Com mais precaução e fiscalização, avança o combate a criadouros do Aedes aegypti

No 1o trimestre, houve redução de 74% nos casos de dengue no Brasil em relação ao ano passado. Prefeitura de São Paulo afirma não ter havido mortes por esta doença em 2020

Agente de vigilância em saúde da cidade de São Paulo vistoria ambiente onde pode haver criadouros do Aedes aegypti (foto: Secretaria Municipal da Saúde)

“Estrela” do noticiário pelas mortes que provoca anualmente no Brasil, o Aedes aegypti, mosquito transmissor dos vírus causadores da dengue, chikungunya, zika e febre amarela, está com “menor destaque” desde o ano passado, muito em razão das atenções para o combate ao coronavírus.

O mosquito, porém, continua ativo no País e apenas no primeiro trimestre deste ano foram notificados 103,5 mil casos prováveis de dengue no Brasil e 19 mortes, cinco das quais no estado de São Paulo, conforme consta no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, divulgado em março.

O número de casos da doença é bem menor que o de anos anteriores: no comparativo entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021 a queda é de 74,3%. Além disso, não há óbitos confirmados por chikungunya e zika vírus no Brasil este ano.

No estado de São Paulo, o número de casos está sob controle, mas há preocupação com a região litorânea. Apenas na cidade de Santos, de janeiro a março, foram 383 casos de chikungunya e 195 de dengue.

2020 sem mortes por dengue na capital

Na capital paulista, conforme informações da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), houve 2.015 casos de dengue confirmados em 2020 e um de chikungunya. Nenhum dos infectados por essas doenças morreu. Também não se registraram óbitos por zika vírus e febre amarela. Trata-se de um cenário bem diferente do observado em 2019, quando houve 16.966 casos de dengue e três mortes pela doença.

“A Prefeitura tem investido mais em tecnologia. Antes, usávamos muito as máquinas costais, com o agente indo de casa em casa para fazer a aplicação de inseticida. Isso mudou. A Secretaria Municipal da Saúde adquiriu 30 veículos do tipo pick-up, nos quais há uma máquina pulverizadora, com a qual conseguimos pulverizar uma área mais abrangente em menos tempo. A queda no número de casos também deve ser atribuída ao fato de as pessoas terem ficado mais em suas casas no ano passado e cuidarem para que não haja água parada em seus domicílios”, disse ao O SÃO PAULO Wernner Santos Garcia, diretor da Divisão de Vigilância de Zoonoses da SMS.

Garcia enfatiza que durante a pandemia foram mantidas as ações de enfretamento a arboviroses, doenças transmitidas por arbovírus, aqueles que têm parte de seu ciclo de replicação nos artrópodes, como é o caso do mosquito Aedes aegypti, e chegam aos humanos quando são picados.

Hoje, mais de 2 mil agentes de endemias das 28 Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS) além de atuar na cidade para eliminar criadouros dos mosquitos em domicílios e locais públicos, orientam a população, sendo e esta última ação também realizada por agentes comunitários de saúde.

Resistência a visitas

Aedes aegypti (foto: Ministério da Saúde)

Em razão da atual pandemia de COVID-19, os agentes que combatem as endemias atuam de forma a ter o mínimo contato com as pessoas durante as vistorias, mas, nas situações em que a entrada em uma casa é o mais recomendável, tem havido resistências.

“Historicamente, temos uma recusa entre 20% a 22% dos pedidos para vistoriar as casas. Hoje, essa recusa aumentou para 30%, ou seja, as pessoas não deixam que entremos”, afirma Garcia.

Em seu site, a SMS informa que todos os profissionais que atuam nessas visitas usam crachás de identificação e seguem as regras de biossegurança para evitar a disseminação do coronavírus.

“Se virmos uma residência com possível foco de dengue, pedimos ao munícipe para entrar e vistoriar. Nossos agentes estão de máscara, usam álcool em gel e a grande maioria já tomou ao menos a 1a dose da vacina contra a COVID-19. Caso o munícipe não permita que entremos em sua casa, fazemos a orientação com folders para que evitem possível acúmulo de água parada”, detalha Garcia.

“Quando detectamos que o local está com alto potencial de risco à dengue, é chamado um biólogo ou veterinário para vistoriá-lo. Se constatado o risco, a pessoa é autuada e tem até dez dias úteis para uma resposta ou fazer as ações recomendadas; do contrário, pode receber uma multa”, complementa o diretor da Divisão de Vigilância de Zoonoses da SMS.

Qualquer pessoa pode denunciar criadouros de mosquitos, seja pelo telefone 156, seja pelo site https://sp156.prefeitura.sp.gov.br. Há a possibilidade de anonimato do denunciante, mas deve haver detalhamento sobre o endereço, o tipo de imóvel e o criadouro encontrado.

Cuidados com os recicláveis

Os possíveis criadouros de larvas do mosquito Aedes aegypti já são bem conhecidos: vasos de plantas, garrafas, pratos e qualquer outro objeto que possa acumular água parada (veja mais detalhes abaixo)

Com a maior permanência das pessoas em casa, a fim de conter a disseminação da COVID-19, deve haver redobrados cuidados em relação ao descarte de recicláveis. “Até uma tampinha de garrafa pode ser suficiente para a multiplicação do mosquito”, alerta Garcia.

O diretor da Divisão de Vigilância de Zoonoses da SMS explica o potencial destrutivo dos criadouros para toda uma comunidade.

“Apenas as fêmeas do mosquito sugam o sangue das pessoas para maturar os seus ovos. Em um raio de 150 metros, a fêmea do Aedes aegypti procura potenciais criadouros e neles bota ovos. Se ela encontra a condição ideal, ou seja, água parada e umidade, este ovo se transforma em uma larva, depois em uma espécie de casulo e, por fim, em mosquito. Em condições ideais, todo esse processo de metamorfose pode durar de quatro a sete dias”. Em síntese, se um descartável que possa acumular água não for devidamente armazenado, haverá tempo para que se transforme em um criadouro.  

Garcia lembra ainda que calhas e ralos que podem acumular água deve ser vistoriados pelos moradores com mais frequência durante a primavera e o verão, por serem os períodos mais chuvosos do ano.

‘Será que é dengue ou COVID?’

Mal-estar, febre, dor de cabeça e dores no corpo: esses são sintomas comuns de quem está com dengue, chikungunya e zika vírus. E também são relatados por aqueles com a COVID-19. Como saber se a infecção é por uma arbovirose ou pelo coronavírus?

 “A principal diferença está na questão respiratória. A falta de ar é um diferencial para o sintoma de COVID-19. A pessoa começa a perder o fôlego, sente falta de ar e deve buscar o serviço de saúde o quanto antes”, comenta Garcia.

Havendo agravamento dos outros sintomas sem que haja complicações respiratórias, a orientação é que a pessoa procure a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima de sua casa, onde poderá fazer o teste rápido para saber se está ou não com dengue.

Garcia assegura, ainda, que nas UBSs o cidadão pode requisitar de forma gratuita telas de proteção para caixa da água, a fim de que aquelas que estejam destampadas não se tornem criadouros do mosquito. Esse mesmo pedido pode ser feitos nas Unidades de Vigilância em Saúde.

10 DICAS PARA EVITAR CRIADOUROS DO AEDES AEGYPTI

1) Não acumule materiais descartáveis desnecessários e sem uso;
2) Descartáveis que forem destinados à reciclagem, devem ser guardados em local coberto e abrigado da chuva;
3) Quando a piscina não estiver em uso, esvazie-a completamente;
4) Se tiver lagos, cascatas ou espelhos d’água em casa, mantenha-os limpos ou crie peixes que se alimentem de larvas;
5) Verifique sempre se os ralos da área externa de sua casa não estão entupidos;
6) Guarde de cabeça para baixo garrafas, baldes, latas vazias e qualquer outro objeto que possa acumular água;
7) Lave com escova e sabão as vasilhas de água e comida dos animais, uma vez por semana;
8) Retire a água da bandeja externa da geladeira, pelo menos uma vez por semana. Lave a bandeja com sabão;
9) Não deixe acumular água nos bebedouros;
10) Cuide para que os pratos dos vasos de planta não acumulem água.
 
Fontes: Ministério da Saúde e Prefeitura de São Vicente
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