Santa Hildegarda: testemunha da fé e promotora cultural no século XII

Ela é uma das quatro doutoras da Igreja

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Abadessa, compositora e autora de livros de Medicina, Teologia e Filosofia. Essa foi Santa Hildegarda de Bingen, que viveu no século XII, e recentemente foi inscrita no Calendário Geral Romano.

Ela é uma das quatro doutoras da Igreja, assim como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Jesus e Santa Teresinha do Menino Jesus. Para tal reconhecimento, a Igreja sempre considera a importância da doutrina de um santo, ou seja, a notoriedade de seu pensamento e obras; e seu alto grau de santidade, a partir da vida de fé e de seu testemunho.

BIOGRAFIA

Descendente de nobre e riquíssima família alemã, Hildegarda nasceu em 1098, no Castelo de Bockekheim, na região do Reno. Segundo costume da época, aos 8 anos, foi entregue aos cuidados das monjas beneditinas.

Em 1115, emitiu os votos religiosos. Em 1136, após a morte da superiora, tornou-se Abadessa do mosteiro. Fundou, ainda, dois mosteiros na Alemanha: o de Bingen, em 1147; e o de Eibingen, em 1165. Morreu em 1179, no Mosteiro de Bingen. Foi canonizada, em 1584, pelo Papa Gregório XIII, e, em 7 de outubro de 2012, proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI.

PARA ALÉM DOS MUROS DA CLAUSURA

No convento, Hildegarda dedicou-se a cuidar da vida espiritual das religiosas, favorecendo a vida comunitária, a cultura e a liturgia. Para além dos muros, empenhou-se ativamente em avivar a fé cristã e fortalecer a prática religiosa, contribuindo na reforma da Igreja com seus escritos e pregações.

Hildegarda, a pedido de Adriano IV e, depois, de Alexandre III, exerceu uma missão fecunda: viajou, pregou em praças públicas, igrejas e catedrais. Em 1147, o Papa Eugênio III autorizou que ela escrevesse e divulgasse as próprias obras.

Em seus escritos, com uma linguagem poética e simbólica, Hildegarda dedicou-se a expor a revelação divina, expressa em visões místicas que fazem referência aos principais eventos da história da salvação.

Padre Rodrigo Pires Vilela da Silva, doutor em História da Ciência e professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destacou que pelas visões de Hildegarda é possível compreender o Evangelho no contexto da cultura local. “Suas visões confirmam, na prática, a forma de ver o mundo que se fortalece com a prática eclesial do Evangelho”, comentou.

Em 1141, Hildegarda escreveu seu primeiro livro: “Scivias” (“Conhece os caminhos do Senhor”), no qual a Monja registra e comenta detalhadamente suas visões, com alusões à caridade de Cristo, à natureza do universo, ao Reino de Deus, à queda do ser humano e à santificação.

LEGADO CULTURAL

Vivendo em mosteiros, Hildegarda teve acesso a fontes de cultura, por meio de livros, literatura e música.

Ao longo de sua vida, desenvolveu uma abundante atividade literária. Destacou-se nas várias áreas do conhecimento, Medicina e Ciências Naturais, Teologia, Espiritualidade, História, Física, Literatura e, sobretudo, no canto e na música.

Padre Rodrigo, ao falar da inserção e da presença de Hildegarda no campo cultural do seu tempo, destacou que “ela é uma testemunha da cultura que transitava no período e do florescimento cultural do século XII, é uma fonte de documentação para pesquisadores das várias áreas de estudo”.

Imersa no ambiente cultural, Hildegarda consegue compor uma vasta biblioteca enciclopédica de obras. Também participava de debates, dialogava com personalidades de sua época.

Hildegarda escreveu a peça teatral “Ordo virtutum”, uma peça catequética, com o objetivo de formar e instruir as monjas no conhecimento e na cultura, por meio de seus escritos.

Também a ela são creditadas muitas composições, como hinos litúrgicos, antífonas e cantos que foram compilados na obra “Symphonia armoniare caeles- tium revelationarum” (“Sinfonia da har- monia das revelações celestes”).

As canções eram cantadas em seus mosteiros. Para ela, a música era um elemento mediador entre Deus e a humanidade, além de um instrumento na educação e evangelização.

SAÚDE E

Muitas pessoas iam a Bingen em busca de orientação para questões de fé, mas, também, para assuntos da área da Saúde, uma vez que a Monja estudava a natureza e tinha conhecimento sobre propriedades medicinais de plantas.

“Para Hildegarda, a saúde e o estado de graça eram aspectos que andavam juntos: se a pessoa tratasse do corpo e da alma, alcançava a cura e a salvação”, recordou Padre Rodrigo.

No campo da Mística, Hildegarda tornou-se conhecida como alguém que analisava o mundo pela perspectiva divina. “Ela conseguia ver o mundo com o olhar de Deus”, disse o Sacerdote.

SEU PENSAMENTO NA ATUALIDADE

Na opinião de Maria Terezinha Estevam, mestre em História da Ciência e pesquisadora do pensamento medieval, Santa Hildegarda destacou-se com sua capacidade de transitar nas várias áreas do conhecimento: “Sua coragem, ousadia, testemunho de fé, esperança e caridade, além da profundidade em seus escritos, a tornam uma inspiração para todas as mulheres e para a nova evangelização.”

OUÇA ALGUMAS DAS COMPOSIÇÕES DE SANTA HILDEGARDA

O ECCLESIA

SPIRITUS SANCTUS

ANTÍFONA – O ETERNO DEUS

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