Brasil: terra de missão e do testemunho da cooperação missionária entre dioceses

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No fim de semana dos dias 19 e 20, os católicos brasileiros se uniram às demais paróquias e comunidades do mundo por meio da Coleta Missionária, gesto concreto do Mês das Mis­sões, comemorado em outubro.

Essa arrecadação tem como finalidade promover a evan­gelização às igrejas e dioceses mais carentes em territórios de missão. Do total dos valores arrecadados, 80% são destina­dos a dioceses pobres em todo o mundo, por meio do Fundo Mundial de Solidariedade. Os outros 20% são para a ação mis­sionária no Brasil.

De fato, no Brasil, ainda existem muitos lugares que ne­cessitam do envio de homens e mulheres para anunciar o Evan­gelho. Essa é, inclusive, uma das prioridades do Programa Mis­sionário Nacional, que orienta a atuação das forças missionárias da Igreja no Brasil, estabelecen­do o objetivo de “‘despertar, em maior medida, a consciência da missio ad gentes (missão além fronteira) ‘entendida como hori­zonte e paradigma de toda Ação Evangelizadora, na pastoral ordi­nária e no envio de missionários para outras regiões e nações”.

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CAMPO VASTO

A Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacio­nal dos Bispos do Brasil (CNBB) iden­tifica diversos locais no Brasil que ainda são considerados territórios de missão, nos quais a evangelização e a presença da Igreja precisam ser fortalecidas. Os prin­cipais contextos são: ­

Regiões Norte e Nordeste: em es­tados como Amazonas, Acre, Roraima, Maranhão, Piauí e partes do Ceará e da Paraíba, há populações em situação de vulnerabilidade, e em que a evangeli­zação e a estruturação pastoral conti­nuam em desenvolvimento. Especial­mente a região amazônica enfrenta desafios significativos, como a vastidão geográfica, a diversidade étnica e cultu­ral e a dificuldade de acesso a algumas comunidades.

Comunidades de imigrantes e refu­giados: são locais onde há concentração de imigrantes e refugiados, que necessi­tam não apenas de assistência material, mas também espiritual. O mesmo acon­tece com as comunidades tradicionais, nas quais habitam quilombolas, ribeiri­nhos e populações indígenas. Territórios rurais ainda precisam de uma presença pastoral constante, devido à migração da população jovem para as cidades e ao envelhecimento das comunidades. Em algumas cidades, especialmente nas periferias de grandes centros urbanos, há comunidades que precisam de maior atenção missionária e evangelizadora.

IGREJAS IRMÃS

Criado há 52 anos, o Projeto Igrejas Irmãs é uma iniciativa CNBB que pro­move a cooperação missionária entre igrejas de realidades sociais e culturais diferentes. Nesse projeto, as igrejas se tornam “irmãs” e compartilham dons espirituais, humanos e materiais, quan­do uma diocese ou arquidiocese ajuda financeiramente outra diocese e envia missionários para ali atuarem.

Dom Maurício da Silva Jardim, Bis­po de Rondonópolis-Guiratinga (MT) e Presidente da Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Inte­reclesial, explica que o projeto Igrejas Irmãs é “uma expressão da maturidade da fé”, elemento presente na encíclica Redemptoris missio (1990), de São João Paulo II, que destaca que a missão é uma questão de fé. O Bispo insiste que “a ma­turidade da fé é quando a Igreja envia pessoas e coopera com outra Igreja mais necessitada”.

O Regional Sul 1 da CNBB, que abrange as dioceses do estado de São Paulo, já enviou mais de 80 missionários, entre padres, religiosas e leigos à região Norte do País. Atualmente, o projeto conta com missionários nas dioceses de Alto Solimões (AM) e Roraima, na Ar­quidiocese de Manaus (AM) e nas Pre­lazias de Tefé (AM) e São Gabriel da Ca­choeira (AM).

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COMUNHÃO E PARTILHA

Um braço eclesial importante no apoio à ação missionária é a Funda­ção Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), organização internacional que auxilia a Igreja Católica em países nos quais há perseguição, opressão reli­giosa e social, ou onde há necessidade pastoral.

Os projetos apoiados visam a promo­ver a evangelização, o suporte espiritual e material para as comunidades cristãs e o fortalecimento da fé. Um desses exem­plos ocorre na Diocese de Cajazeiras, no sertão da Paraíba. Com uma área de 14,5 mil km², a Diocese tem quase dez vezes o tamanho da cidade de São Paulo, mas apenas 80 padres para pastorear todo o povo de Deus. Em média, cada um destes padres é responsável por 7 mil fiéis, espalhados por várias pequenas comunidades.

A situação poderia ainda ser mais difícil se não fosse o tra­balho das religiosas. Ao todo, 30 freiras de sete congregações atuam na região. Elas rezam com os fiéis, fazem a formação de preparação aos sacramentos, visitam os doentes e os idosos, organizam e impulsionam o trabalho dos jovens, promovem o apostolado vocacional, reali­zam cursos bíblicos, dão instru­ção catequética aos novos cate­quistas e acompanham famílias em situações difíceis, incluindo o acompanhamento de pessoas com dependência química.

PALAVRA DE DEUS

Na região de Andirá e Ma­rau, no Amazonas, a Igreja re­aliza um trabalho missionário com a comunidade indígena Sateré-Mawé. Quando o mis­sionário italiano Padre Henri­que Uggé chegou à região, em 1972, a comunidade indígena estava reduzida a cerca de 1,2 mil pessoas e corria o risco de extinção por doenças como o sarampo, além da falta de aten­ção das autoridades civis. O Sacerdote recorda que viajava em pequenos barcos, saindo da imensidão do rio Amazonas até os pequenos igarapés, nos quais apenas uma canoa conseguia passar pelo rio. Agora, são mais de 12 mil indígenas que fortale­ceram sua cultura e as crianças também são beneficiadas por meio de uma rede de escolas bilíngues. Ele conta com o trabalho de sete catequistas locais que o ajudaram a traduzir a edição “Bíblia da Criança”, publicada pela ACN, em língua Sateré-Mawé.

“Todos gostamos de ouvir, ler e me­ditar a Palavra de Deus em nossa pró­pria língua, em nosso próprio contexto cultural e histórico”, destaca o missioná­rio, acrescentando que os Sateré-Mawé agora podem ouvir as leituras da missa também em sua língua indígena, facili­tando a animação catequética das novas gerações.

Dom Maurício da Silva Jardim refor­ça que ninguém pode esquecer que, na Igreja, todos são cooperadores da única missão de Jesus Cristo, sendo essa mais do que uma dimensão ou atividade. “A missão é a natureza da Igreja, sua identi­dade. A Igreja é missão. A vida é missão. A Igreja do Brasil está empenhada nesse propósito, sendo a formação das comu­nidades eclesiais missionárias, chamadas a ter a missão como eixo fundamen­tal, uma prioridade da Igreja no Brasil”, completou.

(Com informações de CNBB e ACN Brasil)

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