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Cardeal Scherer faz visita missionária à Prelazia de Tefé (AM) 

Fotos: Prelazia de Tefé

Entre os dias 3 e 8, o Cardeal Odilo Pedro Scherer realizou visita missionária à Prelazia de Tefé (AM), a convite do bispo local, Dom José Altevir da Silva. Foi a segunda vez que o Arcebispo de São Paulo esteve nesta circunscrição eclesiástica situada no coração da Amazônia, e que, pela sua extensão territorial e desafios pastorais, ocupa lugar de destaque na missão da Igreja na região.

Durante os dias de visita, Dom Odilo se encontrou com fiéis, rezou e celebrou com as comunidades, visitou paróquias e participou de momentos de convivência. 

TRADIÇÃO MISSIONÁRIA 

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal detalhou a experiência vivida. Ele recordou, inicialmente, que Tefé é um lugar de forte tradição missionária, no qual os padres da Congregação do Espírito Santo (Espiritanos) iniciaram, no fim do século XIX, sua atuação no Amazonas, assumindo a missão, a pedido do então Bispo de Manaus: “Foi um trabalho missionário realizado a duras penas, com poucos recursos, mas que deu muitos frutos. A vida desses missionários permanece como testemunho de fé e dedicação”.

Logo ao chegar, no dia 3, o Cardeal foi acolhido por Dom Altevir. No dia seguinte, subiu o Rio Japurá por cerca de três horas de barco, percorrendo aproximadamente 120 quilômetros. Ali, visitou comunidades ribeirinhas, celebrou a Eucaristia, ministrou o sacramento da Crisma e conviveu de perto com os moradores. 

“O bonito de ver nessas comunidades é que são muito bem organizadas: têm suas lideranças, catequistas e uma forte consciência social. Há um cuidado especial com a preservação dos lagos, nos quais cultivam peixes como o pirarucu e o tambaqui, garantindo alimento e sustentabilidade para todos”, destacou Dom Odilo.

COMUNIDADES VIVAS

O Arcebispo observou também a presença marcante de comunidades evangélicas, mas ressaltou a vitalidade das comunidades católicas: “Apesar dos desafios, as comunidades católicas estão muito bem estruturadas, com igrejas bem cuidadas e forte senso comunitário. A participação na missa foi muito bonita, o povo cantando e se alegrando com a nossa presença”.

Entre as comunidades que visitou, uma chamou-lhe a atenção de modo especial, a de Bom Jardim, no município de Maraã, às margens do Lago Maraã. “É uma comunidade unida e profundamente católica”, contou. Nesta localidade, Dom Odilo celebrou a Crisma, e se comoveu com a fé simples e firme dos moradores.

Na volta para Tefé, Dom Odilo visitou ainda a histórica “Missão”, às margens do Lago de Tefé, na qual chegaram os primeiros Espiritanos. “Ali permanece a antiga sede, uma grande casa de tijolos feita pelos próprios missionários, hoje utilizada como centro de formação da Prelazia. Visitamos também o cemitério, onde repousam muitos deles, falecidos ainda jovens por doenças tropicais. Foi um momento de grande emoção pensar nesses homens que deram a vida pelo Evangelho”, afirmou.

COTIDIANO AMAZÔNICO

Nos dias seguintes, além das celebrações, o Arcebispo aproveitou para conhecer melhor o cotidiano da população local. Visitou o mercado público, impressionando-se com a abundância de peixes, farinha de mandioca, tapioca e frutas típicas da região. Chamou-lhe a atenção, também, a realidade urbana: “Há uma quantidade imensa de motocicletas, quase não se vê carros. As ruas são tranquilas e, segundo o Bispo, praticamente não há acidentes. É uma realidade muito diferente daquela das grandes cidades”.

No domingo, 7, o Cardeal presidiu a missa na Catedral de Santa Teresa de Ávila, sede da Prelazia, quando manifestou sua gratidão pela acolhida e destacou o valor dessa experiência missionária. 

“Foram poucos dias, mas estou muito contente pela missão realizada. Vale muito a pena que padres e missionários se aventurem para dentro da Amazônia. É um contato enriquecedor com comunidades vivas e com a natureza exuberante, ainda em grande parte preservada. Mas também é um alerta: precisamos frear a devastação, porque se a Amazônia perder o equilíbrio, fará falta para toda a humanidade”.

A PRELAZIA DE TEFÉ

A cidade de Tefé, sede da Prelazia, situa-se na margem direita do Lago de Tefé, a 516km em linha reta de Manaus, ou 663km por via fluvial. Fundada no século XVII pelo jesuíta austríaco Samuel Fritz, é uma das mais antigas do Amazonas.

A Prelazia foi erigida em 1910 por decreto de São Pio X, inicialmente como Prefeitura Apostólica, e elevada por Pio XII, em 1950, à condição de prelazia nullius, diretamente subordinada à Santa Sé. Em 1952, Dom Joaquim de Lange foi nomeado o primeiro Prelado. Atualmente, Dom José Altevir é o quinto a exercer essa missão.

Com uma área de 264.677km² e população estimada em 237.782 habitantes, a Prelazia abrange dez municípios do interior amazonense: Tefé, Maraã, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Jutaí, Juruá, Carauari, Itamarati e Japurá. Sua estrutura pastoral conta com 14 paróquias, duas áreas missionárias, cerca de 415 comunidades rurais e 44 comunidades urbanas, distribuídas ao longo dos Rios Solimões, Japurá, Juruá, Tefé e Jutaí.

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