Bispos reafirmam inviolabilidade da vida e repudiam legalização do aborto na Argentina

Atualizado às 17:35

Católicos participam de manifestação em defesa da vida nas ruas da Argentina (Foto:Marko Vombergar/ALETEIA)

“A Igreja na Argentina quer reafirmar, com irmãos e irmãs de diferentes credos e também com muitos não crentes, que continuará a trabalhar com firmeza e paixão no cuidado e no serviço à vida”, afirmou a Conferência Episcopal Argentina, no comunicado publicado após a legalização do aborto no país.

Com 38 votos a favor e 29 contra, o Senado da Argentina aprovou, na madrugada desta quarta-feira, 30, a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez.

A medida, previamente aprovada pela Câmara dos Deputados, foi autorizada após 12 horas de debate. No entanto, não foi ouvida a voz dos bispos que, em várias ocasiões, por longos meses, reiteraram a importância de proteger a vida humana desde a concepção.

De acordo com o episcopado argentino, essa lei vai aprofundar ainda mais as divisões no país. “Lamentamos profundamente o distanciamento por parte das lideranças dos sentimentos do povo, que se expressaram de várias maneiras a favor da vida em nosso país”.

“Estamos certos que o nosso povo continuará sempre a escolher toda a vida e todas as vidas. E com ele continuaremos a trabalhar por prioridades autênticas que requerem atenção urgente em nosso país”, reiterou a Conferência.

Enquanto se aguardava o resultado da votação, acontecia uma manifestação em frente ao Senado, com a presença de milhares de católicos, evangélicos e membros de organizações que trabalham pela proteção da vida, reunidos sob o lema “Por um #Natal sem aborto: façamos história de novo”. Outras mobilizações e momentos de oração foram realizados em várias províncias do país, também em adesão ao “Dia de jejum e oração” promovido pela Conferência Episcopal Argentina para o dia 28 de dezembro, memória litúrgica dos Santos Inocentes.

Dom de Deus

Nas homilias das missas daquele dia, vários prelados reafirmaram a sacralidade da vida e a necessidade de protegê-la, instando os legisladores a suspender o projeto de lei em debate. O Arcebispo de Corrientes, Dom Andrés Stanovnik, por exemplo, reiterou que “a vida é sempre um dom de Deus e como tal é sempre bem-vinda”. “Verdade, liberdade, justiça e amor andam de mãos dadas porque são valores inerentes à dignidade da pessoa, desde a concepção até a morte natural”, acrescentou.

Também o Arcebispo de La Plata, Dom Víctor Manuel Fernández, pediu: “Rezemos ao Senhor para que infunda em nosso povo e em nossas autoridades um profundo espírito de amor e solicitude pela vida. Rezemos também por nós, para que sejamos coerentes na defesa da vida em todas as fases, próximos aos abandonados, aos marginalizados, aos descartados por uma sociedade egoísta”.

Fernández fez, ainda, um forte apelo a “ficar ao lado das mulheres que estão passando por uma situação difícil e que são tentadas a buscar uma saída com o aborto”.

“Os fiéis amam a vida e a defendem não só pela fé, mas também por sólidas convicções humanas, as mesmas que até um ateu poderia ter”, sublinhou o Arcebispo, que deplorou “a tentativa de reduzir o aborto a uma emergência de saúde pública”, ao passo que “cada pessoa humana tem uma dignidade inviolável, que vai além de todas as circunstâncias”, porque tem a ver com “o plano de amor de Deus”.

Almas inocentes

Na mesma data, o Arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Mario Aurelio Poli presidiu uma Missa na Catedral Metropolitana, na qual invocou a necessidade de proteger os nascituros, “almas inocentes”.

“A grande provação da pandemia que sofre toda a família humana e que na Argentina tem ainda consequências muito dolorosas nos faz refletir sobre a dignidade de cada vida, sobre o valor de cada ser humano”, seja “idoso, com deficiência, doente ou ainda não nascido”, afirmou o Cardeal.

O Arcebispo de Buenos Aires condenou a “obsessão febril” e à “urgência incompreensível” dos políticos que, precisamente nestes tempos, decidiram legislar sobre o aborto, como se isso “tivesse a ver com sofrimentos, medos e preocupações” da população. Pelo contrário, o que se deve fazer – reiterou o cardeal – é “proteger os direitos humanos dos mais fracos, de modo tal que não sejam negados, mesmo que ainda não tenham nascido”.

Cultura do descarte

O Presidente da Conferência Episcopal Argentina, Dom Oscar Vicente Ojea, já havia se manifestado nos primeiros dias de dezembro em uma mensagem em vídeo, na qual exortou o país a dizer “não” à cultura do descarte e a refletir sobre o que significa respeitar a vida e seu valor intrínseco.

“Uma sociedade é definida pela forma como olha para os mais vulneráveis, os mais pobres e os mais indefesos. É isso que caracteriza e identifica a dignidade de um povo e de uma cultura”, disse Ojea. Isso diz respeito, em particular, ao nascituro em seu estado de total indefesa”.

Diante de uma gravidez inesperada, reiterava Dom Oscar, “não se trata de interromper a fonte da vida, mas de abrir espaço para aqueles que são chamados à vida, para que dela possam fazer parte”. E isto “é um apelo à generosidade das pessoas, para que todos sejam bem-vindos, não somente à custa dos outros que acabam por ser rejeitados”, completou.

(Fonte: Vatican News e L’Osservatore Romano)

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