De Norte a Sul do Brasil, eles vivem o isolamento social e criam alternativas para continuar a vida em comunidade e as atividades missionárias
A terceira semana do mês de agosto, de 16 a 22, será dedicada à vida consagrada, ou seja, às pessoas que fazem votos de castidade, pobreza e obediência.
Em 2020, pela primeira vez, acontecerá a Semana Nacional da Vida Consagrada, motivada pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), cujo tema é “Amados e Chamados por Deus” (Chv, 112), que ganha ainda maior destaque diante da atual pandemia, que exige que os religiosos criem alternativas para manter as ações missionárias e a vida em comunidade.
Irmãs na linha de frente da COVID-19
Irmã Célia Luíza Araújo do Carmo, 42, nasceu em Registro (SP), mas cresceu em Feira de Santana (BA). Ela pertence à Congregação das Ministras dos Enfermos de São Camilo (Camilianas) e atualmente desempenha sua missão na cidade de Dois Lajeados (RS).
“Queria dedicar minha vida totalmente a Deus e ao serviço dos irmãos, quando conheci uma religiosa da Congregação à qual pertenço hoje, fundada por Maria Domingas Brun Barbantini e cujo carisma é o cuidado, sobretudo dos doentes”, contou Irmã Célia ao O SÃO PAULO, recordando seu chamado vocacional.
Diante da atual pandemia, Irmã Célia disse que as religiosas conversaram sobre as mudanças que precisariam ser feitas, como, por exemplo, a transferência das idosas para outra casa, as medidas de higiene e as saídas de casa somente em casos essenciais, bem como o distanciamento dentro da própria comunidade.
As atividades missionárias, porém, se intensificaram, pois, como enfermeiras do Hospital São Roque, único da cidade de Dois Lajeados e que atende também os municípios vizinhos, foi preciso criar protocolos e planos de contingência para o enfrentamento do vírus. “Além disso, tivemos que treinar e preparar todos os profissionais do hospital, para enfrentar a batalha que estava por vir. E não somente o preparo técnico, mas também espiritual, para que todos fossem fortes e não desanimassem diante da pandemia”, contou a Religiosa.
Às duas religiosas enfermeiras da comunidade, ambas com mais de 60 anos, foi sugerido que se afastassem das atividades. “Elas, porém, não aceitaram e se dispuseram a continuar atendendo os doentes, mesmo com risco de vida, tendo a oportunidade de viver o quarto voto, que é o de serviço aos doentes, pois o Mestre que seguimos não poupou a própria vida por amor”, acrescentou Irmã Célia.
Pela intercessão de Maria Imaculada
Irmã Sarah Reis, 49, nasceu em Raposos (MG) e atualmente mora em Brasília (DF). Desde pequena, Sarah acompanhava sua mãe à igreja e brincava com suas amigas enquanto a mãe ensaiava no coral. E foi durante os encontros de preparação para o Crisma que, aos 14 anos, ela sentiu que queria seguir Jesus como religiosa.
“Procurei endereços de congregações para iniciar meu processo de resposta a Deus. Meu pai tinha receio de que fosse algo passageiro e se opôs logo no início. Também porque eu era a filha caçula e a primeira da família que queria seguir esta vocação. Fui crescendo, namorei alguns rapazes, porém, aos 18 anos, após um processo de acompanhamento e discernimento com as Irmãs Concepcionistas Missionárias do Ensino, ingressei na Congregação”, contou Irmã Sarah, que emitiu os primeiros votos religiosos em 1995.
O isolamento social na comunidade, em Brasília, começou em 13 de março. “Cheguei da Espanha no dia 15 daquele mês, para onde tinha ido para um encontro internacional da Congregação, e fiquei isolada por 14 dias. Depois disso, na comunidade, começamos com atendimento a distância”, explicou Irmã Sarah.
Como a missão das Concepcionistas é em um colégio, a pandemia trouxe muitos desafios, como a reorganização dos horários, a participação da missa pela televisão, além das reuniões, encontros e acompanhamento de alunos e suas famílias a distância. “Fisicamente, estivemos e estamos distantes de muita gente, mas mediante os meios digitais, fomos superando o distanciamento pela presença criativa e pela oração”, explicou a Religiosa.
Solidariedade e fé!
Mario Cabral Aguilar, 38, é padre da Congregação do Espírito Santo (Padres Espiritanos). Ele nasceu no Paraguai e trabalha como missionário na cidade de Fonte Boa (AM), a 850km de Manaus, subindo o Rio Solimões. Atualmente, é Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, da Prelazia de Tefé.
“Aos 18 anos, fiz os primeiros contatos com a Congregação e, após dois anos de discernimento, comecei o caminho com os Espiritanos. Toda a formação inicial aconteceu no Paraguai, e a Teologia, em São Paulo (SP). Meu estágio missionário foi no Quênia. Foi uma experiência muito forte e feliz, pois fiquei junto com uma tribo que está numa fase de primeira evangelização”, contou o Padre. Após a ordenação, foi enviado ao Amazonas, para uma região pobre, de difícil acesso e que conta com poucos missionários. Além da matriz, ele atende nove capelas urbanas e 38 comunidades ribeirinhas, sendo que a mais distante fica a 27 horas de barco da cidade, na comunidade indígena da etnia tikuna.
“O isolamento social aqui começou em meados de março, com restrições de transporte à cidade. Em abril, tivemos os primeiros casos e, hoje, já não temos números crescentes de contaminação. As pessoas não fazem mais isolamento e tememos uma segunda onda de contágios”, comentou o Padre.
Com a suspensão das atividades presenciais, a matriz paroquial alugou uma “boca de ferro” para que a missa pudesse ser ouvida pelas pessoas do centro da cidade. “A conexão de internet aqui não é suficiente para transmitir as celebrações. Por mais que investíssemos a fim de torná-la possível, o número de adesões seria baixo, pelo mesmo motivo da conexão. Estamos começando a reabertura das igrejas, com muita prudência”, explicou.
Mesmo com a matriz e as demais capelas fechadas, todas as contas foram pagas e os funcionários mantidos, graças à fidelidade dos dizimistas. Além disso, por meio do grupo de jovens, a Paróquia conseguiu arrecadar alimentos para ajudar mais de 650 famílias, com doações locais e até do exterior.
O Sacerdote contraiu a COVID-19, tomou as medicações recomendadas e, já recuperado, continua em missão.