A parceria também inclui a “No One Out”, uma ONG integrante da federação de voluntariado Focsiv que atua no Brasil. Juntos, eles alertam para os riscos de uma lei controversa e se preparam para a COP 30 sobre mudanças climáticas, que será realizada em novembro em Belém do Pará. A receita deles, inclusive para os restaurantes da cidade, tem como ingrediente principal a agroecologia.

A aprovação da chamada “Lei da Devastação” pelo congresso brasileiro faz aumentar a preocupação com a proteção do meio ambiente na região amazônica. No início de agosto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou 63 dos 398 artigos do dispositivo. Entre as normas rejeitadas pelo chefe de Estado estão aquelas que permitiriam substituir estudos de impacto ambiental por autodeclarações. Ao contrário, será permitida a tramitação preferencial para projetos definidos como “estratégicos”: uma categoria na qual podem entrar as prospecções de petróleo no delta do Rio Amazonas.
Os vetos de Lula foram importantes para as áreas habitadas por comunidades quilombolas, originadas por ex-escravos africanos: Lula bloqueou normas que teriam excluído quilombolas e indígenas das decisões sobre concessões para a exploração agrícola ou mineral em seus territórios. Algumas dessas áreas estão localizadas no Estado do Pará, cuja capital Belém sediará, de 10 a 21 de novembro, a conferência COP 30 das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.
Compromisso com a agroecologia

A preocupação com a devastação, mas sobretudo iniciativas de proteção, em uma zona de fronteira entre campos cultivados e floresta, são os temas abordados por Vincenzo Ghirardi. Ele é chefe de projeto na No One Out (Ninguém de Fora), uma organização associada à Federação dos organismos de voluntariado internacional de inspiração cristã (Focsiv).
A aposta da No One Out é na formação dos produtores rurais em agroecologia por meio dos cursos de uma escola especializada. A iniciativa tem apoio da diocese local de Bragança, cidade a 260 quilômetros de Belém, e financiamento da Igreja Católica na Itália. “O objetivo é valorizar os saberes tradicionais, tanto sobre as plantas quanto sobre os alimentos”, explica Ghirardi, “para que esses conhecimentos possam ser transformados em produtos capazes de gerar benefícios”.
O desafio é a alternância frequente entre seca e chuvas intensas, mas não só. “Formamos também um grupo de jovens, agora com mais de 30 integrantes, que se autodenominam ‘guardiões da sociobiodiversidade’”, diz Ghirardi. “O compromisso é retomar o uso de sementes mais resistentes às mudanças climáticas e se contrapor àquelas propostas pelas multinacionais, muitas vezes transgênicas.”
Educação rural e participação cívica

Nesses mesmos temas também trabalha o Instituto Regenera, uma organização local que colabora tanto com a No One Out quanto com a diocese, em particular com sua Rede Bragantina de Economia Solidária. “São alguns dos nossos parceiros mais sólidos”, explica um dos fundadores, o antropólogo Maurício Alcântara: “Seu percurso na educação rural e na construção comunitária por meio da agroecologia e da participação cívica é exemplar”.
Às portas da COP 30

Novos desafios estão ligados à COP 30. “Na mídia e na sociedade civil discute-se muito sobre o papel da presidência do Brasil na definição da agenda de trabalho da conferência”, destaca Alcântara. “A reflexão diz respeito também às contradições internas do país: é uma referência mundial nos debates sobre clima e meio ambiente, mas ainda precisa enfrentar muitos conflitos ligados à gestão da agricultura, o principal motor da economia nacional, que faz do Brasil o quinto maior emissor de gases de efeito estufa, apesar de ter uma matriz energética relativamente limpa.”
O debate sobre a COP avança junto com as campanhas de mobilização. “Com uma coalizão de dezenas de organizações brasileiras”, anuncia o cofundador do Instituto Regenera, “garantimos que pelo menos 30 por cento dos alimentos para os restaurantes de Belém provenham da agricultura familiar, da agroecologia e dos povos nativos da Amazônia.”
Fonte: Vatican News