Enfatizou o Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé, em missa no Dia Internacional dos Direitos Humanos, na qual houve a leitura de um manifesto da Frente Inter-religiosa por Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns

Por ocasião da publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948, com 30 artigos que asseguram o direito à dignidade humana, anualmente é celebrado nesta data o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Na Catedral da Sé, uma missa em ação de graças por este dia ocorreu às 12h desta quarta-feira, 10, presidida pelo Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, Cura da Catedral, com a presença de representantes de outras religiões e integrantes da Frente Inter-religiosa por Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns.
“Que sejamos todos concordes na busca ao respeito pelos direitos humanos e pela paz”, exortou Padre Baronto no começo da missa. “Que façamos deste momento de oração e de louvor a Deus o nosso desejo de juntos, cada um com sua qualidade e competência, contribuir para o bem comum da nossa sociedade”, prosseguiu o Cura da Catedral, transmitindo a todos também os cumprimentos do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, pela organização da missa em ação de graças.
Concelebraram o Cônego José Bizon, Diretor da Casa da Reconciliação; o Cônego Marcelo Monge, Vigário Episcopal da Caridade Social; e o Padre Luiz Fernando de Oliveira, da Pastoral Afro.

DIREITOS HUMANOS E DEMOCRACIA
Na homilia, Padre Baronto recordou a crescente de fatos violentos contra a democracia, entre os quais “discursos que desumanizam, que ferem os direitos que julgávamos já conquistados, bem como decisões políticas que são verdadeiros retrocessos às duras conquistas do Estado Democrático de Direito”.
De acordo com o Sacerdote, tais situações tendem a provocar um cansaço, “um esgotamento, que pode nos levar ao pior, que seria perder a esperança”, mas que sempre é preciso lembrar, conforme asseguram as Sagradas Escrituras, que “quando tudo parece cair, nos abater, Ele vem para nos sustentar e para nos erguer”, de modo que não se deve perder a esperança, mesmo diante das situações de opressão e de cansaço com as realidades da vida.
O Cura da Catedral da Sé comentou, ainda, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos apresenta algumas inspirações do Espírito de Deus à humanidade, na medida em que reconhece “o mais básico daquilo que Deus já afirmava na Escritura: que cada ser humano tem uma dignidade que nada, nem ninguém, deveria se atrever a destruir”.
FERIDAS NA DIGNIDADE HUMANA
Padre Baronto lembrou, ainda, que quem olha para a história do Brasil perceberá que cada vez que um direito humano foi negado, “há sempre alguém cansado, exausto, alguém que foi esmagado. Quando uma criança passa fome, quando uma mulher é violentada e sofre feminicídio, quando um idoso é abandonado, quando um trabalhador é explorado, quando um migrante é tratado como descartável, nós vemos na prática aquilo que Isaías e Jesus desejavam curar: a ferida da dignidade humana”.
Diante destas e tantas outras situações, as pessoas de boa vontade são chamadas a olhar para o próximo com compaixão, “aquela compaixão firme de Cristo, que não apenas consola, mas que luta, milita e busca transformar”.
Padre Baronto lembrou – e lamentou – os casos de ataques às instituições, à verdade, ao respeito às diferenças e ao diálogo que sustenta a convivência social. “Quando a democracia é ferida, os direitos humanos sangram. Quando o ódio toma o lugar da razão, os mais vulneráveis são os que pagam o preço; quando a violência, seja ela física, seja política ou simbólica, tenta se impor como linguagem, o Evangelho nos recorda que este não é o caminho que Deus escolheu”. Ele enfatizou que é na democracia que cada ser humano “tem garantido o direito de ser reconhecido, ouvido e escutado”.

OLHAR PARA O PRÓXIMO E CONSOLAR-SE EM DEUS
Por fim, o Cura da Catedral da Sé recordou que as pessoas na linha de frente na luta pelos direitos humanos estão cansadas, já que recorrentemente sofrem com ataques físicos e com discursos de ódio, mas ele exortou que apresentem este cansaço a Jesus: “Isso não é fugir, mas encontrar-se com Aquele que dará força para continuar persistindo”.
“Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Evangelho nos pede ao menos duas atitudes: primeiro, entregar a Cristo tudo aquilo que pesa em nós, para que Ele cure aquilo que tira de nós a alegria e a esperança; e a segunda atitude é carregar com Ele o fardo do outro, para que nenhuma pessoa seja deixada para trás. Assim, talvez possamos ver nascer aquilo que Isaías profetizou: ‘um povo que corre sem cansar, que caminha sem parar, porque aprendeu a colocar a vida no colo de Deus e a dignidade humana no centro da prática de sua fé’”, lembrou, desejando ainda ao concluir a homilia: “Que o Senhor, manso e humildade de coração, faça repousar sobre nós o seu olhar de ternura e nos ensine a transformar a compaixão em justiça, e a justiça em paz. Que Ele fortaleça a nossa defesa da democracia, que guarde os direitos humanos, para que todas as pessoas possam levantar a cabeça e criar asas como águias na direção de um futuro mais justo, mais humano e mais fraterno”.

MANIFESTO PELA VIDA E A DIGNIDADE HUMANA
Antes do término da missa, em nome da Frente Inter-religiosa por Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns, o Sheikh Mohamad Al Bukai, líder religioso islâmico da Mesquita Brasil em São Paulo, leu o “Manifesto Inter-religioso pela vida e pela dignidade humana por ocasião do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
No texto, as lideranças religiosas ressaltam que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos é, para nós, mais do que um documento jurídico, é um testemunho vivo dos valores mais sagrados que habitam no coração das crenças religiosas. Acreditamos que cada princípio nela proclamado – a dignidade, a liberdade, a igualdade, a justiça e a paz – reflete o que há de mais profundo na experiência espiritual: o reconhecimento de que toda vida é sagrada e que todo ser humano é digno dela”.
O texto indica que apesar de avanços ainda se faz necessário lutar pelo básico, como pelo direito de existir sem medo e de ser respeitado em suas peculiaridades. “Toda a pessoa é portadora de dignidade e toda a injustiça é uma ferida aberta no corpo da humanidade”, lê-se em outro trecho do manifesto no qual os signatários também renovam o compromisso de ser “guardiões da vida” e defendê-la em todas as suas formas, combatendo tudo que venha a atentá-la, como o racismo, machismo, intolerância, discriminação, fome e pobreza.

“Depois deste momento de oração, voltemos para nossos trabalhos e nossas frentes fortalecidos pela fé, pela esperança e pela alegria do encontro. É bom sempre tê-los perto de nós, e esta casa está sempre de portas abertas para acolher a todas as pessoas que aqui vem”, disse o Cônego Bizon após a leitura do manifesto.
Ao final da missa, o senhor Afonso Moreira Júnior, membro da Frente Inter-religiosa por Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns, entrevistou algumas pessoas que estiveram na Catedral da Sé por ocasião desta celebração pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos. Assista as entrevistas no vídeo a seguir.






