Conheça o maestro brasileiro à frente da Capela Musical do Papa

Monsenhor Marcos Pavan, Maestro Diretor da Capela Pontifícia

Criada no século XV, a Pontifícia Capela Musical Sistina, coro responsável pela música nas celebrações do Vaticano, tem, pela primeira vez, um brasileiro em seu comando.

Paulistano, Monsenhor Marcos Pavan, 58, foi nomeado Maestro Diretor da Capela Pontifícia pelo Papa Francisco, em 22 de novembro, memória de Santa Cecília, padroeira dos músicos.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, concedida por telefone, Monsenhor Pavan falou a respeito da nova missão e do trabalho que realiza no Vaticano há duas décadas.

Origem

Nascido no bairro da Consolação, na região central da capital paulista, Pavan percebia a vocação para o sacerdócio desde a infância, assim como descobriu o dom para a música. “Na escola que eu frequentava, no primário, havia aulas de Música. Com 7 anos, eu já cantava em coral e, logo depois, comecei a estudar piano”, relatou.

Quando concluiu o ensino médio, seu pai o orientou que fizesse uma faculdade antes de seguir a vida consagrada. “Por isso, decidi fazer o curso de Direito, na Universidade de São Paulo”, contou.

Depois de se formar em Direito, em 1985, o jovem advogado decidiu viver uma experiência religiosa com os monges beneditinos no Paraná. Após um ano, ele discerniu que sua vocação não era a vida monástica e, por isso, deixou o mosteiro.

Vocação

Durante os quatro anos seguintes, Monsenhor Pavan trabalhou profissionalmente no campo da música. Além de piano, ele já possuía conhecimento em teoria musical, técnica vocal, canto gregoriano e direção de coral. Nesse período, foi cantor de ópera e fez parte do coral lírico do Theatro Municipal de São Paulo.

“No entanto, o desejo de responder à vocação continuava. Foi quando eu conheci Dom Emílio Pignoli, então Bispo da Diocese de Campo Limpo, que propôs que eu realizasse minha formação para o sacerdócio em Roma, pois lhe havia sido oferecida uma bolsa de estudos”, lembrou.

Monsenhor Pavan formou-se em Filosofia no Centro de Estudos Superiores dos Legionários de Cristo e em Teologia na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino. Foi ordenado em 29 de julho de 1996, na Paróquia São Pedro e São Paulo, na Diocese de Campo Limpo.

Capela musical

Logo após a ordenação, Monsenhor Pavan retornou a Roma para fazer o mestrado em Direito Canônico. Quando estava concluindo os estudos e se preparando para retornar ao Brasil, em 1998, foi convidado para ser o maestro dos Pueri Cantores, o grupo de crianças da Capela Sistina.

“A ideia era que eu exercesse essa função pelo menos até o Jubileu do ano 2000, até porque meu Bispo me esperava para realizar meu trabalho na diocese. Passou, porém, o Ano Santo e pediram que eu continuasse mais um tempo, até conseguirem um substituto, e aqui estou há 23 anos”, contou.

Desde julho de 2019, exercia interinamente o ofício de Mestre da Capela Musical até ser confirmado pelo Pontífice. “Acolhi essa missão com surpresa, pois, mesmo que já estivesse exercendo o cargo interinamente, não imaginava que seria confirmado para continuar. Ao mesmo tempo, acolhi com serenidade, buscando ver a vontade de Deus se manifestando por meio da escolha do Santo Padre.”

Pontifícia Capela Musical Sistina é composta por 50 cantores, sendo 20 adultos e 30 crianças

Tempo de graças

Nessas duas décadas de serviço ao Vaticano, além das celebrações do grande Jubileu, Monsenhor Pavan testemunhou o funeral de São João Paulo II, dois conclaves e muitos outros eventos históricos no coração da Igreja Católica. “Tem sido uma grande graça viver esses momentos marcantes aqui. Mas isso não quer dizer que foi sempre tudo fácil. Houve dificuldades, senti e ainda sinto muita saudade da minha família e dos meus amigos. Por outro lado, eu sempre busquei compreender o sentido da minha missão aqui.”

Além da música A Capela Musical Pontifícia possui uma escola de formação integral para as crianças que cantam no coro, mantida pelo Vaticano, que oferece bolsa de estudos a esses integrantes. Lá, estudam crianças de 8 a 13 anos, que recebem toda a formação educacional e musical.

A rotina de estudos dos alunos começa às 8h e termina às 17h. Todos os dias, há ensaios musicais de manhã e à tarde. Ao todo, estão matriculadas na escola 60 crianças, sendo que 30 delas já cantam no coro e as demais se preparam para integrar a Capela Musical ou são aquelas que deixam o coro após a mudança de voz, mas permanecem na escola até concluírem o ciclo de estudos.

Monsenhor Pavan é responsável pelo ensino religioso das crianças, além de trabalhar na formação musical e seleção dos integrantes do coro. “Acompanhei inúmeras crianças e seus familiares, preparei-as para a primeira Comunhão e para a Crisma. Muitas delas hoje já estão casadas e com filhos. Desse modo, eu vejo os frutos desses anos de serviço à Igreja”, disse.

À tarde, o Sacerdote conduz os ensaios com os cantores adultos, constituídos por 20 cantores profissionais, remunerados e com dedicação exclusiva. A maioria dos integrantes é de italianos, mas há alguns músicos de outras nacionalidades.

Patrimônio da Igreja

Desde 17 de janeiro, a Capela Musical integra o Serviço das Celebrações Litúrgicas papais, após um motu proprio de Francisco. Na ocasião, o Pontífice ressaltou que, “desde sua antiga fundação”, o coro da Capela Sistina tem brilhado na história “como um lugar de alta expressão artística e litúrgica a serviço das solenes celebrações dos papas”.

O Santo Padre explicou, ainda, que a decisão foi tomada em acordo com as indicações do Concílio Vaticano II com relação à Sagrada Liturgia, “em vista do decoro da celebração litúrgica”, considerando as escolas de cantores e capelas musicais, “um verdadeiro ministério litúrgico” a ser exercido “com autêntica piedade do modo que convém a tão grande ministério e que o povo de Deus tem o direito de exigir”.

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