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Em Manaus (AM), 14º mutirão de comunicação é aberto reforçando a defesa da vida e da natureza

14º Mutirão de Comunicação foi aberto com a celebração da cultura amazônica, reforçando o valor intrínseco pela defesa da vida e da natureza

Darcy Lima/SPM

O 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) foi aberto oficialmente na noite desta quinta-feira, 25, em Manaus (AM), reunindo mais de 400 comunicadores e comunicadoras de todo o país. O evento, com o tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”, propõe reflexão sobre o papel da comunicação como ferramenta de transformação social e seu compromisso com a Casa Comum.

Na abertura, Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB, destacou a missão dos participantes. “Terminado este encontro de reflexão que possamos levar as ideias e transformações, formando uma força iluminada pelo Evangelho para melhorar a qualidade de vida no país”, declarou Dom Valdir, anunciando a urgência do encontro na terra das águas.

O Cardeal Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enviou uma mensagem de vídeo. “Deus é comunicação. Que possamos ser comunicadores da boa nova, a fim de que possamos transformar a realidade segundo os critérios do Evangelho e, assim, torná-la sustentável, para que todos e todas tenham vida e vida em abundância”, disse dom Jaime  fortalecendo o chamado com esperança.

O primeiro gesto de acolhida e saudação no chão sagrado do estado do Amazonas não veio somente em palavras, mas em sabores e cantos. Após o jantar que foi servido o autêntico “pirarucu de casaca”, um prato que é um abraço culinário da região, a solenidade de abertura começou com um mergulho na ancestralidade.

Ao iniciar a solenidade de abertura, o Hino Nacional Brasileiro ecoou na voz da indígena Natalia Martins Ricardo, do povo Baré, que emocionou e levou todas e todos a refletir. Natalia interpretou em Nheengatu, a língua geral amazônica, única língua viva descendente do tupi antigo. Foi um momento de beleza e respeito, aguçando a memória dos participantes de que a Amazônia fala em muitas vozes, e que a comunicação, é compromisso com cada uma delas.

O Grito da esperança em tempos de desespero

A mesa de abertura, composta por representantes de organismos religiosos, universidades, Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Associação Católica de Comunicação Signis Brasil e a Arquidiocese de Manaus, ressoou a urgência do tema do encontro. 

O Padre Geraldo Bendaham, da coordenação de pastoral da Arquidiocese, deu o tom da acolhida e afirmou que o Muticom  é  um sinal de alegria e de esperança. Em tempos sombrios de crise ambiental, especialmente na Amazônia, onde a contaminação e a exploração de minério ferem rios e peixes, o padre enfatizou que a esperança não é passividade, mas sim um impulso para a ação, uma “reconciliação de todos com a natureza”.  Citando o Papa Francisco e o Jubileu da Esperança, ele convocou: “Que possamos ser protagonistas desta transformação social”.

No mesmo sentido, Irmão João Gutemberg Sampaio, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), iluminou o encontro lembrando que Manaus é, por natureza, um lugar de forte espiritualidade e diálogo, assim como o mítico Encontro das Águas. Sua fala trouxe a peso dos 10 anos da encíclica Laudato Si, citando o Papa Francisco sobre o valor intrínseco de cada espécie e a tragédia da perda de milhares delas por ação humana. A comunicação, então, surge como o meio essencial para proclamar a vida, a beleza e a esperança.

Geizom Sokacheski, da Signis Brasil, ligou o encontro manauara ao trabalho global da Igreja, destacando que sediar o Muticom na Amazônia, com este tema, exige que se olhe para a ecologia integral e a comunicação não apenas em âmbito paroquial ou diocesano, mas como uma mobilização nacional e local que inspire ações contínuas.

Versos e ousadia contra a escuridão

A mensagem da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB) foi partilhada pela Irmã Cláudia Chesini, que trouxe a metáfora das águas: “É momento de criatividade, solidariedade, de movimento, com as águas das nascentes que correm para as grandes águas do amor de Deus.” Um fluxo contínuo de fé e cuidado com a criação.

Do campo acadêmico, a voz da Universidade Federal do Amazonas e de Dom Hudson Ribeiro, Diretor Geral da Faculdade Católica do Amazonas, reforçaram o papel do debate. Dom Hudson resgatou o conceito de “aldeia global” de Marshall McLuhan, para reforçar que hoje, mais do que nunca, somos interdependentes no cuidado com o planeta.

E foi com a poesia do saudoso amazonense Thiago de Mello que o bispo encerrou, recitando: “Faz Escuro, Mas Eu Canto”.

“Apesar de tantos sinais de morte, faz escuro, mas eu canto. Apesar de tantos ataques contra a democracia. Sejamos pontes, sejamos luzes, sejamos ousados, criativos e esperançosos”, recitou. 

O Presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB, Dom Valdir José de Castro, saudou a Arquidiocese pela acolhida, frisando que o Muticom se diferencia por expandir a discussão para além das fronteiras da Igreja, buscando diálogo com a sociedade, universidades e profissionais de comunicação. Seu desejo é que as reflexões se transformem em uma grande força que, iluminada pelo Evangelho, ajude a melhorar a qualidade de vida da Amazônia e do país, da nossa “Casa Comum”. 

Por fim, Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, encorajou os participantes a não temerem o debate livre e profundo, ligando a transformação social à busca pelo Reino de Deus e a um modo de vida mais pleno. “Sempre buscamos as razões mais profundas para podermos, assim, continuar a caminhar na esperança. Eu desejo que as nossas discussões, e debates sejam sem receio, sem medo, com toda a liberdade para podermos realmente ser uma presença do Evangelho na nossa realidade”, concluiu.

A cultura nas cores e som de Parintins

A noite inaugural foi de alegria e ancestralidade cultural que só a Amazônia pode oferecer.  A noite foi marcada pelo som vibrante, dança e simbolismo representados pelos bois Garantido e Caprichoso. Essa integração de cultura e comunicação destacou a importância da ecologia integral na celebração da identidade de um povo que, apesar das adversidades, permanece na resistência em defesa da vida. 

O momento cultural trouxe para a “arena” do palco do Muticom, a lendária disputa dos bois-bumbás de Parintins, com a participação da Banda Cateto da Toada, garantido animação. 

Numa explosão de cores e ritmos, com a ousadia e criatividade que caracterizam o Boi Vermelho e o Boi Azul, o público foi convidado a se levantar, a participar da festa que resgata a lenda, a história e os povos originários em uma disputa sadia. A alegria e o respeito à tradição amazonense selaram a abertura, deixando claro que o 14º Muticom, em Manaus, é mais do que um congresso: é um convite à transformação que pode acalentar a esperança no coração do Brasil.

Fonte: Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora/CNBB

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