
Reunidos no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP), na 87ª Assembleia dos Bispos do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os prelados iniciaram o segundo dia de atividades, na quarta-feira, 4, com a missa presidida por Dom Luiz Antônio Lopes Ricci.
O Bispo de Itapetininga deu a dimensão da sinodalidade que tem permeado as discussões; “período vivido na alegria Pascal, mas muito intenso na realidade eclesial”, disse, fazendo referência ao fim do pontificado do Papa Francisco e início da missão de Leão XIV. “Uma Assembleia como essa é uma expressão do cuidado de Deus”, completou.
ELEIÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Ainda na manhã do segundo dia de Assembleia, os bispos paulistas se reuniram em sessão reservada para encaminhar, entre outras prioridades, a eleição da nova presidência. Foram confirmados em suas funções para o período de 2025-2027: Dom Moacir Silva (presidente), Dom Luiz Carlos Dias (vice-presidente) e Dom Carlos Silva, OFMCap. (Secretário-geral).
Dom Devair Araújo da Fonseca, bispo diocesano de Piracicaba, foi indicado ao Conselho Fiscal da Entidade.
AS DGAE NA PERSPECTIVA SINODAL
Como realizar uma Assembleia Diocesana a partir das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) em perspectiva sinodal? A pergunta foi apresentada como “norte” da partilha realizada pelo secretário-executivo do Setor de Campanhas da CNBB, Padre Jean Poul Hansen. Segundo ele, “as Diretrizes apresentarão a ‘tenda’ como sinal. A flexibilidade da tenda nos ajuda a modificar, mudar de lugar e migrar a cada nova direção dada por Deus”.
Ainda falando aos coordenadores de pastoral das Dioceses e Arquidioceses Paulistas, o Padre Jean Poul recordou aspectos apoiados na comunhão, participação e missão. Segundo ele, “é porque somos partícipes da comunhão eclesial é que somos enviados à missão”, disse.
Circulando pelos diversos capítulos da proposta de DGAE, a ser efetivada a partir de 2026, o expositor sublinhou os agentes eclesiais e suas contribuições no contexto. Recordando que o primeiro sujeito da missão é a Igreja local, especial atenção foi dedicada aos leigos, às mulheres, crianças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiências, famílias, idosos e enfermos, migrantes, vida consagrada, ministros ordenados e ministros leigos. Diante de tantas realidades, “nós não podemos praticar a lógica do descarte”, alertou o presbítero.
Iniciação à Vida Cristã, Comunidades de discípulos missionários, Liturgia e piedade popular, e cuidado da criação se apresentam como as quatro “balizas” para a formulação dos futuros planos de pastoral locais. “A única prioridade das novas Diretrizes são as comunidades de discípulos missionários. Eu penso que aqui nós temos um grande desafio pastoral”, sublinhou o Padre Jean. “Celebração, Catequese, círculo bíblico, corresponsabilidade e compromisso de transformação social” são, segundo o padre, os cinco “cês” da ação evangelizadora.
“O sínodo é um dos mais precisos legados da última sessão conciliar”. Resgatando pensamento do Papa Francisco, o Padre Jean recordou que, para efetivação do espírito sinodal, não se pode ter pressa ou ideias previamente estabelecidas.
Considerando que os processos são mais importantes que os resultados contabilizáveis, o padre ofereceu pistas para uma Assembleia Diocesana que não figure como simples evento. “Nós somos frutos de um processo ou de um evento?”, provocou o expositor. Ainda no contexto das pistas, o assessor recordou que o Espírito Santo deve ser o protagonista do processo sinodal. “
DINÂMICA SINODAL
O Bispo de Camaçari (BA), Dom Dirceu de Oliveira Medeiros, levou o episcopado paulista à Assembleia Sinodal, no Vaticano, com a Conversação Espiritual, na tarde do dia 4. O epíscopo, que participou das duas sessões da Assembleia Sinodal em Roma, sublinhou que o “Sínodo não é um evento, mas um longo processo”.
Um documento permeado pela Palavra de Deus
“Quando as conclusões eram fruto de clima orante e discernido, percebia-se muita maturidade”, partilhou Dom Dirceu. Apoiado nessa certeza, o bispo apresentou os seis blocos do documento final. “Ainda temos um longo caminho a percorrer para entender o que é sinodalidade”, partilhou.
A conversão pastoral e permanente, tema tão sublinhado no Documento de Aparecida, aparece permeado no Documento Final do Sínodo. “Fico pensando se essas indicações não vieram da 5ª Conferência”. Recordando que a pastoral não se faz por decreto, Dom Dirceu que o método de discernimento jesuítico foi bem utilizado na caminhada sinodal. “Se a gente não cria o vínculo primário (Comunidades Eclesiais Missionárias), a gente não consegue evangelizar”, completou.
Com base nas práticas sinodais que precisam ser fortalecidas, Dom Dirceu lançou duas perguntas para nortear o entendimento do Documento Final com especial cuidado para que a sinodalidade não vire um slogan.
Lembrando que o método (Conversa no Espírito) contribuiu para o resultado do Sínodo, o bispo tomou homilia do Cardeal Grech para concluir a partilha. “Nesse mundo fragmentado, a comunhão da Igreja é um sinal profético para o próprio mundo”, finalizou com pensamento de Sua Beatitude Ibrahim Issac Sidrak: “Talvez não seja tanto necessário fazer coisas novas, mas fazer novas as coisas”.
CONVERSA NO ESPÍRITO

À exceção da Província de São Paulo, que pela extensão foi dividida em dois grupos, as demais Sub-regiões pastorais se reuniram à luz da primeira carta de São Paulo aos Coríntios. Do capítulo doze foram escolhidos os versículos de sete a 11. “A cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum” é a síntese do texto norteador.
Recordando as palavras do Papa Francisco, que apontou que “o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, os participantes da Conversa no Espírito ofereceram contribuições para responder duas questões: o que identificamos do Sínodo na caminhada da Igreja no Brasil e em nossas Igrejas locais que podemos aprofundar e potencializar? Ao olhar a caminhada da Igreja no Brasil, focando em nossas Igrejas locais, quais os principais desafios que identificamos para recepção do Sínodo?
O grupo de Aparecida recordou os exemplos de sinodalidade já existentes. Foram destacados o grande número de Documentos desconhecidos e não praticados, o que também figura como um risco para os textos sinodais.
A sub-região de Botucatu sublinhou as propostas em efetivação. “Transformar a mentalidade e fazer novas todas as coisas” foram apontados como desafios, junto à vivência da missionariedade. Já Campinas, completou a partilha lembrando que todos estão em processo sinodal, por exemplo, a partir dos Conselhos Paroquiais. Aprofundar o Documento Final do Sínodo é, igualmente, uma meta a ser perseguida. “Necessidade de formação acerca de autoridade e poder” foi o aspecto mais destacado pela sua exigência. “É preciso perseverar na sinodalidade com esperança”, partilhou o relator de Campinas.
Sorocaba apelou para o aprofundamento dos vínculos. O grupo também apontou para a comunicação, diálogo com os jovens e a conversão pastoral. “A Igreja em Saída anuncia, mas também escuta”, disse.
O grupo paulistano citou a Pastoral Presbiteral como espaço de escuta e diálogo. “A Arquidiocese de São Paulo viveu o sínodo arquidiocesano, o que facilitou a compreensão (do método sinodal)”. Também foi destacada a conversão como estilo de vida. “A corresponsabilidade na missão é para todos”.
Considerando a dignidade batismal, a sub-região Ribeirão Preto entendeu que “existem muitos desafios a vencer”. Segundo o grupo, é preciso perceber que os dons do Espírito são para todos. “A Conversa no Espírito é um ganho. É preciso ter esperança nessa metodologia. Se há a participação de todos, todos tornam-se corresponsáveis de uma missão e de uma conversão”, concluiu o representante da nova Província Eclesiástica de São José do Rio Preto.
No programa do segundo dia de Assembleia, a celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas e os dez anos da Lautato sí foi o destaque da noite.
NOVAS ASSESSORIAS

Dentre as sessões do segundo dia, o episcopado paulista instituiu duas novas assessorias para favorecer o acompanhamento pastoral em todo o Estado.
“As Novas Comunidades e Associação de Fiéis” e a “Ordem das Virgem e Leigas Consagradas” contarão com a assessoria de bispos para promover a ação evangelizadora nestes grupos nas arquidioceses e dioceses paulistas.
“O acompanhamento por meio destas assessorias episcopais manifesta o desejo de proximidade do Regional Sul 1 para essas dimensões em todo o Estado”, enfatizou o Padre Luís Fernando da Silva.
O bispo diocesano de São João da Boa Vista, Dom Eugênio Barbosa Martins, SSS, foi escolhido como assessor regional para a Ordem das Virgens e Leigas Consagradas e as Novas Comunidades e Associações de Fiéis no Regional contarão com a assessoria de Dom Cícero Alves de França, bispo auxiliar de São Paulo.
(Com informações da Pascom do Regional Sul 1 da CNBB)