
A febre baixa, o suor excessivo, especialmente durante a noite, e a fraqueza são sintomas comuns da tuberculose, enfermidade infecciosa e transmissível causada por uma bactéria. Foram esses também alguns dos sinais percebidos pela confeiteira Jéssica Cavalcanti de Almeida Ribeiro, aos 28 anos. Hoje, aos 34, ela relatou ao O SÃO PAULO que seu diagnóstico foi demorado e que o processo de investigação médica não identificava a causa real de seu quadro clínico.
“A tuberculose mudou completamente a minha vida. Antes de saber que estava doente, eu levava uma rotina normal: trabalhava, cuidava da casa e estudava. Quando comecei o tratamento, precisei ficar afastada do trabalho por nove meses, pois tive de passar por uma cirurgia no quadril. A doença se manifestou em vários pontos do corpo, tive tuberculose miliar disseminada, óssea, ocular e pulmonar”, relatou.
Por causa da infecção, os órgãos de Jéssica aumentaram de tamanho, e ela passou a depender de uma bengala para caminhar.
“Os efeitos colaterais dos medicamentos foram os desafios mais difíceis de enfrentar. Os remédios causam muitos sintomas, e comigo não foi diferente. Sempre que algo me assustava, procurava os médicos, que me orientavam e explicavam que era uma reação esperada do tratamento”, contou.
Mesmo com a previsão de possíveis sequelas, após a cirurgia e o tratamento, Jéssica conseguiu se recuperar e hoje compartilha sua experiência nas redes sociais.
O DESAFIO DA DESINFORMAÇÃO
Além dos problemas próprios da doença, a confeiteira precisou lidar com a falta de informação e o preconceito.
“No início, percebi que algumas pessoas me olhavam com desconfiança, talvez por acreditarem que essa doença só atinge quem ‘vive em desordem’, o que não é verdade”, observou.
Como estratégia para conter a desinformação e promover uma maior consciência sobre a doença, no Brasil, em 17 de novembro, celebra-se o Dia Nacional de Combate à Tuberculose.
De acordo com o Boletim Epidemiológico da Tuberculose 2025, do Ministério da Saúde, somente em 2024 o Brasil registrou mais de 84 mil novos casos da doença. O País figura entre os 30 com maior carga de tuberculose no mundo e lidera em número de casos notificados nas Américas.
A maior incidência ocorre entre homens (68,2%). Em 2023, foram registradas 6.025 mortes em decorrência da infecção.
A DOENÇA

A tuberculose é uma infecção bacteriana causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch. Embora atinja principalmente os pulmões, pode afetar outros órgãos do corpo humano.
Conforme explicou Tatiana Galvão, médica pneumologista e coordenadora da comissão de tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a transmissão ocorre pelo ar: “Quando uma pessoa com tuberculose pulmonar tosse, espirra ou fala, libera pequenas gotículas contendo a bactéria. Ao serem inaladas, essas bactérias entram nos pulmões e podem se multiplicar”.
DIFERENTES MANIFESTAÇÕES
A forma como a infecção se manifesta depende, segundo a médica, do sistema imunológico do paciente.
Em pessoas com imunidade adequada, o próprio organismo pode conter o bacilo, fazendo com que ele permaneça “adormecido” por anos, sem causar a doença ativa.
Já em indivíduos com imunidade baixa, é provável que a bactéria volte a se multiplicar, provocando a forma ativa da tuberculose.
Nos casos de tuberculose pulmonar, o paciente costuma apresentar tosse persistente por mais de três semanas, febre baixa (geralmente à tarde), suores noturnos, perda de peso, falta de apetite, cansaço e dor no peito.
Quando o Mycobacterium tuberculosis se espalha pela corrente sanguínea, pode atingir outros órgãos, como a pleura (membrana que reveste o pulmão), gânglios linfáticos, ossos, articulações, rins, sistema geniturinário, sistema nervoso central (causando meningite, dores de cabeça e confusão mental) e intestinos.
Apesar da gravidade, especialmente quando o tratamento é interrompido ou negligenciado, a especialista reforça que a tuberculose tem cura e que o tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
ESTAR ATENTO AOS SINAIS

Por ter sintomas semelhantes aos de gripes e outras doenças respiratórias, é fundamental que o paciente esteja atento aos detalhes.
“A principal diferença entre a tuberculose e outras infecções respiratórias está na duração e na evolução dos sintomas: enquanto a gripe e a pneumonia costumam se resolver rapidamente com o tratamento adequado, a tuberculose progride lentamente e provoca tosse crônica e perda de peso. Se a tosse persistir por mais de três semanas, é essencial procurar uma unidade de saúde para avaliação médica”, orientou a especialista.
Identificar casos suspeitos é a medida mais eficaz para controlar a disseminação da doença, já que um paciente em tratamento deixa de transmitir o bacilo geralmente após 15 dias.
Outra forma importante de prevenção é a vacina BCG, que protege contra as formas mais graves da tuberculose, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar.
SAIBA MAIS SOBRE A TUBERCULOSE
– É uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A doença afeta prioritariamente os pulmões (forma pulmonar). A forma extrapulmonar, que afeta outros órgãos que não o pulmão, ocorre mais frequentemente em pessoas vivendo com HIV, especialmente aquelas com comprometimento imunológico.
– Os sintomas mais comuns são: Tosse por 3 semanas ou mais; febre vespertina; sudorese noturna; emagrecimento repentino.
– Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente, e em geral, após 15 dias, o risco de transmissão da doença é bastante reduzido.
– Como logo após o início do tratamento a pessoa já se sentirá sente melhor, muitas costumam não segui-lo a risca, mas É FUNDAMENTAL realizá-lo até o final, independentemente do desaparecimento dos sintomas. O tratamento irregular pode complicar a doença e resultar no desenvolvimento de tuberculose drogarresistente.
Fonte: Ministério da Saúde






