Infecções respiratórias e desidratação são as principais preocupações. Pessoas com comorbidades, idosos e crianças precisam de cuidados redobrados
Queimadas em diferentes pontos do Brasil, presença de uma massa de ar quente e seca e a ausência de chuvas fizeram com que os paulistas sentissem os impactos da piora da qualidade do ar nas últimas semanas, já que não houve a ideal dispersão de partículas poluentes inaláveis como poeira, fuligem e fumaça.
Para se ter ideia do que foi vivenciado, entre os dias 9 e 12, os amostradores da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) indicaram valores de 200 micrograma/m³ de material particulado no ar na capital paulista. O recomendando pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que este indicador não seja superior a 45.
Impactos à saúde
As consequências do tempo seco para a saúde vão desde ardência e ressecamento da pele, dos olhos, boca e do nariz, até o agravamento de doenças respiratórias.
“O tempo seco resseca a mucosa respiratória, abrindo pequenas fissuras pelas quais algumas bactérias e vírus se aproveitam para entrar no organismo. Nessas ocasiões, é preciso se proteger para evitar este ressecamento e, assim, as infecções respiratórias de modo geral”, explicou, ao O SÃO PAULO, o médico Igor Marinho, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Marinho alerta que especialmente as pessoas que já tenham asma, sinusite, doença pulmonar obstrutiva crônica, bem como os tabagistas e aquelas com algum tipo de neoplasia de pulmão precisam de cuidados adicionais com a hidratação e umidificação das vias aéreas; assim como os idosos e crianças.
“Em crianças, a imunidade está em formação e nos idosos pode estar em processo de senescência. Com uma imunidade mais deficiente, existe o risco maior de que essa falta de umidade na via aérea predisponha a uma infecção. Além disso, as crianças geralmente têm uma via aérea mais retificada, e estão mais predisposta a infecções de vias aéreas superiores, por isso a atenção com elas deve ser até maior”, explica o médico.
Cuidados elementares
No último dia 10, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo publicou diretrizes para o enfrentamento da piora da qualidade do ar. Entre as orientações estão a de que se evite a prática de exercícios físicos ao ar livre, hidratar-se com mais frequência, lavar o nariz e os olhos com soro fisiológico e umidificar os ambientes (leia a lista de dicas ao lado).
No sábado, 14, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) elaborou uma lista de recomendações diante do aumento da concentrações de poluentes no ar.
Para as pessoas do chamado grupos de risco – portadoras de doenças crônicas metabólicas, cardiovasculares e respiratórias e imunocomprometidas, crianças até 2 anos e adultos com 65 anos ou mais, a SBPT recomenda que mantenham-se hidratadas; permaneçam o maior tempo possível no interior dos domicílios com as janelas fechadas; evitem a prática de exercícios físicos. No caso de pessoas hígidas, ou seja, em boas condições de saúde, é igualmente recomendável a boa hidratação e que se forem praticar exercícios ao ar livre não excedam os 30 minutos diários.
“Medidas especiais devem ser adotadas para os que trabalham em ambientes externos, como entregadores, operadores de tráfego, policiais, motoristas profissionais em geral, trabalhadores rurais, na construção civil. São recomendáveis a redução de jornadas de trabalho diária e semanal e a utilização de máscaras”, indica a SBPT.
Usar ou não máscara?
A SBPT já recomenda que tanto as pessoas dos grupos de risco quanto as saudáveis façam o uso de máscaras em dias secos, mas não há um consenso na comunidade médica a este respeito.
“Ainda não há indicação da necessidade de retorno do uso de máscaras para o dia a dia, até porque não existe nenhuma infecção viral que esteja totalmente descontrolada, como foi na época da pandemia de COVID-19”, comenta Igor Marinho. “E o uso de máscara não favorece que se evite a perda de líquido para o ambiente mais seco, assim também não seria recomendado com essa intenção”, detalha.
Transição de ambientes
Quem se utiliza do transporte público na cidade muitas vez tem de lidar com uma brusca mudança, saindo, por exemplo, de uma composição de trem com baixa temperatura e alta umidade, para o clima seco e de temperatura elevada das ruas.
Igor Marinho detalha que as mucosas nasal e da garganta não estão preparadas para esta mudança brusca, a qual “pode causar, eventualmente, tornar mais propício o ressecamento dessas mucosas. Por isso, seria ideal tentar evitar essas mudanças, mas as pessoas não têm essa opção”, observa, comentando que não adianta nem mesmo dar aquele famoso “tempinho” no saguão do metrô antes de ir para o ambiente externo: “Isso não vai ser o suficiente para evitar que haja um ressecamento de mucosas”.
Remédios para dores de cabeça
E em dias mais secos e quentes, também não é incomum que algumas pessoas sintam dores de cabeça e recorram a medicações por conta própria. Seria um risco?
“O uso de sintomáticos comuns é totalmente possível neste caso, ou seja, daqueles que podem ser comprados sem prescrição médica, o que inclui a medicação nasal local. No entanto, se a pessoa já tomou um remédio para dor de cabeça, mas passado alguns dias a dor voltar, o ideal é procurar assistência médica para que se verifique o que pode estar acontecendo, e, também, se algum sintoma piorar, indicando algum sinal de gravidade. Por exemplo: no começo era só uma dor de cabeça, agora vem acompanhada da fraqueza de um dos membros ou de um sangramento nasal. Aí é preciso buscar ajuda médica”, explica Igor Marinho.
RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS
- Evite a prática de atividades físicas ao ar livre nos dias mais secos;
- Aumente o consumo de água e líquidos como sucos naturais e água de coco para manter a hidratação do organismo e das vias aéreas;
- Evite o acúmulo de poeira no ambiente doméstico;
- Mantenha portas, janelas frestas fechadas, para reduzir a entrada de partículas;
- Lave o nariz e olhos com soro fisiológico;
- Use hidratantes para a pele;
- Utilize umidificadores domésticos, desde que sejam limpos diariamente; ou toalhas molhadas e bacias com água para umidificar a casa;
- Evite locais com grande concentração de fumaça (em caso da exposição seguida por náuseas, vômitos, febres, falta de ar, tontura, confusão mental ou dores intensas de cabeça, no peito ou abdômen, procure por atendimento de saúde imediatamente)
- Em regiões de queimadas, ao sair de casa, utilize máscaras do tipo N95, PFF2 ou P100.
Fontes: Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo e Ministério da Saúde
7 PLANTAS PARA UMIDIFICAR OS AMBIENTES
Alguns sites de botânica e de decoração indicam que algumas plantas ajudam a purificar ou umidificar o ambiente doméstico, seja pela alta capacidade de converter gás carbônico em oxigênio, seja por ajudar a eliminar substâncias químicas e poluentes. As espécies recorrentemente mencionadas são: Lírio-da-paz, Babosa, Clorofito, Pau d’água, Jiboia e a Palmeira de jardim. É importante se informar sobre as condições ideais para a manutenção destas plantas, como, por exemplo, se devem ser expostas ou não ao sol.