Influência digital: algo a ser feito com a devida consciência crítica

Oladimeji Ajegbile /Pexels

Para refletirmos sobre a consciência crítica e a manipulação no contexto da influência digital, vamos começar falando sobre o significado da consciência e como ela se forma, levando ao pensamento crítico.

A consciência é considerada como um produto que faz parte das relações sociais que, com o passar do tempo, vamos estabelecendo em nossas vidas. Por meio dela, vamos nos apropriando deste mundo cultural repleto de informações diversificadas, objetos e significados já construídos por outras pessoas.

Na obra “O erro de Narciso”, o filósofo católico francês Louis Lavelle (1883-1951) afirma: “A consciência, que é um diálogo com os outros seres e o mundo, começa, portanto, por um diálogo consigo mesmo”. E é por meio desse diálogo que o pensamento crítico se desenvolve na medida em que vamos ampliando nossas experiências e absorvendo informações conforme nosso desenvolvimento.

A Igreja sempre se preocupou com a formação da consciência crítica das pessoas. Na mensagem para o 19º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 1985, São João Paulo II nos apresentava um ponto de atenção, alertando sobre os perigos que a “videodependência” – que poderíamos ajustar para o termo “teladependência” ou mais recentemente “touchdependência” – poderia causar nas pessoas. O Papa se preocupava também com a influência e a carga desmedida de informações compartilhadas, algo que hoje vivenciamos com as redes sociais.

O parágrafo 201 do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil orienta que, como comunidade eclesial, nós precisamos “acompanhar com atenção as mídias e o que elas comunicam”, a fim de contribuir com reflexões que levem a sociedade a despertar uma consciência crítica, que promova também “a inclusão dos que se encontram excluídos de tais processos e meios de produção e consumo de bens simbólicos”.

Esses pontos de reflexão podem nos levar à seguinte pergunta: o que estou fazendo para bem formar a minha consciência crítica?

O PERIGO DA MANIPULAÇÃO

Alguma vez você já foi influenciado por pessoas manipuladoras, que usam técnicas de persuasão e convencimento, sem que você tenha se dado conta na mesma hora?

A manipulação é um fenômeno real nas relações humanas e ela nos remete a outros dois conceitos: o de influenciador e o de manipulador.

Por influenciador se entende aquela pessoa que exerce influência sobre o outro, seja para o bem, seja para o mal. Já por manipulador, se entende o indivíduo que manipula, que busca influenciar alguém, valendo-se de técnicas variadas, entre elas a “pressão psicológica”.

Devemos ter conhecimento sobre a existência de técnicas de manipulação, entre elas a distorção de informações, as quais acabam sendo compartilhadas nas mídias, inclusive nos canais de influenciadores digitais. Podemos evitar os efeitos dessa má influência, buscando boas referências, questionando fontes, analisando dados e procurando pontos de vista diferentes sobre o mesmo assunto.

Não há problema algum em seguirmos influenciadores digitais, porém não podemos nos esquecer de que eles também podem cometer erros, assim como nós.

A influência segura, de verdade, só está naqueles de reconhecida vida de santidade, como os santos e beatos, a quem podemos seguir e nos inspirar em seus gestos e atitudes. Para todos os demais, a precaução é sempre a melhor atitude.

Ivan Samkov /Pexels

LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUS DISCURSO DE ÓDIO

Outra realidade presente no ambiente digital é a propagação de discursos de ódio, ou incitamento ao ódio. Trata-se de qualquer comunicação que inferiorize ou incite ódio contra grupos ou pessoas, caracterizado como tipo de violência verbal, tendo como base a não aceitação das diferenças, em outras palavras, a intolerância.

Quando nos referimos ao discurso de ódio, há de se considerar que isso é uma violação aos direitos humanos, os quais, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, são inerentes a todas as pessoas, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição, incluindo o direito à vida e à liberdade de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre outros.

Há, porém, quem questione se impedir a proliferação de discursos de ódio não acaba por afetar a liberdade de expressão. A linha entre uma coisa e outra é tênue, mas as diferenças são evidentes, conforme destaca Vinícius Gomes, doutor em Comunicação pela Universidade Paulista (UNIP) e coautor do livro “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas”.

“A liberdade de expressão é um princípio, um direito humano. As pessoas podem expressar livremente seus pensamentos e opiniões. Já o discurso de ódio é a não tolerância, ou seja, nega-se ao outro o direito de se expressar. Podemos dizer que não há um limite entre a liberdade de expressão e o discurso de ódio, porque esse segundo nem deveria existir. Há, porém, uma fronteira a ser respeitada, que são os direitos humanos. Se o meu direito de me expressar fere o outro, deixa de ser liberdade de expressão. Infelizmente, o discurso de ódio tem crescido e isso é algo muito grave, sobretudo com o advento das plataformas digitais”, afirma Gomes.

Certamente, com a maior conscientização sobre os riscos do discurso de ódio, poderemos dizer – como afirmou São Paulo Apóstolo aos Efésios – “já não seremos crianças, jogados pelas ondas, carregados para lá e para cá por todo vento de doutrina e pela artimanha das pessoas que com astúcia levam ao erro. Antes, sendo verdadeiros no amor, cresçamos em todos os sentidos naquele que é a Cabeça, o Cristo” (cf. Ef 4, 14-15).

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