No mês de agosto, dedicado pela Igreja no Brasil às vocações, o último domingo (ou o quarto, quando há cinco domingos no mês) dá ênfase à vocação dos cristãos leigos.
A palavra leigo (em grego laïkós, e em latim laicus) deriva da palavra grega laós, que quer dizer “povo”. Embora o senso comum tenha reduzido o significado desse termo para se referir a alguém que não tenha conhecimento sobre determinado assunto, na vida da Igreja leigo se refere a uma vocação, isto é, a um modo de corresponder concretamente ao chamado universal de Deus à santidade.
VOCAÇÃO BATISMAL
A constituição dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, define os leigos como todos os cristãos, com exceção dos membros da ordem sacra ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, que “incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em povo de Deus e feitos participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”.
Na exortação apostólica Christifideles laici (1988), São João Paulo II salientou que, em virtude da comum dignidade batismal, o fiel leigo é corresponsável, com os ministros ordenados e com os religiosos e as religiosas, pela missão da Igreja. Possui, contudo, uma modalidade que o distingue e lhe é peculiar: a índole secular, apontada pelo Concílio Vaticano II.
TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
“Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo”, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicado em 2016, ressalta que o primeiro campo e âmbito da missão do cristão leigo é o mundo. “Os cristãos leigos são chamados a ser os olhos, os ouvidos, as mãos, a boca, o coração de Cristo na Igreja e no mundo.”
Sobre esse aspecto, o Papa Francisco alertou, na exortação apostólica Evangelii gaudium (2013), para o risco de o compromisso laical não ser refletido na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico, limitando-se, muitas vezes, às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade.
Ao mesmo tempo, o texto do episcopado recorda que o cristão leigo é o verdadeiro “sujeito eclesial”, vivendo fielmente sua condição de filho de Deus na fé, aberto ao diálogo, à colaboração e à “corresponsabilidade com os pastores”. O texto também reforça: “Não é preciso ‘sair’ da Igreja para ‘ir’ ao mundo, como não é preciso ‘sair’ do mundo para ‘entrar’ e ‘viver’ na Igreja”.
TESTEMUNHO DE SANTIDADE
Ao longo da história da Igreja, foram muitos os homens e mulheres que viveram as virtudes cristãs de forma heroica como leigos, nos mais variados campos da sociedade. Alguns desses foram reconhecidos pela Igreja como santos e bem-aventurados, como os apresentados abaixo.
Beato Pier Giorgio Frassati
Nasceu nos arredores de Turim, na Itália, em 1901. Desde muito novo, dedicou-se a várias obras de caridade e religiosas. Aos 17 anos, ingressou na Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos) e dedicou a maior parte do seu tempo livre ao serviço dos doentes e necessitados e à difusão da Doutrina Social da Igreja entre estudantes e trabalhadores.
A caridade consistia em uma entrega de si mesmo, sustentada diariamente pela Eucaristia e pela Palavra de Deus. “Nos seus admiráveis planos, a providência divina serve-se, por vezes, de nós, miseráveis ciscos, para operar o bem… O que seria a vida, se não a revestíssemos de caridade?”, escreveu o jovem.
Frassati morreu em 4 de julho de 1925, vítima de poliomielite, com apenas 24 anos. Foi beatificado por São João Paulo II em 1990 e apresentado como modelo de santidade para a juventude.
Santa Gianna Beretta Molla
Nascida em Milão, na Itália, em 4 de outubro de 1922, graduou-se em Medicina. Em seu consultório, demonstrava cuidado especial para com as mães, crianças, idosos e pobres.
Casou-se com Pietro Molla, em 1955, e logo vieram os filhos: Pierluigi, Mariolina e Laura. Com simplicidade e equilíbrio, harmoniza os deveres de mãe, esposa e médica. Em 1961, no final do segundo mês de sua quarta gravidez, foi diagnosticada com um fibroma no útero. Ela, contudo, não hesitou em prosseguir com a gestação e, antes do parto, pediu aos médicos: “Se deveis decidir entre mim e o filho, nenhuma hesitação: escolhei – e isto o exijo – a criança. Salvai-a”.
No dia 21 de abril de 1962, nasceu Gianna Manuela. Apesar dos esforços para salvar a vida de ambas, na manhã de 28 de abril, Gianna morreu, aos 39 anos. Seu esposo a definiu como “uma mulher como tantas outras, mas com alguma coisa a mais: uma grande piedade e uma indiscutível confiança na providência divina”. Gianna foi canonizada por São João Paulo II em 2004.
Beata Guadalupe Ortiz de Landázuri
Nasceu em Madri, na Espanha, no dia 12 de dezembro de 1916. Em 1933, matriculou-se no curso de Ciências Químicas, sendo uma das cinco mulheres de uma turma de 70. Seus colegas da universidade se recordam dela seriamente dedicada ao estudo, com grande simpatia e gosto pelo imprevisto.
Membro da Prelazia do Opus Dei, ela soube compatibilizar sua intensa vida profissional com o relacionamento com Deus e com o serviço aos outros. Em certas horas do dia, procurava momentos de encontro pessoal com Deus, de oração, de onde tirava forças para encontrá-Lo depois em cada circunstância.
Por muitos anos, sofreu uma doença cardíaca que fazia com que se sentisse cansada e até exausta, mas escolheu abraçar essa dificuldade e sorrir para os outros, não se dando importância. Guadalupe morreu em 16 de julho de 1975 e foi beatificada em 18 de maio de 2019, em Madri.
Beato Peter To Rot
Nasceu em 1912, em um vilarejo chamado Rakunai, onde hoje é a Papua-Nova Guiné. Por influência de missionários cristãos, tornou-se o mais jovem catequista de seu país, com 21 anos. Casou-se com Paula la Varpit, com quem teve três filhos, mas apenas uma sobreviveu à infância.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças japonesas invadiram o país e prenderam todos os missionários. Peter tornou-se o único líder espiritual dos católicos da região. Construiu uma igreja para os católicos com galhos de árvores e lá conduzia orações, batizava fiéis, pregava a Palavra e confortava os aflitos.
O culto cristão, no entanto, havia sido proibido no país e, em 1945, Peter foi preso e alguns meses depois foi encontrado morto em sua cela. Testemunhas contam que ele teria recebido uma bebida e uma injeção antes da morte. Peter Rot foi beatificado em 1995, por São João Paulo II, durante sua visita à Papua-Nova Guiné.
(Colaborou: Jenniffer Silva)