Nota da Presidência da CNBB sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

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A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, nesta terça-feira, 9 de fevereiro, uma nota na qual esclarece pontos referentes à realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo tema é: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido fez uma unidade”,  (Ef 2,14a).

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NOTA DA PRESIDÊNCIA DA CNBB

Irmãos e irmãs em Cristo Jesus,

“Não apagueis o Espírito, não desprezais as profecias,
mas examinai tudo e guardai o que for bom” (1 Ts 5,21)

1. No exercício de nossa missão evangelizadora, deparamo-nos com inúmeros desafios, diante dos quais não podemos esmorecer, mas, ao contrário, buscar forças para responder com tranquilidade e esperança.


2. Nosso país vive um tempo entristecedor, com tantas mortes causadas pela covid-19, um processo de vacinação que gostaríamos fosse mais rápido e uma população que se cansou de seguir as medidas de proteção sanitária. Nosso coração de pastores sofre diante de tantas sequelas que surgem a partir da pandemia, em especial o empobrecimento e a fome.

A Campanha da Fraternidade 2021 e suas características


3. Em meio a tudo isso e atendendo à solicitação de irmãos bispos, desejamos abordar a Campanha da Fraternidade deste ano. Algumas afirmações têm ocasionado insegurança e mesmo perplexidade.


4. Como sabemos, a Campanha da Fraternidade é uma riqueza da Igreja no Brasil, nascida e amadurecida não sem dificuldades e mesmo sofrimentos. A cada Campanha, o aprendizado se fortalece e se mostra continuamente necessário. Assim acontece com cada tema escolhido e assim acontece quando as Campanhas, desde o ano 2000, são feitas em modo ecumênico.


5. Para este ano, o tema escolhido foi o diálogo, com o tema, portanto, fraternidade e diálogo: compromisso de amor. Trata-se, como explicado nas formações feitas pelo nosso Setor de Campanhas, do recolhimento dos temas anteriores, em especial desde 2018, que tratou da superação da violência, até 2020, quando apresentou-se a proposta cristã do cuidado.


6. Para 2021, conforme aprovação em nossa Assembleia Geral de 2018, a Campanha foi construída ecumenicamente e, conforme costume desde o ano 2000, sob a responsabilidade do CONIC. Nas primeiras reuniões, discerniu-se pelo tema do diálogo, urgência num tempo de polarizações e fanatismos, cabendo então ao CONIC a construção do texto-base. Isso foi feito conforme está explicado na apresentação do mesmo, com detalhamento da equipe elaboradora, na pág. 9.

7. Consequentemente, o texto seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do CONIC. Foram realizadas várias reuniões, o texto passou por revisão da assessoria teológica do CONIC, uma assessoria com membros das diversas igrejas, chegando, então, ao que hoje temos. Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado pela comissão da CNBB, pois são duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de servir a Jesus Cristo. O texto-base desse ano, por conseguinte, deve ser assim compreendido, como o foi nas Campanhas da Fraternidade levadas a efeito de modo ecumênico.

Algumas questões específicas


8. Nos últimos dias, reações têm surgido quanto ao texto. Apresentam argumentos que esquecem da origem do texto, desejando, por exemplo, de uma linguagem predominantemente católica. Trazem ainda preocupações com relação a aspectos específicos, a saber, as questões de gênero, conforme os números 67 e 68 do referido texto.

9. A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que “gênero é a dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma. O gênero é, portanto, maleável sujeitos a influências internas e externas à pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo corpo” (Pontifício Conselho para a Família, Lexicon – Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas., pág. 673).

Uma ajuda destacável


10. Já pronto o texto-base, fomos presenteados com a Fratelli Tutti, que recomendamos vivamente seja também utilizada como subsídio para a Campanha da Fraternidade deste ano. Ela estabelece forte conexão entre o tema de 2020 e o de 2021, cuidado e diálogo, e muito ajudará na reflexão sobre o diálogo e a fraternidade.

Coleta da Solidariedade


11. Junto com essas preocupações de conteúdo, surgiu ainda a sugestão de que não se faça a oferta da solidariedade no Domingo de Ramos, uma vez que existiria o risco de aplicação dos recursos em causas que não estariam ligadas à doutrina católica.


12. Lembramos que, em 2019, foi distribuída pelo Fundo Nacional de Solidariedade – FNS a quantia de R$3.814.139,81, fruto da generosidade de nossas comunidades, não se incluindo nessa quantia o que foi destinado aos fundos diocesanos. Em 2020, por causa da pandemia, não ocorreu arrecadação. Somente com a ajuda da instituição alemã Adveniat conseguimos atender a 15 projetos.


13. Sobre isso, recordamos que o FNS segue rigorosa orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos. Desde o início da construção da Campanha da Fraternidade de 2021, temos informado ao CONIC a respeito da dificuldade e até mesmo da impossibilidade de mantermos a estrutura do Fundo de Solidariedade como ocorrido nas Campanhas ecumênicas anteriores. Sobre este ponto, tendo como base a última dessas Campanhas, a de 2016, esta Presidência já manifestou ao CONIC as dificuldades e, por espírito de comunhão e corresponsabilidade, vai conversar sobre o assunto na próxima reunião do CONSEP. A conclusão será informada em seguida.

Desse modo:


14. Em consequência, respeitando a autonomia de cada irmão bispo junto aos seus diocesanos e como não poucos irmãos nos têm solicitado indicações para informar ao povo sobre a CF 2021, consideramos importante que sejam destacados os seguintes aspectos:
1) A Campanha da Fraternidade é um valor que não podemos descartar.
2) Alguns temas, conforme seu modo de ser apresentado, tornam-se mais difíceis que outros.
3) A Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela.
4) Os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade serão aplicados em situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica.
5) A causa ecumênica se mantém importante. “Uma comunidade cristã que crê em Cristo e deseja com o ardor do Evangelho a salvação da humanidade não pode de forma alguma fechar-se ao apelo do Espírito que orienta todos os cristãos para a unidade plena e visível … O ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao conjunto da humanidade; e criar obstáculos a este amor é uma ofensa a Ele e ao Seu desígnio de reunir todos em Cristo” (S. João Paulo II, Encíclica Ut Unum Sint, 99)
15. Concluímos lembrando a importância da Campanha da Fraternidade na história da evangelização do Brasil. É nossa marca. Cabe-nos cuidar dela, melhorá-la sempre mais por meio do diálogo, assim como nos cabe cuidar da causa ecumênica, um ideal que se nos impõe. Se nem sempre é fácil cuidar de ambos e de muitos outros aspectos de nossa ação evangelizadora, nem por isso devemos desanimar e romper a comunhão, uma de nossas maiores marcas, um tesouro que o Senhor Jesus nos deixou e do qual não podemos abrir mão. Não desanimemos. Não desistamos. Unamo-nos.

Brasília-DF, 09 de fevereiro de 2021


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima (RR)
Segundo Vice-Presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

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Juarez Carvalho
Juarez Carvalho
3 anos atrás

Para que haja “um só pastor e um só rebanho”, a evangelização deveria acontecer à luz da eucaristia e de N Sra . “ Eis aí tua mãe” (Jo 19,27) . “Feliz aquele que se assentar à mesa do reino de Deus”.
“ Meu corpo é verdadeiramente uma comida, meu sangue é verdadeiramente uma bebida “ (Luc 14,25. Jo 6,56)
O texto da CNBB de 09/02, só complicou e expôs a falta de diálogo dentro da própria igreja católica no Brasil . Então como pode ser este o tema, sem o exemplo de diálogo dentro da CNBB? Gerou polêmica e confusão , infelizmente.
Sabemos que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja , mas estamos vendo na CNBB, um reino dividido contra si mesmo ?
O tema , “Fraternidade e diálogo”, é atualíssimo, pertinente e a acolhida aos excluídos também (Já até foi tema da CF) , mas a “roupa suja deveria ser lavada em casa primeiro” e não deixado para um Conic dar os rumos da campanha . Embora com 2 sacerdotes católicos , porém participando, ao que parece sem escutar as bases.
Mas enfim , parece ser o sinal dos tempos… joio semeado …
No mais, para os católicos , é momento de jejum , oração e solidariedade , como em todas as quaresmas e sempre ! Mas de forma mais intensa neste ano , nestes tempos em que a discórdia e polarização vigentes só agradam ao pai da mentira .
Na certeza de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão acompanhando tudo … e agindo também . (Jo5,17)
Por enquanto, diante do documento base da CF e dos mais variados posicionamentos das autoridades da igreja e dos leigos, mais uma vez Jesus está dizendo : “Pai , perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”.
Afinal, parece que estamos temporariamente habitando a torre de Babel?

João A. Machado
João A. Machado
3 anos atrás

Não concordo o que vi no jornal nacinal da globo que as Igreja inclusivel a católica , fizeram um pedido de imptigmam do presidente do Brasil tem muita gente que não concorda.

Valdir de Souza
Valdir de Souza
3 anos atrás

Por que o tal “CONIC” não tem nenhum representante das igrejas protestantes que defendem alguns valores comuns aos nossos (mais de 98%) ao invés de igrejas insignificantes tomadas por esquerdistas? Por que a Campanha da Fraternidade só aborda temas políticos sempre voltados a Teologia da Libertação? Por que nós que só queremos participar dos sacramentos em tempos de pandemia fomos taxados de “extremistas”, “fanáticos”, “genocidas”, “fundamentalistas”, dentre outros adjetivos pejorativos contidos nesse documento do CF e em palestras? A doutrinação comunista está acabando com a nossa igreja, cada vez mais vazia, mais dessacralizada, mais profanada… Será que levar o rebanho ao céu não é mais a finalidade da Igreja, o negócio é se reduzir a uma mera ONG caritativa?Se for isso não precisamos de Igreja. Enquanto isso as igrejas evangélicas, não essas igrejas insignificantes representadas pelo “ConiC” estão cada vez mais cheias, por que será? Será que a Igreja vai seguir a risca os ensinamentos nefastos da “pastora” abortista e “adaptar” a interpretação da Bíblia às vontades dos depravados e degenerados em geral? A omissão do “Vá e não peque mais!” foi um aperitivo? Tirem o PT do altar!

Andre Santos Ferreira
Andre Santos Ferreira
3 anos atrás

🤮

Fabio Fraga
Fabio Fraga
3 anos atrás

Quando tudo acabar , restarão os progressistas… triste a Igreja de Pedro estar tomada por seguidores de Marx

Paulo Emar
Paulo Emar
3 anos atrás

Se o demônio me arrasta para o inferno, eu não posso resistir. Se resisto, sou chamado de intolerante, violento, que não quero me aliar ao modernismo, que sou antiquado. Vocês falsos católicos, que estão sendo iludidos por essa corja de vigaristas idemoniados por “amizades”, por serem bonzinhos e obedientes, também estam no caminho do inferno. Saibam que ninguém, nem o demônio dividirá a Santa Igreja. Jamais conseguirão uma igreja unica no mundo. Como disse Dom Adair José de Guimarães. ” A Igreja já enterrou todos”.

Miguel
Miguel
3 anos atrás

A campanha da fraternidade aparentemente tem mais caráter arrecadativo do que evangelizador. Se a CNBB se preocupasse mais com as almas, em divulgar os novíssimos do homem e instruísse os católicos à salvação, nas homilias e na catequese, o espírito fraterno e contribuitivo seria imensamente maior.

Padre Gilson Magno
Padre Gilson Magno
3 anos atrás

Fala-se de tudo, exceto da face ensanguentada de Cristo e do seu valor salvífico.

Maria
Maria
3 anos atrás

É triste vermos os rumos dos dirigentes inescrupulosos tentam dar à nossa Santa Igreja. Vendo a pastora a favor do aborto!!! Essa CF é mais um pandemônio na Quaresma. Misturam a CF com a Quaresma. Os Salmistas não querem cantar os cantos propostos para a Quaresma, Vou dar sim minha contribuição; para a minha Paróquia.

Pedro Menezes
Pedro Menezes
3 anos atrás

“1) A Campanha da Fraternidade é um valor que não podemos descartar.”

A CF não é um “valor”. A Igreja não é uma empresa para assumir um projeto ou campanha como “valor” ou “missão”, a Igreja é a Esposa de Cristo e os únicos valores e princípios que devem pautá-la são aqueles de Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho. Fica evidente, nessa afirmação, que a Campanha da Fraternidade tornou-se uma “marca” da CNBB, uma pauta de marketing, com a qual se ganha imagem e portanto não pode ser tocada ou ajustada no mínimo, mesmo com todas as críticas, todo ano.

“Concluímos lembrando a importância da Campanha da Fraternidade na história da evangelização do Brasil. É nossa marca.”

Sim, um importante trabalho que já dura mais de cinquenta anos. Se a evangelização por meio da CF foi assim tão relevante, então digam: quantas conversões ocorreram no Brasil com as CFs ao longo de mais de cinco décadas? Quantas pessoas ingressaram no seio da Santa Igreja? A população católica brasileira cresceu ou diminuiu de 1960 para cá?

Querem resultados da “marca” da Campanha da Fraternidade – então onde está o resultado da evangelização, onde estão as conversões? Ou, de outro modo, vocês têm uma noção diversa de “evangelização”, que não seja salvar almas por meio da Igreja de Cristo.

Se acreditam que a CF é tão importante, ótimo: transfiram-na para outra época. Façam dela uma preparação para o Natal, uma campanha de inverno (com as comemorações dos valorosos santos durante as festas juninas), uma celebração da época pascal, etc. Qualquer hora é época de amparar os pobre e os que sofrem, os preferidos de Deus, sempre atendidos pela Igreja.

Deixem a santa Quaresma para a preparação das almas com os remédios espirituais que a Igreja SEMPRE recomendou: oração, jejum, esmola. Permitam e instiguem que as almas dos católicos cresçam para que sejam capazes de agir com fraternidade durante a Campanha em outra época do ano.

Ou então a CF ficará vazia como tem sido ultimamente. Ouvirão as mesmas críticas todo ano. Porque sem Cristo, sem força espiritual e a graça do Evangelho, “fraternidade” para dar dinheiro não passará de filantropia, e o “debate” dos temas “difíceis” não será mais do que uma assembléia de universitários.