Santa Teresinha do Menino Jesus: doutora da ciência do amor divino

Outubro, o mês missionário para a Igreja Católica, inicia-se com a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus, celebrada no dia 1º. Jovem que consagrou sua vida a Deus na clausura do Carmelo, ela é venerada como padroeira das missões e proclamada doutora da Igreja. 

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Marie Françoise Thérèse Martin nasceu em 2 de janeiro de 1873, em Alençon, na França. Era filha do relojoeiro São Luís Martin. A pequena francesa, desde os primeiros anos de vida, apresentava uma saúde frágil. Sua mãe, Santa Zélia, faleceu quando ela tinha apenas 4 anos, e, por isso, Teresa teve sua irmã mais velha, Paulina, como principal referência. 

Quando Paulina decidiu ser monja carmelita, Teresa desejou seguir os passos da irmã. Como só tinha 14 anos, porém, não foi permitido que ingressasse no Carmelo. Determinada, em uma viagem à Itália, com o pai, conseguiu ter uma audiência com o Papa Leão XIII, a quem pediu a autorização de ingressar no Carmelo, o que posteriormente lhe foi permitido. No Carmelo de Lisieux, a jovem adotou o nome de Irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. 

‘No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo’

Sua história pode ser conhecida por meio de sua autobiografia, tirada dos três manuscritos por ela redigidos nos últimos anos de vida, e publicada um ano depois da sua morte, com o título Histoire d’une ame (História de uma alma), em 1898, conhecida mundialmente e traduzida para diversas línguas. 

Nessa obra, é apresentado o principal legado da jovem carmelita: a chamada “Pequena via”, caminho de santidade que ela propõe a partir da busca da vontade de Deus nas coisas mais simples do dia a dia. 

SANTA E DOUTORA DA IGREJA 

A saúde frágil lhe impôs inúmeros sacrifícios que ela unia aos sofrimentos de Cristo na cruz. Teresinha morreu de tuberculose, aos 24 anos, em 30 de setembro de 1897. Sua fama de santidade logo se espalhou e, em 10 de junho de 1914, São Pio X assinou o decreto de abertura da causa de beatificação. Suas virtudes heroicas foram proclamadas em 14 de agosto de 1921 pelo Papa Bento XV. Em 29 de abril de 1929, o Papa Pio XI a proclamou Bem-Aventurada e, pouco mais tarde, em 17 de maio de 1925, o mesmo Pontífice a canonizou na Basílica de São Pedro. Dois anos depois, em 14 de dezembro de 1927, acolheu o pedido de muitos bispos missionários, proclamando-a, com São Francisco Xavier, padroeira das missões. 

‘Vou passar meu céu fazendo o bem na terra’

Em 19 de outubro de 1997, na missa pelo Dia Mundial das Missões, São João Paulo II proclamou Santa Teresinha do Menino Jesus como Doutora da Igreja. Na homilia dessa celebração, o Santo Padre destacou que, entre os doutores da Igreja, Teresa é a mais jovem, “mas o seu ardente itinerário espiritual demonstra muita maturidade, e as intuições da fé expressas nos seus escritos são tão vastas e profundas que a tornam digna de ser posta entre os grandes mestres espirituais”. 

‘Para mim, a oração é um impulso do coração,
um simples olhar para o Céu,
um grito de gratidão e amor
no meio da provação como no meio da alegria’

O mesmo Pontífice descreve o legado espiritual dessa carmelita na carta apostólica Divini amoris scientia (A ciência do amor divino), por meio da qual a proclamou doutora da Igreja. Nesse documento, o Papa Wojtyla sublinha que dos escritos de Teresinha resulta, antes de tudo, a existência de um particular carisma de sabedoria. 

“Teresa oferece uma síntese amadurecida da espiritualidade cristã: une a teologia e a vida espiritual, exprime-se com vigor e autoridade, com grande capacidade de persuasão e de comunicação, como demonstram o acolhimento e a difusão da sua mensagem no povo de Deus”, escreve São João Paulo II, acrescentando que, nos escritos dela, “não encontramos talvez, como noutros doutores, uma apresentação cientificamente elaborada das coisas de Deus, mas podemos vislumbrar um esclarecido testemunho da fé que, enquanto acolhe com amor confiante a condescendência misericordiosa de Deus e a salvação em Cristo, revela o mistério e a santidade da Igreja”. 

DEVOÇÃO DO PAPA 

Particularmente devoto de Santa Teresinha, o Papa Francisco evocou o exemplo da jovem carmelita diversas vezes. Quando esteve no Brasil, em 2013, foi questionado sobre o que estava carregando em sua pasta. Ele respondeu: “Meu barbeador, o breviário (Liturgia das Horas), a agenda e um livro de leitura – trouxe um sobre Santa Teresinha de quem sou devoto…”. 

‘Não quero ser santa pela metade, escolho tudo!’

Em 2019, durante visita a um grupo de cerca de 100 religiosas contemplativas, em Madagascar, o Pontífice voltou a dar o seu testemunho de devoção a Santa Teresinha: “Ela me acompanha a cada passo. Ensinou-me a dar os passos”. 

NO CORAÇÃO DA IGREJA 

Em sua autobiografia, Teresinha narra como descobriu a essência da sua vocação e da Igreja, após ler um trecho da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. “Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários membros e neste corpo não pode faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a Igreja tem um coração e este coração está inflamado de amor […] Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno”, escreveu. 

‘Depois de minha morte, farei cair uma chuva de rosas’

Em seguida, concluiu: “Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará”. 

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Arnoldo de Hoyos
Arnoldo de Hoyos
1 ano atrás

Ela é simplesmente maravilhosa