No dia em que se comemora o Dia das Mães, o Jornal O SÃO PAULO apresenta as ações de dois grupos que vivenciam a maternidade à luz da fé católica
No século IV, uma mulher de origem berbere era mãe de três filhos. O mais velho, chamado Agostinho, tinha uma vida distante dos valores cristãos e levava consigo sentimentos que o afastavam de Deus. Mônica era essa mulher e orou incansavelmente, por mais de 30 anos, pela conversão do filho.
Sua súplica foi atendida e Agostinho foi batizado na Vigília Pascal do ano de 386. Ele não somente tornou-se cristão, mas buscou a santidade até o fim.
A história de Mônica é um profundo exemplo da força da oração de uma mãe por um filho. Ela e Agostinho hoje são santos da Igreja.
A EXEMPLO DE MÔNICA
Também na atualidade, muitas mães se reúnem em comunidade para suplicar a Deus por seus filhos. Este é o caso das participantes do movimento “Mães Mônica”, fundado pelo Padre Lorenzo Infante, na Paróquia Santa Rita, em Madri, na Espanha, em 1987.
A partir do carisma agostiniano, a iniciativa visa a reunir mães para a oração por seus filhos e pelos filhos uma das outras. A ação se constituiu por grupos de até sete mulheres, em que cada uma é responsável pela oração pelos filhos em um dia da semana.
Sob os cuidados da Família Agostiniana em mais de dez países, incluindo o Brasil, o movimento possui cerca de 200 mil integrantes.
A espiritualidade do movimento vai ao encontro da vida de Santa Mônica. Segundo o Frei Pedro Rodrigues, responsável por acompanhar o movimento na Província Agostiniana do Brasil, “a fé e a perseverança de Santa Mônica são pilares fundamentais para a vida cristã e é por meio dela que essas mães se reúnem pela conversão de seus filhos, tendo como modelo essa mulher que orou por tantos anos e alcançou a graça da conversão do seu filho”.
Entre as muitas graças alcançadas pela oração dessas mães, Frei Pedro recordou o testemunho de uma integrante do movimento da cidade de Natal (RN), que há mais de 20 anos viu seu filho ingressar em uma facção criminosa, sendo inclusive preso algumas vezes. Em 2023, o homem manifestou o desejo de mudar de vida e sua mãe passou a rezar com ainda mais entusiasmo. Após sofrer um grave acidente, o rapaz finalmente decidiu deixar a criminalidade, passou a trabalhar com a família e, hoje, ele destina cerca de 50% do seu salário em doações a instituições de assistência social.
Com o lema “Mães de joelhos, filhos de pé”, além da oração, o movimento tem como missão restaurar as famílias, rezar pela Igreja e pelas vocações e promover a união entre as mães para que elas possam viver em comunhão.
Ao rememorar a vida da Padroeira do grupo, Frei Pedro lembra que Santa Mônica desfrutou a graça da conversão do filho por apenas um ano – ela faleceu em 387, ele fora batizado em 386 – o que revela que é preciso buscar a recompensa do céu e de Deus.
Ao fim da vida, Santa Mônica disse a Agostinho: “Por um só motivo eu desejava prolongar a vida nesta terra: ver-te católico. Deus me satisfez amplamente, porque te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-Lo… Enterrai este corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor… Para Deus nada é longe”.
TUDO PODE SER TRANSFORMADO PELA ORAÇÃO
No ano de 2011, surgiu na cidade de Vitória (ES), o grupo “Mães que oram pelos filhos”. A fundadora, Angela Abdo, 68, recordou ao O SÃO PAULO que a iniciativa surgiu no coração de sua filha, Vanessa Campos.
Após algumas amigas de Vanessa também demonstrarem interesse em participar do momento de oração por seus filhos, os primeiros encontros aconteceram na Paróquia São Camilo de Léllis, em Mata da Praia. Ali, o grupo de cerca de 20 mães, formada por mulheres com sucesso profissional, mas ainda sem formação religiosa, se reunia semanalmente para rezar. Pouco a pouco, o grupo ganhou novos integrantes e descobriu seu carisma e objetivos.
Em 2014, com o lançamento do livro “Mães que oram pelos filhos – Tudo pode ser mudado pela força da oração”, escrito por Angela, novos grupos com o mesmo propósito começaram a se formar pelo Brasil. Assim, em dezembro do mesmo ano, a ação foi reconhecida como movimento pela Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo e, mais tarde, em 2019, também obteve reconhecimento por parte da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Atualmente, existem mais de 3 mil grupos oficiais espalhados em todo o Brasil e em outros 15 países, além de 500 em processo de oficialização. Segundo Ângela, mais de 150 mil mães se reúnem semanalmente para orar por seus filhos: “Desde sempre, toda mãe reza pelo filho, mas quando nos unimos em assembleia, essa oração tem um valor muito grande. Deus nos deu o carisma de restaurar as famílias por meio da oração”.
O movimento, segundo Angela, também representa um caminho de formação de lideranças para as comunidades eclesiais e os serviços pastorais.
Angela, que é empresária, recordou que antes do surgimento do grupo, ela se dedicava exclusivamente ao trabalho e que sua filha serviu como “isca” para que ela mudasse a rota de vida e retornasse para a Igreja.
A fundadora disse que, em tantos anos, um episódio ocorrido com o filho de uma das primeiras integrantes do movimento a marcou e lhe dá ânimo para seguir com a missão: ao nascer, Mateus, filho de Caroline Servino, teve complicações cardíacas que prejudicaram o desenvolvimento dos seus rins, fazendo com que ele permanecesse nos primeiros dois anos de vida internado na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital à espera de transplante.
Certo dia, o grupo estava reunido quando Carolina telefonou e disse que a equipe médica chegou à conclusão de que se o órgão compatível não fosse encontrado o quanto antes, o caso de Mateus seria irreversível. Naquele momento, as mães clamaram pela cura do menino e, no dia seguinte, um doador compatível foi encontrado: “Nesse dia, eu vi a ação de Deus”, lembrou Angela.
A padroeira do movimento é Nossa Senhora de La Salette, e a copadroeira Santa Mônica. A missão é pautada nos pilares da obediência, humildade e unidade. No site https://maesqueorampelosfilhos.com é possível acessar o manual para criar um grupo.
‘A MÃE COLABORA COM DEUS’
Na exortação apostólica Amoris laetitia, publicada em 2016, o Papa Francisco destaca que “as mães transmitem o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende (…). Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo”.
No mesmo documento, o Santo Padre define que “a mãe colabora com Deus, para que se verifique o milagre de uma nova vida”. O Papa também manifesta gratidão a todas as mães que “rezam incessantemente, como fazia Santa Mônica, pelos filhos que se afastaram de Cristo”.
Bom dia! Participamos do grupo de mães Cristãs Santa Mônica, maes que oram pelos filhos. Da Ordem Agostinianos Recoletos. Parabéns. É sempre bom orar.