Na retomada das missas presenciais, paróquias contam com maior engajamento dos fiéis

Adaptações e aprendizado das fases mais restritivas da pandemia marcam a ação pastoral das igrejas em diferentes regiões episcopais

Com limitada quantidade de fiéis, missa acontece na Paróquia Divino Espírito Santo, no Jardim Sapopemba, na Região Episcopal Belém

Mais horários de missas, novas modalidades de eventos e a realização de momentos de evangelização on-line são algumas das mudanças que as paróquias da Arquidiocese de São Paulo fizeram desde o começo da pandemia para manter suas atividades regulares e estar próximas pastoralmente dos fiéis.

Com a retomada das missas presenciais em 18 de abril – um mês após serem suspensas para evitar a proliferação do novo coronavírus –, as comunidades paroquiais precisaram reestruturar as equipes de acolhida e de higienização, organizar os espaços para que os templos comportem, neste momento, até 25% de sua capacidade e, em alguns casos, aumentar o número de celebrações para que mais fiéis possam participar.

Mais missas e novos horários

Na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, na Vila Guilherme, Região Santana, houve o acréscimo de uma missa aos domingos, às 16h. A finalidade foi a de “evitar aglomeração e possibilitar, sobretudo aos idosos, um horário em que possam frequentar, com o retorno a suas casas ainda com o dia claro”, contou à reportagem o Padre Edson José do Sacramento, CSSp, Administrador Paroquial.

O Sacerdote lembrou que, para a mudança, a Paróquia precisou organizar melhor os grupos de canto, liturgia e dos ministros extraordinários, uma vez que há número reduzido de agentes e acontecem outras missas dominicais às 11h e às 18h, e uma às 9h30 na Capela São José, além de outras durante a semana e aos sábados.

Também na Paróquia Divino Espírito Santo, no Jardim Sapopemba, na Região Belém, houve o acréscimo de sete missas – cinco durante a semana, uma aos domingos e outra na 1a sexta-feira de cada mês.

Na região central da cidade, muitas paróquias também passaram a ofertar mais horários de missas ou ajustaram os já existentes para melhor acolher os fiéis. Na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, na Região Sé, a última das missas diárias passou das 19h para as 18h30; e uma que ocorria no domingo às 19h foi antecipada para as 18h. As três missas dominicais pela manhã – às 7h30, 9h e 11h – não sofreram mudanças, porém os frades recorrentemente pedem que os fiéis auxiliem na sanitização do ambiente após as celebrações, a fim de que tudo esteja higienizado para a missa seguinte.

“Hoje, percebemos uma mudança de mentalidade. Não é somente um grupo de paroquianos ou uma pastoral que ajuda a higienizar a igreja e controlar o acesso de pessoas: todos estão envolvidos nisso”, ressaltou o Frei Thiago Borges Isidoro, O.Carm, Pároco e Reitor da Basílica.

Em outras paróquias, como a Santa Paulina, em Heliópolis, na Região Ipiranga, e a Nossa Senhora de Lourdes, na Vila Hamburguesa, na Região Lapa, grupos de paroquianos têm auxiliado na acolhida dos fiéis e na higienização dos templos.

“Mobilizamos os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão que já se sentem confortáveis para retornar às missas, para que façam a aferição de temperatura dos fiéis na igreja, orientem quanto ao uso de máscara e do álcool em gel, que é disponibilizado na entrada”, contou o Frei Marcus Vinicius Dorrigo Leite, OAR, Pároco da Nossa Senhora de Lourdes.

Proximidade pastoral

Frei Thiago, da Basílica do Carmo, afirma perceber certo receio das pessoas em retornar às missas. Similar impressão tem o Padre Israel Mendes, Pároco da Santa Paulina, em Heliópolis. “Temos tido o máximo cuidado para que em nenhum momento aconteça o contágio das pessoas. Sempre estamos atentos ao distanciamento no templo, até afastamos mais os bancos. Mesmo com todos esses cuidados, porém, houve uma queda na participação presencial do povo”, revelou.

Os que procuraram os templos ao longo desta pandemia sempre encontraram acolhida pastoral. Na Basílica do Carmo, por exemplo, desde o período em que os fiéis não podiam ir às missas, o Santíssimo tem permanecido exposto todas as tardes e os frades estavam disponíveis para atender confissões.

Divulgação da Basílica do Carmo, na Região Sé

Na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, nas celebrações de São José e de Nossa Senhora da Anunciação, os paroquianos acompanharam as missas on-line. “Em ambas as festas, porém, tivemos as igrejas abertas e a exposição do Santíssimo Sacramento para adoração dos fiéis. Também mantivemos o atendimento presencial para o aconselhamento espiritual e confissões”, recordou o Padre Edson José.

Na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, os paroquianos puderam, por meio do WhatsApp, agendar confissões e bênçãos. “Nas celebrações de 7o dia, permitia-se a participação de um ou dois familiares da pessoa falecida, para dar-lhes conforto e alento”, recordou o Frei Marcus Vinicius.

Localizada em uma das comunidades mais carentes de São Paulo, a Paróquia Santa Paulina não fechou as portas. “Estamos em um bairro em que, infelizmente, o ‘pancadão’ nunca parou, os bares não fecharam, as bagunças e aglomerações na rua não acabaram. Assim, não me senti com a consciência tranquila em fechar a igreja em um momento tão difícil. Não deixei de ir a velórios, visitei os doentes – seja nos hospitais, quando se conseguia a liberação, seja nas casas; também levamos a Comunhão aos que estavam enfermos nas casas”, mencionou o Padre Israel Mendes.

Na Paróquia Divino Espírito Santo, também na periferia de São Paulo, os Padres João Batista Dinamarques, Pároco, e Carlos Roberto Fróes, Vigário Paroquial, têm mantido contato frequente, via WhatsApp, com os paroquianos. Além disso, são feitos “acompanhamentos individuais às pessoas com crise por causa da pandemia e grupos orientativos, de acordo com as situações”.

Com a ajuda da tecnologia

Padre Orisvaldo conduz o Terço pelas redes sociais da Paróquia Cristo Rei, na Região Episcopal Brasilândia

Na maioria das paróquias, as redes sociais são utilizadas não apenas para a transmissão das missas, mas, também, para momentos formativos e de oração em comunidade.

Desde o começo da pandemia, os fiéis da Paróquia Cristo Rei, na Região Brasilândia, organizam momentos de oração on-line, prática que foi potencializada com a chegada do Padre Orisvaldo Carvalho, Administrador Paroquial. “Eu me dispus a fazer Terços on-line com os paroquianos e com pessoas que conhecia de outros lugares. É uma dinâmica para que as pessoas não se ausentem da comunidade e ainda possam contar com a presença do padre”, comentou.

Terço da Divina Misericórdia realizado nas casas e transmitido no Facebook da Paróquia Santa Paulina, na Região Ipiranga

Com a volta das restrições para as missas presenciais, em março, o Sacerdote estruturou uma programação on-line, que incluiu a reza das Sete Dores de Nossa Senhora e do Ofício das Trevas. Também pelas redes sociais, ele transmitiu a celebração penitencial para que as pessoas se preparassem para receber o sacramento da Confissão nas semanas anteriores à Páscoa.

“Eu mesmo montava o ambiente, fazia a transmissão, controlava o computador e tinha um outro celular com o qual interagia com as pessoas que estavam me acompanhando. No Terço, por exemplo, eu consigo dizer por quem as pessoas estão rezando, quais são seus pedidos”, detalhou.

Agregar as famílias para a partilha da fé também tem sido uma prática na Paróquia Santa Paulina. “Todos os dias, mantemos dois momentos oracionais: às 15h, com o Terço da Divina Misericórdia, e, às 20h30, o Rosário. Graças a Deus, há sempre boa participação do povo nas transmissões”, contou o Padre Israel, recordando, ainda, a realização da Semana da Misericórdia, em abril, quando houve reza diária do Rosário pelo fim da pandemia, diante do Santíssimo Sacramento.

Já na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, a tecnologia tem sido uma aliada para as reuniões de diferentes grupos pastorais. “A Pastoral da Catequese, seja na matriz, seja na Capela São José, organizou encontros virtuais. Também o grupo de oração e o grupo de jovens rezaram virtualmente, ao longo do ano passado, o Terço da Misericórdia, para animar os membros e suas famílias”, afirmou o Padre Edson José.

Sustentabilidade financeira

Os padres ouvidos pela reportagem do O SÃO PAULO relataram reduções na entrada de coletas das missas e do dízimo, mas não a ponto de prejudicar a manutenção das atividades das paróquias.

“Houve uma queda nas arrecadações, mas me chamou a atenção o fato de vários irmãos entregarem, ao longo das semanas, a doação que fariam no momento do ofertório, e com a impossibilidade de participarem presencialmente das celebrações, traziam sua oferta na secretaria paroquial”, recordou o Padre Edson José, da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação.

Padre Orisvaldo, da Paróquia Cristo Rei, também relata que, mesmo sem ir às missas, os fiéis continuam a contribuir com a igreja. “Eu tenho feito campanhas e falado sobre o dízimo e a coleta. Insisto com os paroquianos que precisamos da colaboração da comunidade. E nesse ponto, nunca me senti abandonado”, relatou.

Para o Frei Thiago, hoje os fiéis da Basílica do Carmo têm maior consciência do papel que exercem para a manutenção das atividades de evangelização em tempos em que há gastos adicionais para manter as igrejas abertas. “Muitos, quando vêm doar uma cesta básica para as famílias carentes, também trazem [um frasco de] álcool em gel para uso da Paróquia”, exemplificou.

A adesão às atividades que ajudam a complementar as receitas da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Região Lapa, é um aspecto destacado pelo Frei Marcus Vinicius.

Frei Marcus Vinicius durante sorteio on-line promovido pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Região Episcopal Lapa

“Tivemos a ideia de fazer um drive-thru aproveitando as festividades dos santos mais populares para vendermos roscas trançadas de Santa Rita – já tradicional e sempre por volta do dia 22 de cada mês; além de leilões virtuais com prendas doadas por paroquianos. Foi uma iniciativa da própria comunidade, que abraçou com empenho esse trabalho e trouxe enorme benefício”, comentou. “No próprio drive-thru, criamos o chamado ‘box da bênção’: os carros param e o Frei dá uma bênção especial aos que estão no veículo, que também recebem uma palavra de conforto, havendo um breve diálogo”, detalhou.

Portas abertas para a caridade

Nessas seis paróquias consultadas, assim como nas demais da Arquidiocese, há outro ponto em comum: a adesão dos fiéis às iniciativas de arrecadação de alimentos e outros itens para as pessoas mais afetadas economicamente na atual pandemia.

Na Basílica do Carmo, por exemplo, as doações foram mantidas e são indispensáveis para o oferecimento de cestas básicas a mais de 150 famílias. Igualmente na Santa Paulina, com doações de roupas, remédios e até de alimentos para dietas específicas, além de atenção especial para o fornecimento de refeições prontas à população em situação de rua.

Na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, um momento especial de arrecadação ocorreu em abril. “Foi a Carreata da Solidariedade, que realizamos no Domingo de Páscoa, com o Santíssimo, arrecadando alimentos para ajudarmos paróquias de nossa Região Episcopal. Foi lindo ver a manifestação de fé do povo que fomos encontrando, bem como a expressão de solidariedade: arrecadamos mais de uma tonelada”, recordou o Padre Edson José.

Carreata da Solidariedade é realizada no Domingo de Páscoa pela Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, na Região Santana

Na Paróquia Divino Espírito Santo, no Jardim Sapopemba, foi criada a campanha “A fome tem pressa”, para a arrecadação e distribuição de cestas básicas com alimentos e itens de  higiene às famílias carentes.

“No primeiro momento, contávamos muito com a ajuda governamental. Esta se extinguiu. As iniciativas pessoais, grupais e comunitárias vêm tentando suprir o mínimo das carências. Precisamos urgentemente de cestas básicas”, relatam os Padres João Batista e Carlos Roberto, que são responsáveis pela igreja matriz e quatro comunidades. Anteriormente eram nove, mas houve a criação da Área Pastoral São João Paulo II, com o desmembramento de cinco delas. Interessados em colaborar com a iniciativa podem entrar em contato com a secretaria paroquial, pelo telefone (11) 2705-7612.

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