Se a casa virou escritório, ajustar o ambiente é fundamental

Falta de adaptações no local de trabalho tem levado a consequências como a perda do sono, dores no pescoço, ombros e costas, além de fadiga ocular, dor de cabeça/enxaqueca, sensação de fadiga, azia e indigestão

Menos tempo despendido no trânsito, maior proximidade da família e aumento de produtividade são algumas das razões que têm feito empresas e empregados continuarem com o regime de teletrabalho, mesmo já havendo a autorização do retorno gradual da maioria das atividades presenciais na cidade de São Paulo.

No entanto, passados cinco meses em que a casa também se tornou, para muitos, o local de trabalho, já há quem sinta os impactos das adaptações que precisaram ser feitas repentinamente.

De acordo com a pesquisa “Impacto na saúde e no bem-estar do trabalho em regime de home office durante a pandemia de SARS-COVID-19”, produzida pelo Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGVSaúde), em parceria com o Institute of Employment Studies, 84,1% das 533 pessoas que responderam ao questionário do estudo indicaram que seus empregadores não realizaram qualquer avaliação de saúde e de segurança na estação de trabalho do ambiente doméstico.

“A grande maioria fez uma transição sem que houvesse uma adaptação da sua casa, de equipamento ou demais materiais de trabalho. As empresas, na maioria, não fizeram uma avaliação ergonômica e as demandas não foram muito planejadas”, afirma, ao O SÃO PAULO, o médico Alberto José Ogata, diretor de comunicação da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), pesquisador associado do FGVSaúde e um dos responsáveis pelo estudo.

Consequências

Os improvisos para prosseguir com o trabalho em casa geraram alguns saldos, conforme as respostas dos entrevistados: perda do sono por se preocupar com as coisas do trabalho (55,6%), dores, de leves a intensas, ou desconforto no pescoço (57,1%), nos ombros (51,9%) e nas costas (58,2%), além de fadiga ocular (55%), dor de cabeça/enxaqueca (53,3%), sensação de fadiga (42,9%) e azia e/ou indigestão (34,6%).

Ogata ressalta que os dados refletem situações como a falta de mobiliário ideal para o trabalho, inadequações de postura corporal, falta de isolamento acústico e iluminação inadequada dos ambientes. “O ideal é que cada empresa ajude seu funcionário a lidar com a situação e não esperar que os problemas sejam diagnosticados nos exames periódicos, nos quais o que aparecerá é a consequência disso tudo”, analisou.

Riscos à produtividade

O médico destaca que as empresas devem ampliar os canais de diálogo com os funcionários para saber das reais demandas, cobrar mais pela qualidade dos serviços e não pela quantidade e respeitar os limites da vida pessoal e profissional. “As pessoas estão com receio de perder o emprego, a instabilidade econômica as obriga a cumprir jornadas mais pesadas e, por isso, muitos na pesquisa relataram questões relacionadas ao sono, fadiga ocular e dor de cabeça, e isso pode afetar a produtividade a médio prazo”, observou.

Um dos pareceres da pesquisa alerta que “as causas mais frequentes de adoecimento e afastamento, como as musculoesqueléticas e as mentais/emocionais, podem se agravar e o retorno ao ambiente de trabalho pode ocorrer com piores condições físicas e emocionais. Torna-se importante oferecer suporte aos trabalhadores, por meio do contato frequente, revisão de metas e do tipo de monitoramento, além de envolver os trabalhadores nas decisões e estabelecimento de prioridades”.

O que fazer na prática?

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) produziu um guia de orientações ergonômicas sobre o home office. Abaixo, veja algumas dicas. A íntegra do conteúdo por ser acessada neste link: https://cutt.ly/Zd1rZbV.

A mesa de trabalho deve ter profundidade suficiente para deixar as pernas livres e confortáveis e uma altura que permita manter braços e cotovelos próximos ao corpo. Organize os itens no espaço de trabalho de maneira que os de uso contínuo estejam  mais próximos a você.

Utilize uma cadeira confortável e que permita manter contato direto dos pés com o chão. Evite dobrar as pernas ou sentar sobre elas enquanto trabalha. Os glúteos devem ficar bem posicionados no centro da cadeira.

Braços e ombros devem estar relaxados e os cotovelos levemente esticados. Evite posturas forçadas com os punhos durante a utilização do teclado e do mouse. A dica é sempre deixá-los alinhados ao antebraço.

O monitor do computador precisa estar a uma distância equivalente à de um braço esticado. Sempre alinhe a tela à altura dos olhos, pois assim não será necessário inclinar o pescoço para cima ou para baixo. A letra do texto deve ser visível sem que seja preciso inclinar o corpo para enxergá-la.

Quanto à iluminação, priorize ambientes com luz natural, mas fique atento aos reflexos no monitor. Para isso, evite sentar-se de costas para a janela. O mesmo vale para a luz artificial, que não deve causar sombras ou ofuscar a vista.

Faça pausas no expediente diante dos sinais de cansaço físico e mental, fadiga visual, falta de atenção ou concentração. Se possível, a cada hora trabalhada ou, no máximo, após 90 minutos ininterruptos de trabalho, descanse entre cinco e dez minutos. Em uma dessas ocasiões, utilize-se de técnicas de alongamento, também recomendáveis para antes do início do expediente e ao seu final.

(Colaborou: Jenniffer Silva)

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