Presépio nas casas: ‘suave e exigente processo de transmissão da fé’

O SÃO PAULO mostra como essa tradição se mantém viva nas famílias brasileiras e proporciona um momento catequético entre gerações

por DANIEL GOMES e JENNIFFER SILVA

Foto: Arquivo pessoal

Montar o presépio em casa “estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”, escreve o Papa Francisco, na carta apostólica Admirabile signum (Admirável sinal – AS), de 2019.

Francisco aponta que “o presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria” (AS,10).

Este ano, a Comissão Nacional da Pastoral Familiar realiza a campanha “Minha família acolhe o Menino Jesus”, mediante a qual estimula que as famílias montem o presépio e compartilhem nas redes sociais fotos e vídeos do ambiente preparado, usando a hashtag #presepioemcasa.

O SÃO PAULO apresenta a seguir como duas famílias fizeram da montagem do presépio um momento também catequético em preparação para o Natal deste ano.

O presépio da vovó

Após o almoço de domingo, Ana Filomena Silveira Faleiros Garcia, 61, e o esposo, Luiz Fernando, 63, reuniram os cinco netos, as duas filhas e os genros para manter viva uma tradição: a montagem do presépio, ou melhor, dos presépios, oito ao todo, sem contar aqueles que a vovó não desmonta nunca.

A cena daquele 29 de novembro, o primeiro dia do Advento, fez Ana Filomena recordar a própria infância, pois sua avó paterna deixava ao lado do presépio um pires, para arrecadar doações que eram revertidas em favor de pessoas em situação de rua.

Na lembrança também estava sua avó materna, de quem ganhou o presépio que montou naquele dia, com a especial ajuda dos netos mais velhos, Lamis, 7, e Joaquim, 5. A cada peça colocada, um pequeno diálogo sobre a fé. “Eu perguntei para a Lamis: ‘Você sabe quem são eles?’; ‘Eu sei! Esta é Maria, aquele é Jesus’. O pai dela é egípcio, de família muçulmana, e no começo do ano eles lá estiveram. Então, perguntei: ‘E o que aconteceu com essa família depois?’; ‘Foram para o Egito’, ela respondeu. Sempre aproveito o que já sabem para pontuar coisas que servem para a evangelização”, recordou Ana Filomena.  

Os mais novos, Vicente, 3, Laila, 3, e Matias, 1 ano e 6 meses, puderam manusear um presépio de brinquedo. “Ficaram no monta e desmonta, mas já é um primeiro contato. O presépio para as crianças ainda é uma questão muito lúdica, e eles entendem esse colorido que o Natal traz como algo de partilha”, afirmou a avó, que integra a Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Paulo.

Para ela, montar o presépio em casa neste ano de pandemia tem o especial sentido de manter a confiança em Deus nas adversidades, assim como foi com Maria e José quando do nascimento de Jesus. “José fez o melhor que podia para o cuidado com Maria, e ela, no seu silêncio, também fez o melhor. Neste ano de pandemia, é isso que precisamos aprender com o presépio: agir sem desespero e com a certeza que tudo concorre para o melhor, pois Deus é o centro da nossa vida”, concluiu. (DG)

Quantos dias faltam para Jesus nascer?

Felipe (com o bebê Augusto) e Thaís explicam ao filho mais velho, Bernardo, o sentido do Natal (foto: Arquivo pessoal)

As peças estavam espalhadas pela casa e o objetivo era reunir todos os itens para formar a imagem da representação do nascimento de Jesus. A missão, contudo, não poderia ser finalizada, pois faltava o personagem principal da história: o bebê ainda não havia sido encontrado e colocado na manjedoura. A mãe, então, explicou que o dono da festa só chegaria no dia de seu nascimento, em 25 de dezembro.

O relato de Thaís Fernandes, 30, evidencia a ansiedade de seu filho, Bernardo, 3 anos, para a chegada da noite de Natal, momento aguardado por toda a família ao longo deste tempo do Advento.

Ela e o esposo, Felipe Rodrigues, que também são pais de Augusto, 4 meses, decidiram usar a criatividade para vivenciar com toda a família este período de preparação. Moradores de Brasília (DF), os pais utilizam-se de brincadeiras, artesanatos e contação de histórias para ensinar ao filho mais velho sobre a vida de Jesus, do nascimento à ressurreição.

Juntos, além do presépio, eles montam a árvore de Natal, iluminam a casa, confeccionam cartinhas para os avós e acompanham um calendário numérico com os dias do Advento e conteúdos sobre cada data específica: “Em tudo, envolvemos explicações sobre a passagem bíblica e a simbologia do que estamos fazendo”, contou Thaís.

A experiência, segundo ela, tem sido um momento de aprendizagem sobre o real sentido da data e uma oportunidade de dialogar com o filho sobre valores como solidariedade, paciência e generosidade, implícitos na própria história do Natal.

Thaís acredita que o principal objetivo das atividades foi alcançado justamente no momento em que Bernardo sentiu a ausência do Menino Jesus na manjedoura. “Eu achei bonito essa espera e emocionei-me ao perceber que para ele o Natal significa Jesus. Todo dia, o Bernardo acorda perguntando sobre os dias que faltam para Jesus nascer”, afirma a mãe. (JS)

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