Grito dos Excluídos anunciará a esperança e a valorização da dignidade de vida

Articuladores da 26o edição apresentaram detalhes dos propósitos da iniciativa deste ano, em coletiva de imprensa com a participação de Dom Mário Antônio da Silva, 2o Vice-presidente da CNBB

Um processo popular que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais, em atenção aos excluídos da sociedade e na luta por direitos, e que busca ajudar na reflexão para  a busca de um Brasil cada vez melhor e mais justo para todos os cidadãos.

Assim é definido o Grito dos Excluídos, que em 2020 chega a sua 26a edição nacional, tendo o 7 de setembro como o “Dia D do Grito”, para refletir sobre o tema permanente desta iniciativa “Vida em primeiro lugar” e o lema específico deste ano “Basta de Miséria, Preconceito e Repressão! Queremos Trabalho, Terra, Teto e Participação!”.

Em razão da atual pandemia de COVID-19, o Grito acontecerá com encontros virtuais e algumas iniciativas presenciais, respeitando as medidas preventivas para evitar a disseminação do novo coronavírus. Ainda não foi divulgada uma agenda específica dos atos em 7 de setembro.

Para detalhar os propósitos do Grito dos Excluídos deste ano foi realizada na quinta-feira, 27, uma coletiva de imprensa on-line, com a participação de Dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima, Presidente da Cáritas Brasileira e 2o Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Roselaine Mendes Ferreira, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR); e Rosilene Wansetto, da Coordenação do Grito/Romaria dos Trabalhadores/as. A mediação foi de Cleiton Gomes da Silva, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Vida, o maior dom

Em sua explanação inicial, Dom Mario recordou que nem sempre a vida é priorizada nas relações sociais, mas, sim  “o lucro, a fama, o dinheiro e o sucesso”, e não, raro, se perpetuam situações de injustiça, opressão, violência, indiferença e preconceito.

O Bispo de Roraima ressaltou que a vida é o maior dom e viver não é “simplesmente o passar dos dias ou cronologicamente o passar dos anos. Para que a vida tenha significado e esteja em primeiro lugar, é preciso servir, valorizar, defender e amar a vida e toda a criação”.

Dom Mário apontou que Cristo morreu na Cruz para que todos tenham vida, e se esperava que aquela fosse a última morte humilhante da história. Porém, as vidas continuam a ser ameaçadas e destruídas. Nesse contexto, gritar é preciso, não no sentido de fazer ecoar sons, mas como um clamor de esperança que coloca a vida em primeiro lugar.

“A esperança está em Deus, em Jesus Cristo e nas pessoas de boa vontade. A esperança está em cada dia, quando nós nos amamos como Jesus nos ama. A esperança está em nós quando somos solidários, pacientes e agimos com ternura e bom humor. O Grito nos convida a, juntos, semearmos a esperança para acolher a vida, e vida com significado”, disse o Bispo.

‘Há vozes reais e concretas sendo abafadas’

Ao falar do lema deste ano, Dom Mário mencionou alguns dos grupos mais excluídos da sociedade, como a população em situação de rua, membros de comunidades tradicionais, ciganos, migrantes, povos circenses, moradores das periferias, povos indígenas, encarcerados, trabalhadores em serviços precarizados, pessoas cujos “gritos são reais e abrem nossos olhos e ouvidos, nossa mente e coração, para que, com as nossas mãos abertas, possamos lutar por direitos e construir um mundo justo. Gritamos, pois há vozes reais e concretas sendo abafadas, oprimidas e pessoas excluídas”. 

O Bispo lembrou, ainda, que neste tempo de pandemia a solidariedade deve ser cultivada, e ressaltou: “mais do que nunca, queremos que o Grito dos Excluídos seja um verdadeiro anúncio do Reino de Deus, de paz, amor, justiça e vida em primeiro lugar para todos”.

Os que gritam

Roselaine Mendes Ferreira, do MNCR, falou da necessidade de que os catadores de materiais recicláveis recebam mais apoio do poder público e reconhecimento da sociedade. Ela lembrou que se tratam de profissionais vulneráveis, historicamente sujeitos aos riscos de doenças e contaminações, ainda mais nesta época de COVID-19.

Rosilene Wansetto,da Coordenação do Grito/Romaria dos Trabalhadores/as, falou sobre o atual momento socioeconômico do Brasil, e avaliou que muitas vidas perdidas na atual pandemia poderiam ter sido poupadas com ações mais responsáveis do poder público.

Ela destacou, ainda, que o lema deste ano foi definido à luz do tema da Campanha da Fraternidade de 2020 – “Fraternidade e vida: dom e compromisso” – e que o processo do Grito é sempre pensado para anunciar a esperança e denunciar as injustiças.

Creio que o Grito dos Excluídos é um espaço fértil e fecundo para a acolhida e desdobramento do Pacto pela Vida e pelo Brasil, lançado pela CNBB em 7 de abril. O documento diz que a vida humana está em risco. O Brasil não está colocando a vida em primeiro lugar – nem das florestas, nem dos animais e, de maneira triste e lamentável, nem a vida do ser humano. Olha quanta morte, miséria, pobreza crescente em nosso meio! Quanta necessidade de verdadeiras políticas públicas”, observou Dom Mário. “Esse apelos nos comovem, mas também devem nos mover, unidos, por tudo aquilo que estamos vivendo, não para apenas uma nova normalidade, mas para a melhor normalidade”, finalizou.

(Colaborou: Jenniffer Silva)

SAIBA MAIS SOBRE O GRITO DOS EXCLUÍDOS

– Surgiu em 1994, a partir do processo da 2ª Semana Social Brasileira, da CNBB, cujo tema foi

“Brasil, alternativas e protagonistas”, inspirado no tema da Campanha da Fraternidade de 1995, “A Fraternidade e os Excluídos”.

– O primeiro Grito dos Excluídos foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema “A vida em primeiro lugar”, e houve ações em 170 localidades.

– Em  1996,  o  Grito  foi  assumido  pela  CNBB,  que  o aprovou em sua Assembleia Geral.

– A escolha do 7 de setembro para sua realização é para demarcar um contraponto ao Grito da Independência, rememorado nesta data, feriado nacional.

Saiba mais detalhes em: www.gritodosexcluidos.com/historia

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