Espaço celebrativo: sinal de acolhida

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Quando visitamos a casa de alguém, gostamos de encontrar um ambiente limpo, arrumado e organizado, pois receber bem a quem chega também é sinal de uma boa acolhida.

Na casa de Deus, não é diferente: que coração não se alegra ao entrar em uma igreja e encontrar um ambiente agradável e acolhedor, que transmita a paz que vem do coração de Deus?

Uma ação sagrada, como a Liturgia, precisa de um lugar para acontecer. O espaço celebrativo deve constituir um local harmônico e participativo, e não uma estrutura que separe o presbitério e a comunidade (cf. Instrução Geral do Missal Romano, p.294).

As pessoas precisam de um lugar que possa lhes proporcionar a comunhão, apresentar um ambiente que favoreça o encontro e a celebração do Mistério Pascal de Cristo.

Sobre esses aspectos, podemos perceber a importância da acolhida dentro do espaço celebrativo, em relação a sua estrutura, pois o espaço nos ajuda a rezar, nos insere na presença de Deus e nos desafia a uma maior sensibilidade litúrgica.

De acordo com a constituição Sacrosanctum concilium, sobre a Sagrada Liturgia, “Cristo está sempre presente com a Igreja, especialmente na ação litúrgica” (SC 7). Assim, o sentido mistagógico do espaço remete do visível ao invisível, do símbolo ao significado, de modo que vivenciar a mistagogia no espaço celebrativo é progredir na comunhão entre Deus e o seu povo. O espaço sagrado necessita ser tratado com cuidado e reverência, pois nele podemos nos enriquecer da presença de Deus, sentindo-nos acolhidos por Ele.

Cada igreja, portanto, não é um local turístico ou de passeio, mas um lugar sagrado no qual podemos ouvir ressoar em nossos corações: “Tira as sandálias dos pés, pois o lugar que estás é santo” (cf. At 7,33).

Somos “templos vivos” de Deus, e da mesma forma com que devemos respeitar nosso corpo e cuidar dele, temos de cuidar do espaço que foi consagrado ao Senhor.

É importante ressaltar que a Igreja se empenha com zelo para que os fiéis não se comportem como meros espectadores, mas que se sintam motivados pelos ritos e orações, participando consciente, ativa e piedosamente da ação sagrada.

Para que se realize da melhor maneira possível a ação evangelizadora para o bem pastoral, a normativa canônica orienta, no cânone 1210, que no lugar sagrado apenas se admita tudo aquilo que serve para exercer ou promover o culto, a piedade e a religião, proibindo-se tudo aquilo que discorda da santidade do lugar, pois o templo dedicado ou abençoado a Deus e o altar são consagrados, são espaços sagrados e, por essas razões, devem ser respeitados e se deve evitar o uso de tudo aquilo que não seja litúrgico.

COMO ACOLHER BEM NO ESPAÇO CELEBRATIVO?

Para compreendermos a importância da boa acolhida dentro do espaço celebrativo, é preciso resgatar o sentido teológico e o valor pastoral dos elementos fundamentais que fazem parte da ação litúrgica.

É necessário que todos os elementos que compõem o espaço litúrgico tenham unidade de estilo entre si, estando a serviço do bom desenvolvimento da liturgia, assegurando a beleza estética e a unidade no interior do espaço da celebração, sendo funcionais, pois a criatividade desses elementos está na simplicidade com que estão demonstrados, evitando-se ostentação e excessos.

A acolhida se inicia quando, ao avistarmos uma igreja, sentimos o desejo de nela entrar para fazer nossas orações, e o nosso coração se alegra ao ver, por exemplo, o entorno bem cuidado, se há um jardim ou se quisermos visitar a torre, constatar que as escadarias estão limpas e sem poeira, que o templo é bem iluminado e, ainda, encontrarmos um local limpo e acolhedor para acender nossas velas devocionais, se a igreja tem o hábito.

Quando a igreja possui o jornal mural, é preciso atentar para que seja colocado em um lugar de destaque, evitando-se a repetição das informações e avisos disponibilizados sem critério.

O espaço celebrativo, para que seja acolhedor, necessita de uma série de cuidados básicos, como orienta o Cônego Helmo Cesar Faccioli, Auxiliar do Cura da Catedral da Sé. “São detalhes que a assembleia não visualiza diretamente, mas, de forma indireta, produzem efeito quando estão adequados”, comenta. Os cuidados básicos são:

  • O presbitério é o topo do templo porque a assembleia é celebrante e, na assembleia celebrante, o presbítero toma o lugar da presidência que conduz a celebração. A cadeira presidencial significa que é o próprio Cristo que ensina, o Cristo Profeta. No presbitério, é preciso ter uma Cruz, pode ser a processional ou uma que fique pendente sobre o altar. O altar representa o próprio Cristo, o ambão é o lugar de onde se proclamam as leituras, é o lugar de onde Deus fala;
  • As vestes litúrgicas devem sempre estar muito bem cuidadas, bem como os paramentos, estolas e casulas;
  • As toalhas do altar devem ser bem cuidadas e com um estilo que não tire a beleza do altar;
  • Os vasos sagrados precisam estar limpos, bem cuidados e polidos;
  • Galhetas bem lavadas;
  • As imagens sem poeira e sem tomar a centralidade do altar;
  • As cadeiras e bancos, tanto no presbitério quanto na assembleia, devem estar limpos, sem poeira e bem alinhados.
  • As flores, de preferência naturais, indicam a mesa do Senhor, a natureza se une para louvar a Deus, porém é preciso tomar cuidado com exageros, pois o arranjo floral não pode tirar a centralidade dos sinais que compõem o espaço celebrativo;
  • A Capela do Santíssimo deve primar pela limpeza do chão, das cadeiras, do genuflexório e do próprio sacrário. A ornamentação também precisa ser sóbria e a lâmpada deve indicar o sacrário, não podendo sobressair mais que o necessário e deve ser bem cuidada.
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