A conservação dos documentos da Igreja preserva a memória de um povo

Assunto foi debatido em live promovida pelo Setor Bens Culturais e Universidades, da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da CNBB, com a participação dos responsáveis por acervos documentais da Igreja em Salvador, São Paulo e Mariana (MG)

(Crédito: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

Em um primeiro momento, a certidão de Batismo ou a de Matrimônio são úteis apenas para quem as possui. De igual modo, as anotações no livro tombo de uma paróquia servem, inicialmente, para registrar os fatos que ali se desenrolaram ao longo do tempo. Com o passar das décadas, porém, todo esse acervo documental em posse da Igreja ajuda a recontar a história de um povo e, por isso, conservá-lo bem é fundamental.

Essas foram algumas das reflexões realizadas pelos participantes da live “O documento histórico como bem cultural da Igreja”, promovida pelo Setor Bens Culturais e Universidades, da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 19, em comemoração do Dia Nacional do Patrimônio Histórico, celebrado anualmente em 17 de agosto.

A live foi mediada pelo Padre Danilo Pinto, Assessor do Setor Bens Culturais e Universidades, que, em recente entrevista ao site da CNBB, destacou que a Igreja Católica possui a custódia de grande parte do patrimônio histórico do Brasil e, por isso, “tem o dever de preservar os seus bens culturais, por meio da promoção do conhecimento sobre o patrimônio, da salvaguarda do patrimônio material e imaterial e da recuperação dos bens danificados pelo tempo ou incúria humana”.

Conservação e catalogação

Um dos participantes da live foi o Monsenhor Luiz Antônio Costa, Diretor do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (MG), cujo acervo contempla documentos datados do século XVIII. Há cerca de 150 mil itens documentais, entre impressos, fotos, vídeos, áudios e manuscritos, estes últimos, segundo o Monsenhor, de especial importância, pois “documentam a vida da Igreja no seu cotidiano, desde as grandes questões até as coisas simples”.

O Diretor do Arquivo apontou que um dos desafios tem sido o de aperfeiçoar a catalogação do acervo, a fim de que seja mais acessível aos pesquisadores, bem como conservar os itens e restaurar alguns deles.

Pedro Conte, historiador e restaurador do Laboratório Eugênio da Veiga, da Universidade Católica de Salvador (UCSal), ressaltou que a conservação dos documentos deve receber a mesma atenção dedicada às obras de arte e edificações.

“É importante pensarmos em conservação preventiva, que é a do espaço e não do objeto em si, isto é, por exemplo, nos preocuparmos em colocar aparelhos de ar condicionado e umidificadores nos ambientes para controlar a temperatura. Não podemos falar de restauração, sem falar de conservação. Parafraseando a professora Ana Maria Vilar [que atua no Arquivo Metropolitano de Salvador], toda restauração é uma agressão, porque é preciso fazer uso de produtos químicos e mexer na estrutura do material [a ser restaurado]. Assim, ela deve ser feita apenas em último caso. Temos que pensar, primeiramente, na conservação”, ressaltou.

Um bem para a humanidade

Diretor-técnico do centenário Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva, da Arquidiocese de São Paulo, criado em 1918, o historiador Jair Mongelli Junior lembrou que a conservação dos documentos em posse da Igreja é indispensável para se preservar a história de toda a sociedade e não só da instituição.

“Sem os documentos, é muito difícil escrever a história de uma pessoa, de uma comunidade ou de uma congregação religiosa, por exemplo. Muitas vezes, uma paróquia não tem o livro tombo e muita documentação é perdida por descuido de quem deveria ser o gestor”, observou, ressaltando que o recomendável é que a documentação histórica não fique apenas nas paróquias. “O Arquivo tem buscado essa documentação, pois é um local seguro e com isso se cria um espaço para pesquisa”, afirmou.

Digitalização e capacitação

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Mongelli alertou para o risco de que o momento atual se torne conhecido como o da “‘Era da Perda Digital’, pois, devido principalmente à obsolescência dos equipamentos e dos programas, é muito fácil perdermos documentos digitais. Por exemplo, se alguém guardou alguma informação importante em um disquete há 20 anos, hoje não tem como recuperar esses dados. Assim, é de suma importância que as paróquias continuem produzindo os seus documentos em papel, porque é o suporte mais estável para o registro de informações. Além disso, é mais econômico a médio e longo prazo arquivar documentos em papel em comparação aos custos de preservação dos registros digitais”.

O Diretor-técnico do Arquivo Metropolitano ressaltou que, ao se pensar nos processos de digitalização, deve se considerar que este processo sempre envolverá custos adicionais em razão das recorrentes alterações tecnológicas.

Mongelli lembrou, ainda, que uma das atividades do Arquivo Metropolitano é a de orientar os responsáveis pela produção e conservação de documentos das paróquias e de outras entidades no âmbito arquidiocesano, bem como realizar momentos de formação sobre este aspecto para os seminaristas, secretárias paroquiais e todo o clero.

Os canais para contato com o Arquivo Metropolitano são os e-mails jairdoarquivo@bol.com.br e arquivo.curia.sp@terra.com.br e os telefones (11) 2272-3644 e (11) 2272-3726.

(Colaborou: Flavio Rogério Lopes)

ASSISTA ABAIXO À ÍNTEGRA DA LIVE SOBRE O TEMA

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