Brasil avança nas causas de beatificação e canonização 

Com 173 processos em andamento, dioceses brasileiras consolidam caminhos para reconhecer a santidade nas comunidades católicas

Entre os dias 14 e 17, aconteceu o 1º Encontro Nacional dos Postuladores para a Causa dos Santos no Brasil, promovido pela Comissão Especial das Causas dos Santos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF). 

O evento reuniu bispos, religiosos, postuladores, teólogos e estudiosos da santidade para refletir sobre os caminhos, desafios e esperanças nos processos de beatificação e canonização que tramitam nas dioceses brasileiras. 

O principal objetivo foi promover a troca de experiências e a formação comum, além de buscar maior articulação e amadurecimento dos diferentes processos em curso. Trata-se de uma resposta concreta ao apelo feito por São João Paulo II durante a missa de beatificação de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, em 18 de outubro de 1991, em Florianópolis (SC). Na ocasião, o Papa afirmou: “O Brasil precisa de santos, de muitos santos! A santidade é a prova mais clara, mais convincente da vitalidade da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares. Que o exemplo de Madre Paulina possa inspirar a todos uma resposta decidida, generosa, ao chamado de Cristo à santidade!” 

Mais de 30 anos depois, essa convocação ressoa com ainda mais força. O número de processos em andamento e o crescente interesse das comunidades por reconhecer o testemunho de fiéis que viveram radicalmente o Evangelho revelam o vigor dessa resposta e o desejo da Igreja no Brasil de cultivar a memória dos que, com a vida e a morte, se tornaram sinais do Reino de Deus. 

COMO É PROCLAMADO UM SANTO? 

A Causa de Beatificação e Canonização é o processo pelo qual a Igreja reconhece oficialmente a santidade de um fiel católico cuja vida, morte e fama indicam sinais evidentes de virtudes heroicas, martírio ou entrega total a Deus. Esse processo só pode ser iniciado, em regra, cinco anos após a morte do candidato, salvo dispensa concedida pelo Papa. A partir da abertura da causa, o fiel passa a ser chamado Servo de Deus. 

O processo se divide em duas fases: diocesana e romana. Na fase diocesana, o bispo local autoriza a abertura do inquérito eclesiástico e constitui uma equipe formada por delegado episcopal, promotor de justiça e notário. Um postulador é responsável por reunir testemunhos, documentos e escritos do Servo de Deus, com o apoio de uma comissão histórica, a fim de comprovar a prática das virtudes cristãs em grau heroico, o martírio autêntico ou a oferta voluntária da vida. 

Encerrada essa fase, todo o material é enviado ao Dicastério para as Causas dos Santos, no Vaticano, iniciando-se a etapa romana. O primeiro passo é a elaboração da Positio, documento que sintetiza todas as provas reunidas. Essa síntese é avaliada por teólogos, seguida dos cardeais e bispos do Dicastério. Se aprovada, o Papa pode autorizar o decreto que reconhece a prática das virtudes cristãs em grau heroico, o martírio autêntico ou a oferta voluntária da vida, conforme os critérios definidos pela Santa Sé. Nesse caso, o Servo de Deus recebe o título de Venerável. 

Para a beatificação, é necessário o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do Venerável — geralmente uma cura rápida, completa e inexplicável. No caso de mártires, esse milagre pode ser dispensado. Após nova avaliação e aprovação, o Papa autoriza a beatificação, permitindo o culto público local do Bem-aventurado. 

A canonização, por fim, exige um segundo milagre ocorrido após a beatificação. Com a confirmação do novo milagre, o Papa promulga o decreto final, e o fiel é declarado santo, com culto estendido a toda a Igreja universal e inscrição no Calendário Romano Geral. 

SANTIDADE NO BRASIL 

Segundo um levantamento de Dom André Alves dos Santos, monge beneditino Valombrosano e presidente da Academia Brasileira da Hagiologia (ABRHAGI), o Brasil conta atualmente com 37 santos oficialmente reconhecidos. Além disso, 173 causas de canonização estão em andamento nas diversas dioceses brasileiras (veja ao lado). 

A maioria dos santos brasileiros são mártires leigos. Os bem-aventurados incluem diversos missionários estrangeiros mortos no Brasil. Os veneráveis e servos de Deus demonstram a diversidade vocacional da santidade: bispos, padres, religiosos, leigos, crianças e indígenas. 

“A canonização manifesta a comunhão eclesial, em que o local e o universal, o sensus fidelium e o magistério, se entrelaçam harmonicamente”, destacou Dom Denilson Geraldo, Bispo Auxiliar de Brasília (DF), durante a missa de abertura do encontro promovido pela CNBB. O Prelado acrescentou que a santidade não é expressão de mérito individual ou realização extraordinária, mas fruto da graça divina acolhida com fidelidade e encarnada no cotidiano, em profunda união com o Corpo de Cristo. “A santidade, portanto, é dom partilhado, sinal de comunhão e estímulo para todos os fiéis, chamados à plenitude da caridade”, afirmou.