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A Companhia das Obras: ação, carisma e presença 

Associação nascida sob inspiração do Movimento Comunhão e Libertação realizou fórum temático em São Paulo para discutir sobre como manter unidos o humano, o empresarial e o social no universo do trabalho, em um tempo marcado por incertezas

Entre os dias 24 e 26, São Paulo sediou a 12ª edição do Fórum da Companhia das Obras (CdO) América Latina, uma associação de empresas com fins lucrativos e empreendimentos sociais sem fins lucrativos, com inspiração católica. Neste ano, pela primeira vez, o encontro deixou de ser nacional para se tornar latino-americano, fruto do trabalho conjunto entre a CdO Brasil, CdO Chile, CdO Itália e realidades presentes na Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Venezuela e México. 

O título “Gerações em movimento: uma viagem compartilhada de trabalho e esperança” expressou o coração da iniciativa: manter unidos o humano, o empresarial e o social em um tempo marcado pela incerteza. 

UMA REDE DE TRABALHO INSPIRADA NA FÉ 

A Companhia das Obras é uma associação nascida sob inspiração do movimento Comunhão e Libertação. “É, antes de tudo, a oportunidade de viver uma amizade real, que me acompanha e sustenta na forma como enfrento o mundo do trabalho”, afirma Fabiano Molina, presidente da CdO Brasil. Essa amizade, segundo Fabiano, é uma presença objetiva que permite olhar as relações profissionais de uma forma mais humana e integral. 

Na Itália, onde se originou, a CdO congrega cerca de 36 mil empresas e 1 mil organizações sem fins lucrativos, incluindo obras caritativas e entidades culturais. Na América Latina, está presente em oito países, com empresas, escolas comunitárias, projetos sociais e de ESG (políticas ambientais, sociais e de governança), promovendo uma cultura do trabalho centrada na pessoa, na responsabilidade e na cooperação. 

Fotos: Movimento Comunhão e Libertação

UMA HISTÓRIA QUE COMEÇA COM VINHO 

A CdO nasceu em 1986, em Milão, na Itália, por inspiração de Dom Luigi Giussani, padre fundador do movimento Comunhão e Libertação. Um amigo produtor comentou com o Sacerdote que fazia bons vinhos, mas tinha dificuldade em comercializá-los. 

Dom Giussani, então, disse aos jovens do movimento que não era possível que vivessem uma comunhão de fé e não tivessem uma “amizade operativa” que enfrentasse também os problemas da vida profissional e econômica. Nasceu assim uma iniciativa conjunta para ajudar as pessoas em seus empreendimentos. 

A partir dessa origem, a CdO se desenvolveu como uma rede de apoio mútuo entre empresários e empreendedores sociais que buscam testemunhar que é possível trabalhar, tanto no mundo econômico quanto no Terceiro Setor, segundo critérios éticos e cristãos. 

CARISMA E MISSÃO 

O carisma do movimento Comunhão e Libertação sempre destacou que a fé impacta toda a realidade, inclusive a econômica, e que a comunidade cristã deve gerar obras concretas que respondam às necessidades humanas. 

“Cada um de nós é protagonista e responsável pela construção do bem comum, assim como a própria companhia, isto é, a amizade que apoia e sustenta a pessoa em sua caminhada, dando a certeza de não estar sozinho”, afirma Fabiano. 

Este olhar faz com que a empresa não seja vista apenas como instrumento de lucro, mas como comunidade de pessoas que colaboram para o bem comum. “Isso suscita um desejo de testemunhar que é possível viver o trabalho de modo diferente – mais atento à pessoa, mais responsável e, ao mesmo tempo, plenamente eficaz e produtivo – e essa abordagem, profundamente humana, mostra-se capaz de dialogar com um público amplo, muito além dos limites da rede associativa”, destaca Fabiano. 

PRESENÇA CONCRETA EM SÃO PAULO 

Hoje a cidade de São Paulo conta com diversos grupos ativos e associados da CdO, com diferentes perfis. Uma das marcas da organização é justamente a reunião de profissionais envolvidos em atividades muito diferentes, e que se unem a partir de um mesmo ideal cristão. 

Entre seus associados estão grandes obras sociais, como o Centro de Recuperação Nutricional (Cren), presente em 18 países, com o atendimento de mais de 150 mil crianças; e a Casa de Brincar Luigino, recém-fundada no bairro de Pinheiros, projeto educativo para crianças pequenas; a Associação dos Trabalhadores sem Terra de São Paulo, que ajudou mais de 25 mil famílias a adquirirem suas casas; e, na Zona Norte, a Associação Menino Deus, que mantém ações socioeducativas e culturais para 750 pessoas de forma gratuita. Dedicada ao empreendedorismo na periferia, outra obra é a Aventura de Construir, que já atendeu mais de 8 mil empreendedores. 

Há também grupos de jovens que se encontram para refletir sobre o significado de sua participação no mundo do trabalho, buscando um propósito que transcende a mera remuneração financeira, e um grupo de empresários de diversas empresas que compartilha o desejo de edificar um ambiente colaborativo, no qual a amizade favorece um desenvolvimento humano mais amplo. 

UM FÓRUM CONSTRUÍDO EM CONJUNTO 

O Fórum foi fruto de uma colaboração não apenas logística, mas cultural e relacional. “Fomos descobrindo como é belo construir juntos, mesmo com visões e línguas diferentes, porque quando se trabalha a partir de uma raiz comum se descobre que é realmente possível dialogar, se compreender e gerar algo novo”, afirma Silvia Caironi, uma das organizadoras do encontro. 

O evento contou 230 participantes presenciais, sendo 30 da Europa, 50 de outros países da América Latina e o restante do Brasil. Além disso, 16 cidades, metade no Brasil e metade no exterior, contaram com núcleos que assistiram remotamente. 

DESAFIOS DO PRESENTE, ESPERANÇA PARA O FUTURO 

No Fórum aconteceram três painéis principais. No primeiro, sobre mudança geracional, o moderador, José Roberto Cosmo, destacou a alta rotatividade nas empresas, que coloca gerações cada vez mais diversas interagindo no mundo do trabalho, trazendo valores diferentes em termos de carreira, segurança e comunicação. O painel ofereceu insights sobre como lidar com essas mudanças e gerenciar possíveis conflitos, transformando-os em oportunidades de crescimento. 

No segundo painel que abordou Inteligência Artificial e seus desafios, o moderador, Carlos Otávio da Costa Silva, ressaltou que em uma cultura que incentiva “só o fazer” é importante parar e refletir sobre “o porquê”, e o Fórum foi o espaço certo para essa reflexão. O último painel questionou como construir em tempos de incerteza, diante de guerras, polarizações políticas e crises econômicas. Para a moderadora Fernanda Lanza, foi um tema urgente: como enfrentar a incerteza e construir um legado duradouro? 

“O evento foi uma oportunidade para propor aos nossos associados – e não só a eles – uma cultura do trabalho mais consciente, mais verdadeira, capaz de enfrentar os desafios com um olhar plenamente humano”, destaca Fabiano. Além dos conteúdos, foi um tempo de troca de experiências, no qual esta “amizade operativa” ganhou forma, consolidando novas colaborações e projetos compartilhados, construindo vínculos capazes de durar no tempo. 

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