Exame de consciência: caminho cotidiano de conversão e santidade

Esses tempos difíceis de isola- mento social, devido à pandemia de COVID-19, tem sido uma ocasião para os cristãos aprofundarem o conhecimento ou reavivarem o cultivo de diversas práticas da vida espiritual. Uma delas é o exame de consciência.

Prática que remonta ao início do Cristianismo, o exame de consciência consiste na revisão de pensamentos, palavras e ações, com a finalidade de verificar a sua conformidade de vida com a vontade de Deus e os ensinamentos de Jesus Cristo.

Embora o costume fosse usado como um meio eficaz de preparação para o sacramento da Reconciliação (Confissão), o exame de consciência é uma prática recomendada para ser feita diariamente, e muito oportuna como preparação para a Comunhão. O apóstolo São Paulo ressalta isso em uma de suas cartas: “Examine-se cada um a si mesmo e, assim, coma do pão e beba do cálice” (1Cor 11,28).

TIPOS

Um dos santos que deram ênfase ao exame de consciência foi Santo Ignácio de Loyola, que o introduziu nos seus mundialmente conhecidos exercícios espirituais. Segundo o fundador da Companhia de Jesus, a eficácia dos exames está, sobretudo, no modo como auxilia a alma, mantendo vigilância sobre as ações do dia, para adquirir cada vez mais o conhecimento de si mesmo.

Foi também este santo quem fez a distinção ente o exame particular e o geral. A tradição católica, a partir do exemplo de outros santos e fundadores, indica alguns tipos de exames de consciência cotidianos:

  • Particular: Consiste na vigilância de um defeito em particular, normalmente o defeito dominante, e na busca da prática da virtude oposta. Esse pode ser feito ao longo do dia, mais de uma vez, sempre que se sentir necessidade.
     
  • Geral ou diário: É um exame de consciência de todas as ações do dia que tenham relevância para a vida espiritual. Tem como base os mandamentos, os conselhos evangélicos, as virtudes principais, a realização dos deveres do próprio estado de vida, além do grau de vontade e o espírito de oração.
     
  • Preventivo: Por meio deste, que pode ser feito pela manhã, junto com a primeira oração do dia, a pessoa renova seus propósitos e estabelece o programa do dia. Ainda com este exame, o cristão adquire força para evitar as ocasiões de pecado e as possíveis quedas.
     
  • Das obras ordinárias: Também é de muito proveito examinar as principais ações do dia, logo depois de as ter praticado, observando se as ofereceu a Deus e as fez com a reta intenção.

MUDANÇA DE VIDA

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ressalta o exame de consciência como um caminho para a conversão do cristão, a quem o apelo de Cristo à mudança de vida continua após ter recebido o Batismo, “principal lugar da primeira e fundamental conversão”.

Na homilia do dia 4 de setembro de 2018, o Papa Francisco recomendou fazer todas as noites o exame de consciência como uma oração, “para averiguar se o que nos moveu durante o dia foi o espírito de Deus ou o espírito do mundo”. É um exercício decisivo na nossa “luta espiritual”, que nos leva “a compreender o coração” e “o sentido de Cristo”.

O Pontífice recordou, ainda, que “o coração do homem é como um campo de batalha”, no qual se enfrentam continuamente “o espírito de Deus, que nos leva às obras boas, à caridade, à fraternidade”, e “o espírito do mundo”, que, ao contrário, “nos leva à vaidade, ao orgulho, à suficiência, ao mexerico”.

LUTA INTERIOR

Francisco sugeriu, ainda, que uma boa prece a ser feita todas as noites, an- tes de ir para a cama, é se questionar: “Qual espírito segui hoje? O espírito de Deus ou o espírito do mundo?”

“Sentir no coração o que aconteceu nesta guerra interior, e como me defendi do espírito do mundo que me conduz à vaidade, às coisas reles, aos vícios, à soberba, a tudo isto”, acrescentou o Santo Padre, orientando, em seguida, a perguntar-se: “Como me defendi das tentações concretas?” e, assim, identificar tais tentações.

Por fim, o Papa advertiu: “Se não fizermos isto, se não soubermos o que acontece no nosso coração — e não digo eu, mas a Bíblia —, seremos como os “animais que nada compreendem”, vão em frente com o instinto”.

CONHECER A SI MESMO

São Clemente de Alexandria dizia: “Parece, pois, que o mais importante de todos os conhecimentos é o conhecimento de si próprio, pois, quando alguém conhece a si próprio, ele há de chegar ao conhecimento de Deus”.

Desse modo, conhecer-se é necessário para dominar-se. O conhecimento de seus defeitos e fraquezas dominantes, bem como das virtudes mais praticadas, auxilia no progresso na prática das virtudes, no triunfo sobre as más inclinações e no amor a Deus.

Assim, o exame de consciência, antes de ser uma recordação das faltas cometidas, é uma maneira de o cristão indagar a si mesmo acerca das razões que o levaram a cometê-las, e buscar, com a ajuda de Deus, as motivações e instrumentos necessários para vencê-las, fortalecendo o autodomínio e a vontade interior.

(Foto: Il Ragazzo/Cathopic)

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