Empresários católicos readaptam atividades para manter emprego de funcionários
Quando percebeu que, devido às restrições de funcionamento do seu negócio por causa da COVID-19, seria obrigado a paralisar as atividades presenciais do Magazine 25 de Março, empresa que atua no varejo on-line de artigos para festas, Bruno Oliveira, 36, fez com que seus 11 funcionários passassem a atuar no regime de teletrabalho. Para isso, levaram para suas casas os computadores da empresa. No decorrer dos dias, o gerente comercial também quis saber mais sobre a rotina dos empregados.
“Eu me assustei: muitos estavam trabalhando na mesa de cozinha, com aquelas cadeiras duras, algumas em mau estado de conservação. Não podia fechar os olhos diante disso, então, minha sócia e eu contratamos um carreto e enviamos a eles a mesa e a cadeira de escritório”, recordou ao O SÃO PAULO.
A atitude, segundo o empresário, além de proporcionar boas condições de trabalho aos funcionários, estreitou os laços de confiança entre as partes e resultou em melhorias de produtividade e na avaliação positiva de clientes e fornecedores.
Oliveira integra o Economia de Comunhão (EdC), que surgiu em 1991, após Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, de inspiração católica, ter visitado o Brasil. Em linhas gerais, o foco é a promoção de uma cultura econômica de partilha, pela qual os lucros devem ser aplicados no desenvolvimento da empresa, no atendimento às necessidades dos pobres e na formação de jovens.
Foi a partir dessas premissas que Oliveira agiu no momento de maior instabilidade de sua empresa: “Não bastava olhar e pensar ‘estou pagando o salário, então, fiz minha parte’. Não é só isso. A pessoa precisa ter a sensação de estabilidade, saber que vai poder contar com o emprego, planejar coisas futuras, incluindo sua evolução pessoal. Diante da pandemia, a primeira coisa que fiz foi tranquilizar os funcionários, dizer para continuarem empenhados, que arcaríamos com eventuais prejuízos, e que eles seriam a prioridade do nosso caixa”.
Verdadeira parceria
Sérgio Cavalieri, membro do Conselho de Administração do grupo Asamar S/A e atual presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE) no Brasil – que se dedica a disseminar os valores cristãos no meio empresarial –, avaliou que uma das consequências positivas da pandemia é a melhoria na relação empregador-empregado.
“Na parte industrial, por exemplo, hoje há todo um cuidado para que os serviços possam continuar funcionando. Há a medição de temperatura dos funcionários e a higienização dos ambientes. Passou-se, também, a uma maior preocupação com a pessoa. Houve, de fato, por parte dos empresários, um despertar muito maior desse cuidado com o trabalhador e com sua famílias”, recordou Cavalieri.
O presidente da ADCE também destacou que as empresas que praticam a solidariedade, o respeito com os colaboradores, clientes, fornecedores e a comunidade do entorno têm melhor reputação, sendo reconhecidas como aquelas que contribuem para o bem comum: “A sociedade espera de uma empresa não só a geração de riqueza, mas também de empregos, uma riqueza criada de forma sustentável e distribuída de modo mais justo”.
Do outro lado do Atlântico
Os impactos econômicos e sociais que a perda de postos de trabalho pode ocasionar no Velho Continente levaram a União Europeia (UE) a incluir, no chamado plano de recuperação para a Europa, um fundo de 100 milhões de euros, para que as empresas garantam trabalhos com horários de curta duração, evitem a dispensa de funcionários e, assim, as famílias tenham algum rendimento.
Os Estados podem candidatar-se a receber verbas do chamado programa Sure caso desenvolvam políticas públicas para ajudar os trabalhadores. O apoio é em forma de empréstimo financeiro em condições favoráveis aos membros da UE.
Função primordial para a sociedade
Dirigindo-se a jovens empresários franceses, em dezembro de 2019, o Papa Francisco mencionou os desafios recorrentes que vivenciam, como o pagamento de salários, a manutenção dos empregos e a garantia de processos produtivos que respeitem o meio ambiente, e exortou-lhes a ser promotores de “mudanças concretas de hábitos e estilos, nas relações com seus colaboradores diretos, ou, melhor ainda, na difusão de novas culturas empresariais”.
Na encíclica Laudato si’, o Pontífice alerta para a necessidade de se garantir aos pobres uma vida digna por meio do trabalho e pontua que “renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade” (LS 128). Francisco indica, ainda, que “para se conseguir continuar a dar emprego, é indispensável promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial (…). A atividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum” (LS 129).
(Com informações de Euronews, Vatican News e EdC)
(Colaborou: Jenniffer Silva)