Há nove anos, o projeto “O Sentido do Pão” permite a detentos, pessoas pobres, pessoas com deficiências, entre outros menos favorecidos, trabalhar na produção e distribuição de hóstias. Hoje, as 27 oficinas eucarísticas estão distribuídas em vários continentes. No Brasil elas são quatro, todas em Minas Gerais.

O projeto “O Sentido do Pão” (Il Senso del Pane, no original em italiano) nasceu de uma pergunta. Ela foi feita a Jesus dez anos atrás, por Arnoldo Mosca Mondadori, cofundador – junto com Marisa Baldoni – e presidente da Fundação Casa do Espírito e das Artes (Casa dello Spirito e delle Arti). “Como posso comunicar ao mundo a tua infinita doçura e o teu amor, que nos traz ao coração a bem-aventurança do Céu?”, ele indagou de joelhos, diante de um tabernáculo.
O presidente da ONG sediada em Milão, na Itália, e ativa desde 2012 no campo das artes, da cultura e da promoção social, encontrou a resposta em sua alma: deveria ir às prisões, reunir os detentos que haviam cometido homicídios, mas que se arrependeram, envolvendo-os na produção e distribuição das hóstias. Esse diálogo interior se concretizou em 2016, na Casa de Reclusão de Milano Opera, em Milão, onde foi aberto o laboratório eucarístico que produziu as primeiras hóstias. Ao Vatican News, Mondadori recorda os primeiros passos do projeto: “Fui à Milano Opera, onde encontrei um diretor muito sensível, Giacinto Siciliano, que nos deu uma sala dentro da prisão para as atividades. Ali três detentos trabalharam com um contrato formal, sendo que depois escreveram uma carta ao Papa Francisco, que consagrou pessoalmente essas hóstias”.
Além das prisões e fora da Itália
A poucos meses do décimo aniversário da iniciativa, graças ao apoio da Fundação Ennio Doris ETS, da Fundação Santo Versace, da Fundação Carlo Acutis e da Confcommercio, os laboratórios eucarísticos chegaram a 27 e os participantes já são mais de 15 mil. As hóstias são destinadas a dioceses italianas e estrangeiras, congregações religiosas, paróquias e mosteiros. O Sentido do Pão se expandiu em várias regiões da Itália: além de Milão – onde as atividades também acontecem nos presídios de San Vittore e Bollate – a produção e distribuição das hóstias de pão ocorrem nas cidades de Catânia, Fabriano, Nápoles, Pollone, Veneza, Vico Equense e Volpiano. Mas o projeto ultrapassou as fronteiras do país, chegando a nações distantes, algumas atingidas por conflitos e crises humanitárias, como a Palestina (Faixa de Gaza, Belém), Moçambique (Maputo), Sudão do Sul, Zâmbia, Sri Lanka, Argentina (Buenos Aires) e Brasil (Frutal, Governador Valadares, Itaúna, Ituiutaba).
Além disso, os laboratórios eucarísticos já não são destinados apenas aos presos: neles trabalham pessoas pobres, pessoas com deficiências físicas ou psíquicas, refugiados, ex-dependentes químicos, viúvas e mães solteiras. “Aos padres que nos pedem as hóstias” – conta Mondadori – “nós as doamos e pedimos que informem os fiéis, durante a missa, que foram produzidas por detentos ou por pessoas que vivem em extrema pobreza.
“Queremos testemunhar a união indissolúvel entre Cristo e os menos favorecidos”
Dentro das Apac brasileiras
Há três anos, O Sentido do Pão chegou ao Brasil, por meio da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac). Nessas associações destinadas à reabilitação de presos e à justiça reparativa, os laboratórios eucarísticos são quatro, todos em Minas Gerais, iniciados entre 2022 (Itaúna, Frutal) e 2025 (Governador Valadares, Ituiutaba). Cada um deles produz cerca de 300 mil hóstias.
Nesses locais, Simonetta D’Italia Wiener atua como voluntária e responsável pela ONG. Ela também é diretora e produtora de vídeos, além de professora no St. Francis College, em Nova Iorque. Ao Vatican News ela afirma que participa do projeto porque “as Apac e O Sentido do Pão têm em comum a centralidade da vida como experiência de misericórdia e perdão”. Todos os dias, das manhãs às tardes, ela acompanha grupos de seis a sete reeducandos, que recebem um salário mensal, com o objetivo de ajudá-los no caminho de reabilitação, conscientização e reconciliação com o próprio passado, e de reinseri-los na sociedade.
Histórias de redenção

No Brasil, aumentam os pedidos de hóstias, principalmente pelas dioceses de Divinópolis e Uberaba, o que D’Italia Wiener considera “um sinal concreto daquilo que a tradição cristã chama de ‘partir o pão’: o milagre da multiplicação da Eucaristia que continua a se renovar”. Mas, prossegue, a essência de O Sentido do Pão é “a esperança fruto das mãos que um dia conheceram o mal, mas que hoje, renascidas, tornam-se sinal vivo e tangível de uma profunda transformação”.
Prova disso é a experiência de Paulo José, que há sete meses trabalha na produção das hóstias. Simonetta lê trechos de uma carta de Paulo: “Tiraram-me as algemas e pediram para levantar a cabeça. Fui convidado a trabalhar na fábrica e me sinto útil, sabendo que as hóstias são doadas gratuitamente a muitas igrejas pobres de Minas Gerais. Assim, as pessoas podem compreender o desejo de mudar de vida”.
Outro testemunho é o de Lucas, que cuida da manutenção das máquinas, orienta os novos participantes dos laboratórios eucarísticos e escreveu estas palavras: “No passado fiz coisas terríveis. Hoje, ao contrário, levo Deus às pessoas, e aqueles que não acreditavam na minha recuperação podem ver que estou realizando algo de bom. Quero agradecer à Fundação Casa do Espírito e das Artes porque me permite pedir perdão e transformar meu presente em algo belo”.
O futuro do projeto
Em 2026, O Sentido do Pão continuará a se expandir: os laboratórios eucarísticos deverão se tornar 35, mas podem ser ainda mais porque, explica Mondadori, “todos os dias recebemos pedidos de novas implantações. Para a ampliação, porém, é necessária a oração, e sem a adoração eucarística o projeto não avança”. No próximo ano, nas Apac brasileiras poderão ser instaladas outras seis fábricas de produção de hóstias.
Fonte: Vatican News