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No Jubileu dos Músicos, ressoam os cânticos de esperança e de louvor a Deus

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Centenas de vozes ecoaram pela Ca­tedral da Sé no sábado, 22, na missa pre­sidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer no Jubileu dos Músicos da Arquidiocese de São Paulo. Eles formaram um gran­de coral que, a cada nota, emocionou e conduziu os fiéis a cantar a liturgia com maior profundidade.

A data escolhida para a realização desta celebração jubilar coincidiu com a memória litúrgica de Santa Cecília, már­tir dos primeiros séculos do Cristianis­mo e padroeira dos músicos. Nesta oca­sião, também peregrinaram à Catedral os fiéis da Paróquia São José do Belém.

RENOVAR A MÚSICA NAS COMUNIDADES

Em entrevista a O SÃO PAULO, o maestro Delphim Rezende Porto, doutor em Música e regente da São Paulo Schola Cantorum, ressaltou que o encontro pos­sibilitou reunir, em um único coro, músi­cos de diversas paróquias, e até de outras dioceses, unindo vozes e resgatando uma prática essencial à vida comunitária.

A retomada dos corais após a pan­demia de COVID-19 foi outro ponto salientado pelo maestro, que mencionou que muitas comunidades perderam seus grupos musicais nesse período.

“Reunir os músicos abre caminho para um verdadeiro processo sinodal. Muitas comunidades caminharam sozi­nhas, e agora é hora de voltar a conver­sar”, disse.

“Nós enfatizamos neste Jubileu que a Igreja pode ser renovada e que, cada vez mais, a música litúrgica será um ca­minho de evangelização para as nossas comunidades. A Igreja conta com quem está. Como diz a Primeira Carta aos Coríntios, cada um recebeu um dom do Espírito Santo para colocar à disposição das comu­nidades”, afirmou o maestro.

CANTAR A NOSSA VIDA

Na homilia, Dom Odilo re­cordou que a música litúrgica tem o papel de transformar a vida em comunidade em algo mais leve. Ele lembrou que na história da Igreja muitos pere­grinos realizam sua caminhada cantando hinos de louvor a Deus.

“Que cantar a nossa liturgia nos ajude a manter firme o nosso passo. O canto é o que acompa­nha e torna mais leve o peregri­nar na nossa vida”, expressou o Arcebispo.

Dom Odilo agradeceu o serviço dedicado pelos músicos na Arquidiocese de São Paulo, ressaltando que, por meio desse trabalho, o povo de Deus pode encontrar beleza em diferentes momentos.

Por fim, o Arcebispo reiterou o pedi­do de que as comunidades tenham grupos que cantem a liturgia e não na liturgia, evi­tando a espetacularização das músicas.

“Devemos cantar conforme o espírito da liturgia que se está celebrando e par­ticipando. O canto é para Deus, é para ajudar a comunidade toda a cantar e a rezar. Que Deus abençoe a todos vocês e que a sua participação com o canto li­túrgico possa ajudar nossa comunidade a adorar, louvar, bendizer, pedir perdão e expressar seus sentimentos diante de Deus por meio do canto e da celebração da liturgia”, frisou Dom Odilo.

UMA IGREJA VIVA E QUE CANTA

O seminarista Vinícius Pinheiro, alu­no do 4º ano do Seminário de Teologia da Arquidiocese de São Paulo, destacou o papel da música na formação presbite­ral e na vida das comunidades. Ele con­tou que no seminário aprendeu teoria, regência e composição, além de iniciar os estudos de órgão sob orientação do maestro Delphim. Hoje, integra e auxilia o coro formado pelas três casas do Semi­nário, que participa de celebrações inter­nas e de eventos arquidiocesanos.

Vinícius relatou que, antes de ingres­sar no seminário, participava da equipe de canto da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Jaçanã, Região Santana.

Para ele, o Jubileu dos Músicos repre­senta um momento especial, tanto pes­soalmente quanto para a Arquidiocese, que vive um movimento de renovação na música litúrgica. O seminarista enfa­tizou que este é um tempo de retorno às raízes do canto sacro e à tradição musical da Igreja: “Não conseguimos mais can­tar sempre as mesmas coisas. Precisamos voltar ao que é próprio da Igreja, ao que nossos pais cantaram. A arte sacra nas­ce da cópia dos mestres, e com a música não é diferente”.

Recordando a homilia do Arcebispo, comentou: “Quem canta tem esperança. Quando cantamos a liturgia, cantamos a esperança do povo de Deus, que cami­nha entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus.”

DIFERENTES GERAÇÕES E UM SÓ LOUVOR

João Gonçalves de Alencar, 64, da Pa­róquia Nossa Senhora Aparecida e São Luciano, na Região Belém, iniciou sua caminhada como músico litúrgico ainda na juventude, em Manaus (AM). Para ele, cantar a liturgia faz toda a diferença na celebração, ajudando o povo de Deus a compreender o verdadeiro sentido do que é cantado.

Emanuele Aparecida Riboldi, 15, in­tegra há dois anos o coral da Catedral da Sé. Ela contou que sempre gostou de can­tar para Deus e acredita que, por meio da música, o Pai acolhe suas orações. Para ela, participar do Jubileu foi uma experi­ência especialmente significativa.

SANTA CECÍLIA, PADROEIRA DOS MÚSICOS

Santa Cecília nasceu por volta do ano 150, em Roma. Jovem da no­breza cristã, participava diariamen­te das missas presididas pelo Papa Urbano I nas catacumbas da Via Ápia. Consagrada a Deus por um voto de castidade, mas destinada ao matrimônio com Valeriano, reve­lou ao esposo, na noite do casamen­to, sua consagração total ao Senhor. Seu testemunho levou o marido à conversão. Perseguida por profes­sar a fé cristã, recebeu três golpes de machado no pescoço, que não chegaram a decapitá-la. Sobrevi­veu por três dias, tempo em que aguardou o Papa e lhe pediu que distribuísse seus bens aos pobres e convertesse sua casa em uma igre­ja. Em seus últimos momentos de vida, Santa Cecília entoou um cân­tico de louvor a Deus.

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