Como vai a sua saúde bucal?

Temática ganha destaque anual em Dia Mundial, celebrado em 20 de março, com o objetivo de conscientizar a sociedade a adotar hábitos odontológicos saudáveis

Se alguém lhe perguntasse com que periodicidade você vai ao dentista, qual seria a sua resposta? A programadora Laura Grassi, 28, vai a cada seis meses. Isso porque, desde a infância, ela mantém os cuidados com a saúde bucal. À reporta­gem, ela recordou que apesar dos recursos limitados, seus pais a levavam regular­mente ao dentista, acreditando que muitos problemas de saúde poderiam ser evitados com a orientação correta.

“Meus pais sofriam e ainda sofrem por causa da falta de cuidado. Antiga­mente, os profissionais infelizmente não tinham tanto conhecimento; era na base do ‘deu problema, arranca’. Desde crian­ça, eles investiram o que podiam para que eu tivesse uma vida diferente”, lem­brou a programadora.

Durante a infância, Laura fez trata­mento ortodôntico para alinhamento dos dentes e de canais para cura de infecções. Atualmente, ela faz uso de um aparelho para evitar problemas futuros: “Desde pe­quena, tive dificuldades porque meus den­tes eram muito tortos. A mordida errada causava dores e afetava minha fala”.

Laura procura ser um exemplo para seus pais e marido, sempre enfatizando a relevância de manter uma rotina de cui­dados com a saúde bucal, incluindo vi­sitas regulares a especialistas. Para ela, o imediatismo da sociedade é um fator que contribui para a resistência ao tratamen­to odontológico, pois diferentemente de outras doenças, os problemas dentários muitas vezes só se manifestam em estágios avançados.

URGÊNCIA MAIOR ENTRE OS ADULTOS

De acordo com a pesquisa SB Brasil 2023, organizada pelo Ministério da Saú­de para avaliar a situação da saúde bucal no País, a maioria dos adultos entre 35 e 44 anos precisa de tratamento odontoló­gico eletivo, enquanto 10% necessitam de atendimento de urgência.

Por outro lado, a pesquisa revelou que as crianças de 5 anos têm apresentado me­nos cáries, com 53,17% delas sem qual­quer infecção dentária. Mais de 44% das crianças nesta faixa etária já passaram por serviços odontológicos

Entre os adolescentes com 12 anos de idade, quase 17% afirmaram ter sen­tido dor de dente nos últimos seis meses anteriores à pesquisa, sendo que a saúde bucal impactou as atividades diárias de 18,89% ao comer, e de 17,58% ao dor­mir. Nesse grupo, 40% não procurou o dentista no ano anterior à realização da pesquisa, feita entre fevereiro e junho de 2022, com 50,8 mil moradores de 422 municípios.

PORTA DE ENTRADA PARA DOENÇAS

O Dia Mundial da Saúde Bucal, ce­lebrado em 20 de março e instituído em 2013 pela Federação Dentária Internacio­nal (FDI), reforça a conscientização de que a saúde começa pela boca. Doenças como leucemia, diabetes, endocardites, doenças autoimunes e anemia podem estar relacio­nadas à falta de cuidados odontológicos.

A gengivite, causada pela má higiene bu­cal, pode, por exemplo, elevar os níveis de glicemia no sangue devido ao sangramento, o que agrava o quadro de diabéticos.

O câncer bucal, uma doença comum entre os brasileiros, também pode ser prevenido com cuidados diários. O Brasil ocupa a terceira posição no ranking mun­dial de incidência dessa doença, que pode ser provocada pela falta de higiene e trau­mas na boca.

Além disso, doenças como ateroscle­rose e endocardite podem estar associadas à periodontite, uma infecção bacteriana nos tecidos que envolvem os dentes. O tratamento adequado é fundamental, in­clusive entre gestantes.

CAMINHO PARA UMA VIDA SAUDÁVEL

A saúde bucal é essencial não só para o bem-estar e a autoestima, mas também para a saúde geral do corpo: “Cuidar do sorriso é o mesmo que preservar a saúde de todo o organismo”, afirmou a cirurgiã­-dentista Lilian Hidaka.

Segundo a especialista, a preocupação com a saúde bucal tem aumentado, espe­cialmente entre a população idosa. Con­tudo, ela destaca que os cuidados devem começar desde a infância e ser mantidos ao longo da vida.

“Tenho atendido pacientes que estão se recuperando de episódios de ansiedade e depressão, e fico feliz ao ver que a saúde bucal é uma das primeiras coisas a serem restauradas quando há melhora no qua­dro. Cuidar da saúde bucal vai além da es­tética, envolve o bem-estar físico, psíquico e social”, comentou.

A dentista também observou que uma parte da população ainda enfrenta resistência ao cuidado odontológico, de­vido ao difícil acesso a itens de higiene pessoal, escovação inadequada e falta de recursos e orientações. Fatores que po­dem causar, segundo ela, problemas den­tários irreversíveis.

POLÍTICA NACIONAL

Atualmente, o Brasil oferece cobertura de saúde bucal a cerca de 45% da popula­ção, com a meta do Ministério da Saúde de alcançar 70%. O programa Brasil Sor­ridente, criado em 2004 como parte da Política Nacional de Saúde Bucal, visa a aumentar a acessibilidade aos serviços de odontologia e garantir diagnóstico e trata­mento adequados.

O programa é desenvolvido por meio de ações do Ministério da Saúde, como o Programa Saúde na Escola e Saúde do Tra­balhador, e é garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Suas metas incluem am­pliar a cobertura odontológica no SUS, reduzir índices de cáries e doenças bucais, oferecer tratamentos especializados e in­corporar a saúde bucal na atenção primária.

A participação no programa se dá por agendamento de consulta em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), em que também é possível verificar a possibili­dade de colocação de próteses dentárias. Casos mais complexos são encaminhados para um Centro de Especialidades Odon­tológicas. Saiba mais detalhes pelo site: www.gov.br/saude