O SÃO PAULO propõe uma série de reflexões sobre os sinais da fé cristã
Neste período de pandemia do novo coronavírus e a recomendação de isolamento social, é possível, além de trabalhar ou estudar remotamente, vivenciar melhor a fé. Por isso, o jornal O SÃO PAULO propõe uma série de reflexões sobre os sinais da fé cristã.
A série de artigos têm como referência o livro “Sinais de Vida – Quarenta Costumes Católicos e suas raízes bíblicas”, do teólogo Scott Hahn, da editora Quadrante. O primeiro sinal tratado é água.
SINAL DE VIDA
A água é um elemento fundamental para a vida humana. Desde os primórdios até os dias de hoje, os homens necessitam e dependem do uso diário da água para sua subsistência, o que envolve os hábitos de higienização, como tem se notado período da pandemia do novo coronavírus.
Nas Sagradas Escrituras, a água é considerada símbolo de purificação (cf. Sl 51,4; Jo 13,8) e de vida (cf. Jo 3,5; Gl 3,27). Como dom de Deus, a água é instrumento vital, imprescindível para a sobrevivência e, portanto, um direito de todos. (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 484).
O PRINCÍPIO DA VIDA
“Começamos na água. É assim que o livro do Gênesis poeticamente retrata a criação do universo: As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. […] Deus disse: <Faça-se um firmamento entre águas, e separe ele uma das outras> (Gn 1, 2.6)”, recorda o teólogo Scott Hahn.
Também é na água que inicia-se o princípio de casa pessoa pois “assumimos nossa forma humana na bolsa amniótica, uma bolsa cheia de liquido, dentro do útero materno. Na ordem da natureza, o nascimento se dá quando a bolsa da mãe de rompe”, aponta o teólogo.
SINAL DE RECOMEÇO
A água também no antigo testamento é sinal de recomeço. Existem muitos indícios disso tanto na natureza quando nas sagradas escrituras. Quando o mundo se perdia no pecado e precisava se limpar e renascer Deus tomou seus providencias, conforme recorda o Livro Sinais de Vida.
“Deus lhe enviou um grande dilúvio, e foi a partir desse dilúvio que a família de Noé encontrou vida nova. Quando Israel saiu da escravidão como nação unificada, precisou primeiro passar pelas águas do Mar Vermelho. Quando o povo escolhido estabeleceu seus lugares de oração – primeiro, o tabernáculo; depois, o Templo -, foram construídas pias de bronze para que as pessoas lavassem as mãos ao entra.”
SINAL DE PURIFICAÇÃO
Desde os séculos passados, o gesto de lavar as mãos é sinal de purificação na liturgia. O missal explica que, “com este gesto, expressa-se o desejo de purificação interior”. O padre, de fato, pronuncia estas palavras ao lavar mãos na Missa: “Lavai-me, Senhor, de toda culpa, purificai-me de todo pecado”.
A purificação externa expressa, portanto, simbolicamente a interior, necessária antes da celebração do sacrifício eucarístico. O rito de lavar as mãos é chamado, em latim, de “lavabo”, proveniente da frase do Salmo 26, 6: “Por isso, lavo minhas mãos em sinal de inocência e dou voltas ao redor do vosso altar”.
SACRAMENTAL NATURAL
A água benta é uma eficaz forma de se chegar às realidades espirituais por meio de sinais sensíveis e visíveis, o que no caso da água benta se denomina como sacramental. Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), “os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à imitação dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja.”
Quando um padre ou diácono abençoa a água, obtém-se um sacramental, que possui grande eficácia para as pessoas nas diversas realidades da vida. “Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela” indica o CIC.
“São Tomás de Aquino ensinou que a água é um sacramento natural desde a aurora da Criação. Na era da natureza (de Adão até os patriarcas), servia para refrescar o calor e limpar e humanidade. Na era da Lei (o tempo de Moisés), era fonte de renascimento espiritual de Israel, à medida que a nação começava sua viagem rumo à Terra Prometida. Com Jesus, no entanto, veio a era da graça: daí em diante, a água recebeu o poder divino do Verbo que se fez carne”, reforma a obra de Scott Hahn.
A ÁGUA E O BATISMO
“O verbo grego “batizar” significa “imergir”. O banho com a água é um rito comum a vários credos para exprimir a passagem de uma condição a outra, sinal de purificação para um novo início. Para nós cristãos, porém, não deve passar despercebido que se é o corpo a ser imerso na água, é a alma a ser imersa em Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz divina”, disse o Papa Francisco em abril de 2018.
Para os católicos, “segundo um costume muito antigo, a água é um dos símbolos que a Igreja usa com frequência para abençoar os fiéis. A água ritualmente benzida evoca os fiéis o mistério de Cristo, que é para nós a plenitude da bênção divina. Ele próprio Se apresentou como água viva e instituiu para nós o Batismo, sacramento da água, como sinal de bênção salvadora” (Ritual Romano – Celebração das bênçãos, n.1085).
“Embora os bebês sempre tivessem nascido por meio da água, foi a partir dali que homens e mulheres adultos passaram a ter a possibilidade de ‘renascer da água e do espírito’ (Jo 3,5). Os Padres da Igreja ensinaram que Jesus, ao submergir nas águas do Rio Jordão, santificou as água do mundo todo: tornou-as coisa viva e vivificante (cf. Jo 4, 10-14)”, reforça o livro.
ÁGUA BENTA
“A água benta é água comum que um sacerdote abençoou para o uso devocional. É com ela que nos benzemos na Igreja. Algumas Igrejas oferecem também um reservatório de onde os paroquianos podem pegar um pouco de água para levar consigo. Há Famílias católicas que colocam um depositário na entrada de todos os quartos de casa. […] Tudo o que temos que fazer é espirrar algumas gotas em nós mesmos. É costume pronunciar também uma benção em nome da Santíssima Trindade”, conclui Hahn em seu livro.
Benção da água, do sacramentário de São Serapião de Tmuis (século IV):
“Rei e Senhor de todas as coisas, criador do mundo, livremente concedeste a salvação a toda natureza criada mediante a vinda de teu Filho Unigênito, Jesus Cristo. Pela vida do teu Verbo inefável, redimiste tudo o que criaste. Volta para nós teu olhar desde o céu e contempla estas águas, enchendo-as do Espírito Santo. Que teu Verbo inefável nelas esteja, que transforme sua energia, para que, repletas de tua graça, deem fruto. […] Do mesmo modo como teu Filho Unigênito, descendo ás águas do Jordão, fê-las santas, que também agora desça Ele sobre estas águas e as faça santas e espirituais.”
(Com informações de Canção Nova, Aleteia e Vatican News)