
A Ordem dos Clérigos Regulares Ministros dos Enfermos (Camilianos) iniciou, em fevereiro, as celebrações do Jubileu dos 450 anos da conversão de seu fundador, São Camilo de Lellis. O ano jubilar se estende até 8 de dezembro, acompanhado de uma série de eventos e momentos de espiritualidade, incluindo a concessão da indulgência plenária, conforme estabelecido pela Santa Sé.
MARCO NA HISTÓRIA DA IGREJA
São Camilo de Lellis nasceu na Itália, em 1550, em uma família marcada por contrastes. Seu pai, militar, levava uma vida dura e instável, enquanto sua mãe era profundamente religiosa e depositava sua esperança na fé cristã.
Desde a infância, Camilo enfrentou adversidades, tornando-se órfão muito cedo. Como seu pai, entrou para o exército aos 17 anos, mas logo se viu preso aos vícios do jogo e da bebida. Foi nesse tempo que uma ferida em seu pé surgiu, uma chaga que nunca se curaria completamente e que o acompanharia por toda a vida, tornando-se símbolo de sua própria trajetória de transformação.
Após perder tudo no jogo e mergulhar na miséria, Camilo encontrou abrigo no convento dos Capuchinhos. Ali, iniciou um processo de reflexão, mas sua conversão definitiva aconteceu em 2 de fevereiro de 1575, quando caiu do cavalo a caminho de Manfredônia. Entre lágrimas e arrependimento, exclamou: “Basta de mundo!”. Esse momento marcou sua entrega total a Deus e ao serviço aos enfermos.
Apesar de desejar tornar-se um Capuchinho, sua ferida o impediu de ingressar na ordem. No entanto, em Roma, enquanto trabalhava no Hospital São Tiago, descobriu sua verdadeira vocação: cuidar dos doentes com amor e dignidade. O que começou como um simples serviço tornou-se missão de vida e, inspirado por Cristo, Camilo reuniu homens que compartilhavam seu desejo de servir. Em 1591, essa comunidade foi oficialmente reconhecida como a Ordem dos Ministros dos Enfermos, os Camilianos, com a cruz vermelha sobre o peito, simbolizando entrega e compaixão.
MISSÃO NO BRASIL

A missão camiliana chegou ao Brasil em 1922, estabelecendo-se em São Paulo. Desde então, os religiosos da ordem expandiram sua atuação, fundando hospitais, universidades e espaços pastorais dedicados à formação profissional e ao cuidado dos enfermos. Atualmente, os Camilianos estão em 33 países, promovendo assistência humanizada e levando esperança a milhões de pessoas.
Na capital paulista, a atuação camiliana se destaca especialmente nos hospitais São Camilo, no Centro Universitário São Camilo e na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na Região Sé. Esses espaços desempenham papel fundamental no atendimento aos enfermos e na promoção de uma espiritualidade voltada ao acolhimento e à dignidade humana.
O Jubileu, além de recordar a trajetória de São Camilo, reforça a importância da missão camiliana na atualidade. Como destacou ao O SÃO PAULO o Padre Mateus Locatelli, Superior Provincial dos Camilianos no Brasil, este Jubileu não é apenas um olhar para o passado, mas uma oportunidade para renovar o compromisso com a missão camiliana. “É um tempo de resgatar a essência do carisma, de reacender o fogo do serviço amoroso aos doentes e inspirar novas gerações a seguirem esse chamado”, afirmou.
O Religioso sublinhou, ainda, que, mais do que recordar a história, o ano jubilar convida a refletir sobre como os camilianos servem os doentes hoje: “A espiritualidade camiliana não é um legado estático. É um impulso vivo, que nos desafia a construir uma assistência cada vez mais humanizada e solidária”.
INDULGÊNCIAS
Por meio de um decreto da Penitenciaria Apostólica, a Santa Sé estabeleceu a concessão da indulgência plenária a todos os fiéis que entre 2 de fevereiro e 8 de dezembro de 2025 cumprirem as condições habituais: Confissão sacramental, Comunhão eucarística e oração pelas intenções do Sumo Pontífice, além de realizarem uma peregrinação à Igreja de Santa Maria Madalena, em Roma, ou a qualquer outra igreja jubilar da Família Camiliana no mundo. “Nesses locais, deverão participar devotamente das celebrações jubilares ou, pelo menos, permanecer por um tempo adequado em oração diante das relíquias do santo Fundador, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, do Credo e com algumas preces dirigidas à Bem-Aventurada Virgem Maria e a São Camilo de Lellis”, diz o decreto.
Em São Paulo, a indulgência, que consiste na remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, poderá ser obtida visitando os oratórios ou capelas dos hospitais São Camilo (Pompeia, Ipiranga e Santana); do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), na Mooca; e do Centro Universitário São Camilo, nos campi Pompeia e Ipiranga.
Além disso, os idosos e doentes impossibilitados de se locomover poderão receber a indulgência ao participarem espiritualmente das celebrações jubilares e oferecerem a Deus suas orações, sofrimentos e dificuldades da vida.
A programação do Ano Jubilar Camiliano na Arquidiocese de São Paulo prevê celebrações nos oratórios dos hospitais e do Centro Universitário São Camilo todo dia 14 de cada mês, até dezembro. A Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia também terá eventos especiais ao longo do ano.
As celebrações visam não apenas a resgatar a história e o carisma camiliano, mas também a fortalecer a espiritualidade do cuidado, destacando a importância da compaixão e do serviço aos doentes. O próprio decreto da Penitenciaria Apostólica incentiva os religiosos camilianos a se dedicarem “com disponibilidade e generosidade à celebração do sacramento da Penitência”, reforçando a dimensão da conversão e do perdão durante este ano jubilar.
RENOVAÇÃO ESPIRITUAL

Mais do que um evento comemorativo, o Jubileu dos 450 anos da conversão de São Camilo de Lellis representa um chamado à renovação espiritual e à vivência concreta da misericórdia. A missão camiliana, que há séculos se dedica aos doentes, continua viva e necessária atualmente.
Neste período jubilar, os Camilianos reafirmam seu compromisso de integrar a celebração ao Jubileu Ordinário da Igreja, destacando o privilégio concedido à ordem de poder oferecer a indulgência plenária aos fiéis. “Que esta celebração nos inspire a sermos presença viva de Cristo na vida dos que sofrem, levando esperança, cuidado e amor a cada coração necessitado”, enfatizou