Conheça os homens e mulheres que na Terra de Santa Cruz viveram a santidade

Neste mês de novembro, iniciado com a Festa de Todos os Santos, no dia 1º, o jornal O SÃO PAULO apresenta a biografia dos 37 santos e 54 beatos que em solo brasileiro viveram a radicalidade da fé, alguns dos quais martirizados.

“Ao canonizar certos fiéis, isto é, ao proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do Espírito de santidade que está nela, e ampara a esperança dos fiéis, propondo-lhes os santos como modelos e intercessores”, lê-se no Catecismo da Igreja Católica (CIC 828).

Santos Roque Gonzáles, Afonso Rodrigues e João de Castilho (+1628)

Os jesuítas Roque Gonzáles, Afonso Rodrigues e João de Castilho são considerados os primeiros evangelizadores do Rio Grande do Sul. Roque era paraguaio e desde a juventude se destacava pela firmeza nos assuntos da fé católica. Ordenado sacerdote, aos 22 anos, em Assunção, sempre demonstrou-se preocupado com os indígenas tratados como escravos naquela época. Ingressou na Companha de Jesus em 1609 e foi enviado em missão a territórios indígenas, com os Padres Afonso Rodrigues e João de Castilho, vindos da Espanha. Em 3 de maio de 1626, eles celebraram a primeira missa no atual território da cidade de São Nicolau (RS). Ao longo de dois anos e meio, fundaram cinco comunidades, mas encontraram resistências de indígenas mais rebeldes. Em 15 de novembro de 1628, após uma missa, os Padres Roque e Afonso foram assassinados; dois dias depois, a vítima seria o Padre João de Castilho. Os três foram beatificados em 28 de janeiro de 1934, por Pio XI, e canonizados por São João Paulo II em 16 de maio de 1988.

São José de Anchieta (1534-1597)

O “Apóstolo do Brasil” nasceu em São Cristóvão da Laguna, na Espanha. Na juventude, foi estudar na Universidade de Coimbra, em Portugal. Anchieta ingressou na Companhia de Jesus em 1553 e foi enviado em missão ao Brasil. Ele e mais seis jesuítas aportaram primeiro na Bahia e, no ano seguinte, na Capitania de São Vicente. Junto com o então Provincial do Brasil, o Padre Manoel da Nóbrega, fundou em 25 de janeiro de 1554, o colégio que deu origem à cidade de São Paulo. Anchieta ensinou a doutrina cristã aos indígenas, bem como noções de higiene, medicina, música e literatura. Após a morte de Manoel da Nóbrega, em 1567, ele se tornou Provincial do Brasil e realizou missões pelo território brasileiro. Anchieta morreu em 9 de junho de 1597, aos 63 anos, em Reritiba, atual cidade de Anchieta (ES). Ele foi beatificado por São João Paulo II em 22 de junho de 1980, e proclamado santo pelo Papa Francisco em 3 de abril de 2014.

Santo Antonio de Sant’Anna Galvão (1739-1822)

Após ser ordenado sacerdote em 1762, o frade franciscano, nascido em Guaratinguetá (SP), foi designado para o Convento de São Francisco, em São Paulo. A partir de 1770, tornou-se confessor do Recolhimento Santa Teresa. Em 1774, por influência da Irmã Helena Maria do Espírito Santo, fundou o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Frei Galvão era propagador da imaculada conceição de Maria e difundiu essa convicção especialmente nas famosas pílulas confeccionadas no Recolhimento e distribuídas pelas monjas concepcionistas. Ele empenhou-se para ampliar as instalações do local, o atual Mosteiro de Nossa Senhora da Luz, onde viveria seus últimos dias. Faleceu em 23 de dezembro de 1822 e está sepultado na capela do Mosteiro. Frei Galvão foi beatificado em 25 de outubro de 1998 e canonizado pelo Papa Bento XVI em 11 de maio de 2007, no Campo de Marte, em São Paulo. É invocado como o padroeiro dos construtores civis, arquitetos, engenheiros, pedreiros e pintores.

Santa Dulce dos Pobres (1914-1992)

Desde a adolescência, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes tinha especial atenção aos mendigos e doentes de Salvador (BA) e desejava se consagrar a Deus. Aos 18 anos, após ter se formado no Magistério, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus e adotou o nome de Irmã Dulce. Sua primeira missão foi a de professora em um colégio da Congregação. Em 1935, iniciou um trabalho de assistência à comunidade carente de Alagados, onde também fundou um posto médico. Em 1939, passou a abrigar doentes e pessoas em situação de rua em um barracão ocupado, mas após a ordem de desocupação, abrigou-lhes no galinheiro do Convento, que em maio de 1959 se tornaria o Albergue Santo Antônio, que com a expansão ao longo das décadas é hoje conhecido como Obras Sociais Irmã Dulce. O “Anjo Bom da Bahia” morreu em 13 de março de 1992, aos 77 anos. Ela foi beatificada em 22 de maio de 2011, em Salvador, e canonizada em 13 de outubro de 2019 pelo Papa Francisco.

Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus (1865-1942)

Amábile Lúcia Visintainer nasceu em Vigolo Vattaro, na Itália. Sua família imigrou para o Brasil, estabelecendo-se em Nova Trento (SC). Após a autorização de seu pai, a jovem construiu um casebre próximo à capela da vila de Vigolo para rezar, cuidar dos doentes e instruir as crianças. Surgia, assim, a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, com Amábile e Virgínia Rosa Nicolodi, que quatro meses depois professariam os votos religiosos com a jovem Teresa Anna Maule. Amábile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus e foi nomeada superiora. Em 1903, chegou a São Paulo e fixou-se no bairro do Ipiranga, dando início à obra da Sagrada Família, que abrigava ex-escravos e seus filhos. Acometida pelo diabetes a partir 1938, teve o braço direito amputado e cegueira total. A Madre faleceu em 9 de julho de 1942. Foi beatificada em 1991 por São João Paulo II durante a viagem apostólica que realizou ao Brasil, e por ele canonizada em 19 de maio de 2002.

Os 30 Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu (+1645)

Padre André de Soveral, Padre Ambrósio Francisco Ferro, o sacristão Mateus Moreira e outros 27 leigos foram martirizados por causa da fé em 1645 nas cidades de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte. Em 16 de julho daquele ano, durante missa na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, Padre André e os fiéis foram aprisionados e assassinados por neerlandeses calvinistas. Meses depois, em 3 de outubro, católicos que haviam fugido de Cunhaú após o massacre foram atacados e massacrados às margens do rio Uruaçu, no território da atual cidade de São Gonçalo de Amarante, após se recusarem à conversão ao calvinismo. Entre os mortos estavam o Padre Ambrósio e o sacristão Mateus. Os protomártires do Brasil, como são conhecidos, foram beatificados em 5 de março de 2000 e canonizados pelo Papa Francisco em 15 de outubro de 2017.

Lindalva Justo de Oliveira (1953-1993): Nascida em Açu (RN), ela se mudou para a capital potiguar na juventude e ingressou na Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Ao concluir o noviciado, em janeiro de 1991, foi enviada em missão a um abrigo em Salvador (BA), onde cuidava dos idosos. Dois anos depois, começou a ser assediada por um homem. Ela recusou deixar a vida religiosa para unir-se a ele, que acabou por assassiná-la a facadas, em 9 de abril de 1993, uma Sexta-feira Santa.

Beatificação: 02/12/2007

Mariano de la Mata Aparício (1905-1983): Nascido em Palência, na Espanha, foi ordenado sacerdote em 1930, na Ordem de Santo Agostinho. No ano seguinte, foi enviado em missão ao Brasil. Destacou-se por seu trabalho na Paróquia Santo Agostinho, em São Paulo. Faleceu em 5 de abril de 1983.

Beatificação: 05/11/2006 (na Catedral da Sé)

Beatos Manuel Gómez Gonzáles e Adílio Daronch (+1924): Padre Manuel, espanhol, chegou ao Brasil em 1913, atuando primeiramente no Rio de Janeiro (RJ) e depois no Rio Grande do Sul. Em 1915, foi enviado a uma paróquia de Nonoai (RS), onde já atuava o jovem acólito Adílio, que passou a acompanhar o Sacerdote em visitas missionárias. Em 21 de maio de 1924, na floresta de Três Passos, perto da fronteira com o Uruguai, eles foram capturados por revolucionários locais, amarrados em árvores e fuzilados.

Beatificação: 21/10/2007

Nhá Chica (1808-1895): Filha de mãe escrava, Francisca de Paula de Jesus nasceu em São João del Rei (MG), mas passou a maior da vida em Baependi, destacando-se pela assiduidade na oração e nas obras de misericórdia. Nhá Chica construiu uma capela dedicada à Imaculada Conceição, onde ela foi sepultada ao falecer em 14 de junho de 1895.

Beatificação: 04/05/2013

Eustáquio Van Lieshout (1890-1943): Nascido nos Países Baixos, foi ordenado sacerdote em 1919 na Congregação dos Sagrados Corações. Chegou ao Brasil em 1925. Dedicou-se à construção de um santuário em Água Suja, atual cidade de Romaria (MG). Tinha grande atenção aos enfermos e muitos relatavam graças ao serem por ele abençoados, em Poá (SP), onde atuou a partir de 1935. Morreu na capital mineira em 30 de agosto de 1943.

Beatificação: 15/06/2006

Benigna Cardoso (1928-1941): Natural de Santana do Cariri (CE), ficou órfã ainda na infância e foi adotada por outra família. Em 24 de outubro de 1941, aos 13 anos, foi atacada por um rapaz que desejava abusar-lhe sexualmente. Para defender sua castidade, ela resistiu e acabou morta a facadas.

Beatificação: 24/10/2022

Bárbara Maix (1818-1873): Teve de deixar sua pátria, a Áustria, em 1848. No ano seguinte, no Rio de Janeiro, fundou a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, dedicada à educação de crianças e jovens mais pobres. A partir de 1855, atuou no Rio Grande do Sul. Morreu em Petrópolis (RJ), em 17 de março de 1873.

Beatificação: 06/11/2010

Albertina Berkenbrock (1919-1931): Filha de um casal de agricultores, ela nasceu em Imaruí (SC) e aprendeu as verdades da fé em família. Em 15 de junho de 1931, a menina de 12 anos saiu à procura de um boi que havia se perdido nos pastos e um homem a quem a família conhecia tentou abusá-la sexualmente. Ela buscou defender a própria castidade, mas acabou por ele degolada.

Beatificação: 20/10/2007

João Schiavo (1903-1967): Natural de Sant’Urbano de Montecchio Maggiore, na Itália, foi ordenado sacerdote em 1927 na Congregação dos Josefinos de Murialdo. Quatro anos depois, chegou ao Brasil, atuando em cidades do Rio Grande do Sul na formação de seminaristas e noviços, bem como em obras sociais para crianças e jovens. Faleceu em 27 de janeiro de 1967, em Caxias do Sul (RS).

Beatificação: 28/10/2017

Isabel Cristina (1962-1982): Nascida em Barbacena (MG), era assídua nos sacramentos e devota de Nossa Senhora. Em 1º de setembro de 1982, aos 20 anos, em Juiz de Fora (MG), foi morta a facadas após resistir a uma tentativa de violência sexual.

Beatificação: 10/12/2022

Francisco de Paula Victor (1827-1905): O primeiro beato ex-escravo do Brasil nasceu em Campanha (MG) e foi ordenado sacerdote em 1851. A partir de 1852, exerceu o ministério sacerdotal em Três Pontas (MG), suportando vários insultos. Teve especial atenção aos mais pobres e criou a primeira escola da cidade. Morreu em 23 de setembro de 1905.

Beatificação: 14/11/2015

Assunta Marchetti (1871-1948): A cofundadora das Irmãs Scalabrinianas nasceu em Lombrici-Camaiore, na Itália, e chegou a São Paulo aos 24 anos, em 1895, para ajudar seu irmão, o Padre José Marchetti, no cuidado das crianças do orfanato feminino da Vila Prudente, onde esteve a maior parte de sua vida. Lá morreu em 1º de julho de 1948.

Beatificação: 25/10/2014 (na Catedral da Sé)

Donizetti Tavares (1882-1961): Natural de Cássia (MG) e criado em Franca (SP), foi ordenado sacerdote em 1908, tendo atuado em paróquias em Pouso Alegre (MG) e nas cidades paulistas de Jaguariúna e Vargem Grande do Sul, com atenção especial às vítimas da exploração do trabalho; e em Tambaú (SP), onde salvou intacta de um incêndio uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ele faleceu em 16 de junho de 1961.

Beatificação: 23/11/2019

Inácio de Azevedo e 39 companheiros (+1570): Português, Inácio recebeu a ordenação sacerdotal na Companhia de Jesus em 1553. Na década de 1560, foi enviado ao Brasil e à Índia para vistoriar as missões jesuítas. Ao regressar à Europa, pediu aos superiores a vinda de mais missionários. Em 5 de junho de 1570, Inácio e 39 companheiros partiram para o Brasil em um navio mercante. Em 15 de julho, a embarcação foi atacada por calvinistas franceses que degolaram todos os jesuítas a bordo. A memória litúrgica destes 40 mártires é recordada em 17 de julho, após ser autorizada pelo Papa Pio IX, em 1854.

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