apostolado da Oração; e o grupo da Terceira Idade, que se reúne sempre as quintas-feiras à tarde, para um momento de oração e confraternização. A maioria dos paroquianos é de adultos e idosos.

Padre Fabrício comentou que ele e o conselho paroquial traçaram alguns objetivos, como a construção do altar contendo a pedra da primeira Capela, a reforma da parte interna do templo, e a conclusão do revestimento e da pintura da parte externa.

A COMUNIDADE DOS DISCÍPULOS DE JESUS

Na missa da sexta-feira, Dom Odilo lembrou aos fiéis que a Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus, que são por Ele instruídos na Palavra, alimentados na Eucaristia e santificados pelos dons que Cristo ofereceu à humanidade na Cruz.

Ao recordar que Santa Domitila foi mártir da Igreja, destacou que cada cristão é parte da Igreja dos mártires – “Não estamos sozinhos, somos a ponta da procissão do povo de Deus que caminha ao longo da história rumo à casa do Pai” –, devendo transmitir às novas gerações a fé recebida e servir à Igreja com amor.

“Na Igreja, primeiramente há o amor infinito de Jesus. Ele entregou sua vida por todos nós. Por isso, por maior que sejam as dificuldades, nunca podemos nos esquecer, como disse São Paulo, ‘Ele me amou e se entregou por mim na Cruz’”, comentou, exortando que cada cristão viva a fé com muita profundidade, força e generosidade.

Antes da bênção final, o Arcebispo de São Paulo recomendou aos fiéis que sempre peçam a força do Espírito Santo para revigorar as ações da Igreja: “Coragem, não desanimem! Vocês têm a alegria de escrever as primeiras páginas dos próximos 50 anos da Paróquia”.

Uma nobre martirizada pela fé

Nas comemorações dos 50 anos da Paróquia Santa Domitila, um dos propósitos do Padre Fabrício é tornar a padroeira mais conhecida. O Sacerdote tem pesquisado sobre a vida da Santa e sua iconografia oficial, que foi estampada nas flâmulas dadas aos fiéis durante a novena e no minicírio utilizado pelas famílias na Vigília Pascal.

Santa Flávia Domitila era uma nobre dama da Roma antiga, esposa do cônsul Flávio Clemente, e sobrinha do imperador Vespasiano. Ela e o esposo eram simpatizantes do Cristianismo. Influenciada pelo testemunho dos soldados Nereu e Aquiles, que a serviam diretamente, Domitila tornou-se cristã, e passou a ser perseguida, assim como seu esposo. Clemente acabou sendo decapitado; já Domitila foi presa e condenada ao exílio na inóspita Ilha de Ponza, após recursar-se a negar a fé em Cristo. Ali definhou até a morte.

“Ela é uma santa e mártir da fé. Além disso, depois de convertida, Santa Flávia Domitila cuidava dos necessitados, daqueles cristãos que moravam nas catacumbas. Ela lhes provia os alimentos. É uma história que precisa ser amplamente conhecida”, enfatizou Padre Fabrício. 

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