A vocação do catequista

Novo Diretório de Catequese, lançado em junho, aponta que o catequista é ‘testemunha da fé e guardião da memória de Deus’

No quarto domingo do mês de agosto, a Igreja recorda a vocação dos catequistas. Responsáveis por introduzir na fé e gerarem os filhos de Deus no seio da Igreja, os catequistas são membros indispensáveis do Corpo de Cristo porque cumprem a missão deixada por Cristo a todos os batizados: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

Em junho deste ano, o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização divulgou um novo Diretório para a Catequese, com o objetivo de promover e explicitar, com mais clareza, a natureza e os objetivos da Catequese.

Nos capítulos III e IV, o Diretório expõe a vocação do catequista e a formação que deve receber, respectivamente. São capítulos importantes para uma compreensão profunda dessa vocação e dos requisitos necessários para exercê-la frutuosamente, de acordo com a Tradição da Igreja sobre o tema.

O catequista

O Diretório, ao definir a vocação do catequista, nota que a tarefa de anunciar o Evangelho pertence a todos os cristãos em virtude de seu batismo, que os associa a Cristo e à missão deixada por Ele à sua Igreja. Entretanto, alguns cristãos são chamados a colaborar com o anúncio do Evangelho de uma maneira específica, com um maior comprometimento dentro das comunidades e com uma especial colaboração com os bispos, os maiores responsáveis pela evangelização, por serem sucessores dos Apóstolos.

Esses cristãos são os catequistas, que podem ser ordenados, religiosos ou leigos. Essa atividade é fruto de um “chamamento particular de Deus, que, acolhido na fé, o habilita para o serviço da transmissão da fé”. Quando fiel ao seu chamado, o catequista é instrumento de Cristo para levar os fiéis para a plena comunhão com Deus, que se dá, sempre, no seio da Igreja.

Por esse motivo, o catequista deve estar sempre em união com os sacerdotes e bispos, que são os primeiros responsáveis pela Catequese e pelo ministério da Palavra. A partir da “fé e unção batismal do catequista, em colaboração com o Magistério de Cristo e como servo da ação do Espírito Santo”, o documento aponta três características essenciais desse ministério.

Na primeira delas, o catequista é “testemunha da fé e guardião da memória de Deus”. Ele é testemunha porque, antes de pregar o Evangelho, deve ter uma experiência íntima e pessoal com Cristo, para que, com sua vida, torne-se sinal para os outros. É guardião da memória de Deus porque mantém viva a mensagem evangélica por meio das gerações e deve transmiti-la com fidelidade e sem alterações.

Na segunda característica, o catequista é “mestre e mistagogo”, que tem a tarefa de ensinar o conteúdo da fé e de “guiar até o mistério dessa mesma fé”, para que a Catequese não seja apenas a transmissão de um conteúdo puramente intelectual, mas tenha impacto em todas as dimensões da vida humana.

Por fim, o catequista é “acompanhador e educador”. Ele deve acompanhar de perto os alunos, ter “competências educativas, saber educar e entrar nas dinâmicas do amadurecimento humano”. Deve ter paciência e profundo amor àqueles que lhe foram confiados, sem, entretanto, tolher a sua liberdade.

A formação do catequista

(Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO – imagens de eventos anteriores à pandemia)

No capítulo IV, o Diretório aponta as competências que o catequista deve possuir para exercer bem a sua atividade e como ele deve ser formado.

A formação do catequista deve ser uma prioridade da Igreja, pois os catequistas frequentemente são a porta de entrada da Igreja para muitos fiéis. Por isso, o processo formativo não deve englobar apenas  a instrução intelectual dos catequistas sobre a doutrina, a moral e os sacramentos da Igreja. A ação formativa deve fazer com que o catequista interiorize as verdades de fé que irá ensinar. É um processo que acontece no íntimo do catequista e “toca profundamente a sua liberdade”.

O catequista precisa tomar consciência de sua alta vocação para que responda a ela de maneira adequada. Deve fomentar em si uma “espiritualidade missionária e evangelizadora” e conceber a sua missão como um meio para crescer em amor a Deus.

Além disso, a formação intelectual é de suma importância. Um bom catequista procura conhecer a história da Revelação descrita nas Sagradas Escrituras e o núcleo essencial da mensagem e da experiência cristã: o Símbolo da fé, a liturgia, os sacramentos, a vida moral e a oração.

Por essa razão, o Diretório aponta três dimensões essenciais na formação dos catequistas: a dimensão do “ser”, do “saber” e do “saber fazer”. Na do “ser”, ele é chamado a ser uma testemunha viva da força do Evangelho. Na dimensão do “saber”, deve conhecer a fé católica e, também, o contexto social de seus alunos, para conhecer o melhor modo de transmiti-la.

Por último, na dimensão do “saber fazer”, o catequista necessita tornar-se um educador e um comunicador, que transmite o Evangelho com competência, coerência e dedicação, usando uma linguagem clara e adaptada aos alunos.

Todas essas dimensões não podem ser consideradas separadamente, mas numa profunda correlação. “É bom que o trabalho de formação esteja atento a não acentuar uma dimensão em relação à outra, mas que procure, pelo contrário, favorecer um desenvolvimento equilibrado, intervindo sobre os aspectos em que houver lacunas mais evidentes”, recomenda o Diretório.

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