Sacerdotes e fiéis têm feito maior uso das ferramentas digitais para missas e momentos de evangelização; emissoras de inspiração católica registram aumento de audiência
Com o isolamento social, apontado por especialistas como a principal medida para evitar a proliferação do novo coronavírus, os católicos passaram a acompanhar as missas e momentos de oração pelos meios de comunicação e redes sociais.
“Em decorrência das circunstâncias atuais, redescobrimos algo importante, que andava bastante esquecido: a Igreja nas casas, a Igreja-família. E essa Igreja está viva e continua operante! Os ministros da Igreja procuram, da forma como podem, dar assistência, alimento e apoio a essas Igrejas domésticas. Muitas celebrações, instruções e orientações são oferecidas ao povo pelos padres, a seus paroquianos, por meio das mídias e dos demais meios de comunicação. Nossa Igreja, agora, ampliou sua presença e ação no espaço virtual”, escreveu o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, na coluna “Encontro com o Pastor”, publicada na edição de 1º de abril do O SÃO PAULO.
OPORTUNIDADE DE EVANGELIZAR
Para muitos sacerdotes, transmitir a Palavra de Deus pelas mídias também se tornou uma novidade. Padre Rodrigo Felipe da Silva, da Paróquia Santa Cristina, na Região Episcopal Ipiranga, por exemplo, precisou se adaptar às novas tecnologias, e enfrentou algumas dificuldades no início.
“Neste período, o padre também é aquele que precisa aprender a mexer com tecnologia, saber sobre internet e todo o ambiente, senão a transmissão da Palavra de Deus não acontece com eficácia. Creio que a grande preocupação minha e de boa parte dos presbíteros é fazer com que a Palavra seja transmitida e anunciada também com a qualidade de áudio e imagem”, disse ao O SÃO PAULO.
Segundo o Padre Rodrigo, tem havido intensa participação on-line nas missas de sétimo dia. Ele lembra que, muitas vezes, essa é a única oportunidade de anunciar Jesus Cristo às famílias que estão distantes da Igreja.
“Quando celebramos uma missa on-line, muitos dos que estão assistindo não participam da Igreja e, por isso, temos que tomar um grande cuidado. Ter esse olhar para quem está participando da missa, mas não se familiariza no seu cotidiano, é uma grande caridade pastoral. É o Bom Pastor que vai atrás de suas ovelhas, mesmo elas estando em casa”, concluiu o Padre.
IGREJA DOMÉSTICA
O atual contexto tem feito com que muitos fiéis valorizem a Igreja doméstica e a vivência da fé em sua casa, em família, sem deixar de estar em comunhão com a comunidade paroquial por meio da internet. Este é o caso do casal Otávio Gonzaga Bellegarde Nunes e Célia Marcial Ferreira Nunes, da Paróquia Santa Generosa, na Região Episcopal Sé, e integrantes do Movimento Comunhão e Libertação.
“Percebemos que a Igreja nos abraça em todas as circunstâncias. Este abraço se concretiza pela liturgia, missa, pela reunião com os amigos por meio da internet, pela televisão, pelo telefone, pelas leituras. Tudo no seguimento da Igreja. Os momentos que a Igreja nos proporciona alimentam a vida matrimonial, familiar, profissional e cidadã”, disse Nunes à reportagem.
Segundo ele, a maior dificuldade é a falta da presença física das pessoas, mas as atividades pastorais não foram interrompidas, apenas adaptadas. Ele destacou que está sendo um tempo de grande aprendizado. “Minha esposa e eu temos lido juntos bons textos, rezamos, fazemos ginástica, cuidamos da casa e um do outro. O resultado disso é disposição para olhar melhor e viver a realidade”, concluiu.
CATEQUESE ON-LINE
Umas das pastorais que tiveram que se reinventar neste período de pandemia foi a da Catequese. Na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no bairro do Planalto Paulista, Região Episcopal Ipiranga, os catequistas estão gravando os encontros por vídeo e disponibilizando nas redes sociais da igreja. Também já foi realizado um Terço on-line com a participação das famílias.
“Está sendo desafiador, pois tivemos que reinventar os encontros com ferramentas digitais antes não utilizadas. Também tivemos que ter mais criatividade para motivar a participação e dar continuidade à evangelização”, relatou Claudia Maria Almeida do Carmo, coordenadora da Pastoral da Catequese Infantil.
O objetivo da iniciativa é, por meio dos encontros on-line, fazer com que os catequistas mantenham a proximidade com os catequizandos e familiares. Segundo a coordenadora, é “um momento de muita modificação na rotina das famílias, com as crianças estudando virtualmente e os pais trabalhando em casa, e isso é um grande desafio para todos”.
AUMENTO DE AUDIÊNCIA
Um indicador de que os fiéis não abandonaram a sua fé neste momento de pandemia é o aumento nas audiências das redes de televisão de inspiração católica. O Google Analytics estima que a audiência das emissoras tenha crescido em 300% no meio digital. Com isso, é possível que tenha aumentado consideravelmente os índices diários em pontos onde se mede o Ibope.
Segundo dados da Kantar Ibope Media, A TV Aparecida teve um crescimento de 24% no mês de abril. A emissora católica marcou 0,21% de audiência, ocupando o 7º lugar no ranking das emissoras abertas na Grande São Paulo. Durante a missa do domingo, 17, presidida por Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida (SP), a emissora ocupou o 4º lugar na audiência.
A TV Evangelizar, com sede em Curitiba (PR), mantida pela Associação Evangelizar É Preciso, do Padre Reginaldo Manzotti, manteve o crescimento dos meses anteriores. Em relação a março, o amento foi de 19%. O acumulado nos meses de março e abril soma 147%. As missas tiveram um crescimento médio de 20%, e os programas de jornalismo um aumento de 30%.
A TV Canção Nova e a Rede Vida de Televisão também informaram aumento nos índices de audiência em abril e nas interações com os espectadores pelas redes sociais.
