Sacerdote brasileiro mobiliza ações evangelizadoras em meio à guerra na Ucrânia

Há mais de cem dias, o mundo acompanha as notícias da invasão do território da Ucrânia pelas tropas da Rússia, causando destruição de cidades, milhares de mortes e, sobretudo, uma avalanche de refugiados. 

Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e de sua agência para refugiados, Acnur, mais de 6,6 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde o começo da guerra; destes, 2,9 milhões foram para outros países europeus, como Alemanha, República Tcheca, Itália e Polônia. 

Arquivo pessoal

O Sacerdote brasileiro Lucas Perozzi Jorge (foto acima), 36, missionário na capital ucraniana, Kiev, por lá permanece e tem se dedicado à evangelização em meio à guerra. 

ESTAR JUNTO DO POVO 

Natural de Álvares Machado (SP), Padre Lucas, integrante do Caminho Neocatecumenal, reside no país desde 2003. Atualmente, é Vigário Paroquial da Igreja da Dormição da Santíssima Virgem Maria, em Kiev. 

“Estamos imersos em um cenário de destruição. A nossa missão é sobretudo evangelizar, é tocar o coração das pessoas com a mensagem de Jesus e do Evangelho, não obstante o sofrimento que a guerra vem causando. A guerra, a dor e tudo à nossa volta se transformou em ocasião de evangelização”, disse. 

“Eu poderia até escapar da guerra, mas a minha cruz, a minha consciência, não me deixaria em paz. Sou sacerdote e, como Cristo, estou para servir e testemunhar sua Palavra neste lugar. É uma grande responsabilidade não somente porque sou padre, mas por ser cristão”, ressaltou. 

CARIDADE E EVANGELIZAÇÃO 

No início da guerra, em fevereiro, a paróquia onde o Sacerdote atua acolheu 30 famílias, que se abrigaram dos ataques. Hoje, todos já voltaram para suas casas, mas continuam as entregas de ajudas humanitárias à população. 

“Acolher e estar junto com essas pessoas foi uma experiência de luz. Primeiro, porque a nossa missão como cristãos não se resume à ajuda humanitária. A missão da Igreja é evangelizar, podemos ajudar doando alimentos, roupas, remédios e itens de higiene, mas são gestos pontuais, importantes, porém, passageiros”, disse o Padre. “Nossa missão é, sobretudo, evangelizar, mudar o coração das pessoas”, afirmou. 

Padre Lucas destacou que, no momento da entrega das doações, há sempre a presença de um sacerdote para acolher as pessoas, escutar o sofrimento e lhes oferecer uma palavra de esperança e de coragem. “Muitas pessoas acabam compartilhando e desabafando tanta dor e, apesar de tudo, pedem para ficar e ajudar na missão da paróquia. Outros que não faziam parte ou estavam afastados da comunidade estão aderindo às iniciativas paroquiais”, contou. 

O Padre citou ainda o exemplo de uma mulher, mãe de dois filhos, que um dia foi buscar uma doação, e desde então tem retornado diariamente à paróquia para ajudar na distribuição. Também um pedreiro se dispôs a concluir as obras inacabadas na igreja. 

AÇÃO DE DEUS 

Padre Lucas contou um exemplo de conversão que aconteceu durante a Semana Santa: “Fizemos a tradicional encenação da Paixão de Cristo, e o corpo de Cristo ficou junto ao cenário de um prédio de Borodyanka, um símbolo da destruição da guerra, nos arredores da capital”. 

“Um ucraniano, há anos afastado da religião, entrou na igreja e ficou comovido vendo Cristo deitado entre os escombros, pois era um dos moradores do prédio. Na hora, ele propôs um encontro dos sacerdotes com os demais condôminos, todos desabrigados”, recordou o Padre, que saiu de Kiev e foi até o local, levando mantimentos. 

“São em situações como essa que sinto que é Deus que nos coloca para anunciá-lo. Isso nos consola muito, porque não é coisa nossa, é Deus agindo e apontando caminhos. Não estamos aqui para fazer um voluntariado, e sim evangelizar, anunciar o Cristo a essas pessoas”, afirmou. 

FRUTOS DA MISSÃO 

Padre Lucas afirmou estar feliz com os frutos da missão realizada, apesar do cansaço, do impacto e pressão emocional e psicológica que as explosões das bombas e mísseis causam, do som das sirenes tocando para a população se proteger e das notícias de pessoas conhecidas que morreram em virtude da guerra. 

Florescem, também, novas iniciativas evangelizadoras: “Estamos empenhados na evangelização dos jovens. É uma maneira de afastá-los do clima tenso de guerra e resgatá-los para a fé e renovar sua esperança”, enfatizou. 

Outra ação recente foi a ministração dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia aos militares voluntários ucranianos e de diferentes países que irão à linha de frente da batalha. “A Eucaristia nos sustenta neste momento devastador. É Cristo presente no meio de nós”, afirmou o Padre. 

Outro drama na capital Kiev é que, embora a guerra não tenha acabado, aos poucos as pessoas que partiram refugiadas estão retornando sem emprego, sem casa e sem bens. 

MEDIAÇÕES DE PAZ 

Antes mesmo do início da guerra, o Papa Francisco se posicionou contra a eclosão do conflito e tem se empenhado para que chegue ao fim. O Pontífice foi presencialmente à em- baixada russa no Vaticano, conversou com autoridades civis e religiosas dos dois países, enviou autoridades vaticanas à Ucrânia e ajudas materiais à população, entre dinheiro, comida, remédios e duas ambulâncias, por meio de estruturas da Igreja como a Cáritas, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre e de paróquias, conventos e mosteiros, que abriram as portas para acolher desabrigados. 

“A guerra não pode ser algo inevitável: não devemos nos acostumar com a guerra! Pelo contrário, devemos transformar a indignação de hoje no compromisso de amanhã”, afirmou Francisco. 

O Arcebispo-Mor de Kiev-Halych, Dom Sviatoslav Shevchuk, que é o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, também se posicionou em busca da paz e ressaltou que a Igreja não abandonará as pessoas. “Se o povo não pode sair dos bunkers, a Igreja irá até eles. Os nossos sacerdotes descerão aos porões, aos abrigos antiaéreos, e celebrarão ali a Divina Liturgia”, assegurou. 

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Adriana lucena. Magalhaes
Adriana lucena. Magalhaes
1 ano atrás

Por favor meu noivo Kostyantin porkaru esta na ucrania , eu sou Brasileira , nos ajuda a tirar rle de la , ele prescisa trabalhar , ele trabalha no oceano , nos ajuda por favor

Adriana lucena magalhães
Adriana lucena magalhães
1 ano atrás

Me ajuda a tirar meu noivo Kostyantin ele esta preso na ucrania , ele prescisa ir para oceano trabalhar , eu sou Brasileira