Marta, Maria e Lázaro: os irmãos que sempre acolheram e confiaram em Jesus

Santos ganharam um dia litúrgico próprio e passarão a ser celebrados conjuntamente em 29 de julho

‘A ressurreição de Lázaro’, pintura de Giotto di Bondone (1267 – 1337)

Os santos amigos de Jesus, Marta, Maria e Lázaro, ganharam um dia litúrgico próprio e passarão a ser celebrados conjuntamente em 29 de julho, conforme decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início deste mês. Com isso, os irmãos da cidade de Betânia foram incluídos no Calendário Romano.

O documento, assinado pelo Cardeal Robert Sarah e por Dom Arturo Roche, respectivamente, Prefeito e Secretário da Congregação, estabelece que esta memória constará em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da Liturgia das Horas, cabendo às conferências episcopais, com aprovação vaticana, traduzir as variações e acréscimos nos devidos textos litúrgicos.

“Na casa de Betânia, o Senhor Jesus experimentou o espírito de família e a amizade de Marta, de Maria e de Lázaro. Por isso, o Evangelho de São João afirma que Ele os amava. Marta ofereceu-Lhe generosamente hospitalidade, Maria ouviu atentamente as suas palavras e Lázaro saiu de imediato do sepulcro a convite Daquele que aniquilou a morte”, diz o decreto.

Os irmãos de Betânia

O texto também recorda que, durante séculos, perdurou a incerteza quanto à identidade dessa Maria, pois o nome é comum a outras mulheres mencionadas nos Evangelhos. Foi por essa razão que somente Santa Marta havia sido inscrita no Calendário Romano em 29 de julho.

O Papa Francisco decidiu inscrever a memória dos santos Marta, Maria e Lázaro no Calendário Romano por considerar de grande importância o “testemunho evangélico dos três irmãos, que ofereceram ao Senhor Jesus a hospitalidade da sua casa, prestando-lhe uma atenção dedicada e acreditando que Ele é a ressurreição e a vida”.

Marta no Evangelho aparece em apenas três episódios (cf. Lc 10,38- 42; Jo 11,1-44; Jo 12,1-11). É uma mulher dinâmica, que sempre se dedicou a acolher Jesus. Maria também aparece três vezes em cena, nos Evangelhos (cf. Lc 10; Jo 11; Mt 26). É a mulher atenta e contemplativa, que dá mais atenção ao Senhor do que às “coisas do Senhor”. Lázaro, grande amigo de Jesus, que O fez chorar com sua morte, aparece no Evangelho de João (11,1-14; 12,1- 2), que relata a passagem em que é ressuscitado.

Nos ensinamentos de Francisco

As reflexões do Papa Francisco sobre estes três santos irmãos são numerosas. No primeiro ano do seu pontificado, no Angelus de 21 de julho de 2013, citando o episódio narrado pelo evangelista Lucas da visita de Jesus aos amigos Marta, Maria e Lázaro, o Pontífice recordou que, enquanto “Maria, aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra”, “Marta estava empenhada em muitos serviços”.

E disse que “ambas ofereceram hospitalidade ao Senhor de passagem, mas o fizeram de maneira diferente: Maria ouvia (…), enquanto Marta se deixava absorver pelo que devia ser preparado, e assim, ocupada, ela se virou para Jesus dizendo: ‘Senhor, não se importa que minha irmã me deixou sozinha para servir? Então, diga a ela para me ajudar’”.

Francisco explicou então que a carinhosa reprimenda de Jesus – “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas, mas só uma … é o que falta” – destaca que a mulher estava demasiado absorta e preocupada com o que fazer. O Papa, porém, não define como opostas as atitudes das irmãs, e lembra que tais posturas “nunca devem ser separadas, mas devem ser vividas em profunda unidade e harmonia”, a ponto de que “no cristão, as obras de serviço e da caridade nunca se separam da fonte principal”, isto é, “ouvindo a Palavra do Senhor, estando – como Maria – aos pés de Jesus”.

Por isso, o Papa assinalou na ocasião que “uma oração que não conduza a uma ação concreta para com o irmão pobre, enfermo ou desamparado” é uma oração estéril e incompleta. Da mesma forma, “quando no serviço eclesial tu estás atento apenas ao fazer, dás mais peso às coisas, às funções, às estruturas, e esqueces a centralidade de Cristo, não reservas tempo para o diálogo com Ele na oração, corres o risco de servir-te a ti mesmo e não a Deus presente no irmão necessitado”

A ressurreição de Lázaro

No 5º Domingo da Quaresma de 2014, em 6 de abril, Francisco comentou a ressurreição de Lázaro e sua saída do túmulo ao grito de Jesus: “Lázaro, sai!”. De acordo com o Papa, “este grito peremptório se dirige a cada homem, porque todos estamos marcados pela morte”.

Por outro lado, em 5 de novembro de 2020, na homilia da missa pelo sufrágio de cardeais e bispos falecidos, em que o Evangelho narrava o episódio da ressurreição de Lázaro, Francisco voltou a enaltecer a fé de Marta, ao recordar que, mesmo diante do irmão morto e enterrado, ela acredita firmemente que Jesus pode fazer tudo.

“‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; quem vive e crê em mim não morrerá para sempre’, diz-lhe Jesus. E ‘a grande luz destas palavras prevalece sobre a escuridão do luto grave causado pela morte’ de seu irmão”, disse o Papa.

Marta aceita tudo e declara com firme profissão de fé: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que vem ao mundo”. As palavras de Jesus, concluiu o Santo Padre, “transferem a esperança de Marta do futuro distante para o presente: a ressurreição já está perto dela, presente na pessoa de Cristo”.

(Com informações de Vatican News e Aleteia) (Texto escrito sob a supervisão de Daniel Gomes)

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários