O SÃO PAULO dá sequência à série sobre as obras jesuíticas espalhadas pela capital paulista e arredores, e que podem ser facilmente visitadas
Por Percival Tirapeli – Especial para O SÃO PAULO
Em Embu das Artes, na Grande São Paulo, há o Museu de Arte Sacra dos Jesuítas. A residência anexa à igreja foi construída pelo Padre Domingos Machado, com a ajuda dos índios, em 1740, após a morte do Padre Belchior.
O altar-mor, com ornamentos característicos do barroco joanino – sem, portanto, o arco do coroamento –, é dividido em dois corpos e três tramos guarnecidos por apliques laterais. No tramo central, acima do sacrário, está o nicho para o crucifixo e, no corpo superior, o nicho para a padroeira, Nossa Senhora do Rosário, encimada por um dossel. Os nichos dos tramos laterais estão ladeados por pilastras e colunas de fuste espiralado. Na parte central, há um nicho encimado por dossel. Sobre as colunas centrais, encontram-se ornamentos verticais (mísulas) com meias-figuras de anjos alados – cariátides – e nas laterais, meninos nus.
Os dois altares do arco cruzeiro são mais antigos do que aquele da capela-mor, e, segundo historiadores, teriam sido relocados de outras capelas. São do estilo nacional português, com arcos no coroamento e a lembrança de águias bicéfalas coroadas, ave mítica presente em muitas culturas. O púlpito é peça de grande importância para a oratória, os sermões e os ensinamentos catequéticos. A fotografia do monograma da Companhia, IHS, com os pregos, foi utilizada na abertura do artigo do arquiteto e urbanista Lúcio Costa sobre “A Arquitetura Jesuítica no Brasil”, em 1941. No coro, encontra-se o mais antigo órgão do Brasil.
Pinturas da sacristia
Na sacristia, as pinturas decorativas contêm pequenas cenas simbólicas da Paixão de Cristo e são emolduradas por faixas vermelhas com os mesmos desenhos de chinesices. Não há uma ordem sobre os fatos ocorridos, entre os quais destacam-se: a lança e fel, os açoites, a coluna da flagelação, a cana-verde, o lenço da Verônica, os três cravos, o cálice com sangue, a luva do soldado e um último danificado.
Todas as alegorias estão emolduradas em cercadura poligonal com luzes e sombras, conferindo-lhes relevo a ressaltar de uma cercadura curvilínea. Nas extremidades menores, há penachos azulados e conchas no sentido horizontal, com cabecinhas de anjos também emplumados de cor avermelhada. Folhas acânticas (do acanto, planta que simboliza o triunfo sobre as dificuldades) se unem a margaridas, tocando as molduras de madeira que se abrem para uma parte lisa, onde estão os desenhos de chinesices com paisagens, flores, pagodes, aves do paraíso e cenas com mandarins vagando por pontes e jardins.
Acervo jesuítico
O museu tem grande acervo escultórico, disposto em dois andares do edifício. Junto à entrada da sacristia, há um pequeno armário embutido na parede por trás da capela-mor, que tem nas portinholas desenhos de quatro santos jesuítas: Inácio de Loyola, Luís Gonzaga, Francisco de Borgia e Estanislau Kotska. Todos vestem a sotaina (batina) negra, têm auréolas de santificados e as mãos cruzadas como em oração. Inácio de Loyola olha de frente e segura o livro dos Exercícios Espirituais, Luís Gonzaga é visto em três quartos e os outros dois de perfil.
No piso superior, encontra-se um conjunto de leões funerários que encantaram Germain Bazin, que os classificou da época da dinástica chinesa Tang. Em madeira crua, os quatro leões erguem suas cabeças com bocas abertas e patas hirtas na face frontal. A beleza concentra-se na parte posterior, nos cacheados das jubas, caprichosamente encaracoladas. As caudas elevam-se em forma de anzóis invertidos. O esquife é ornamentado com arcos com talha vazada. O Senhor Morto, obra do Padre Joaquim da Silva Macaé, que fica na urna do retábulo-mor, tem o tamanho certo para anteparo dos leões funerários.
No Brasil, só há outro conjunto similar – obra de Antônio Francisco Lisboa, a qual está no Museu Aleijadinho, em Ouro Preto, MG.
Museu de Arte Sacra dos Jesuítas
Largo dos Jesuítas, 67
Centro – Embu das Artes (SP)
Telefone: (11) 4704-2654
Funcionamento: de terça-feira a domingo, das 9h às 12h e das 13h às 17h
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) R$ 4,00 (estudantes, professores e pessoas acima de 60 anos) Grátis (crianças até 7 anos).
abejxsbucrtpmncccgpjkivsasnbob