
Há pouco mais de dois anos, em outubro de 2023, era publicada na edição 3468 do jornal O SÃO PAULO a reportagem “Catequese Inclusiva: nada pode impedir que alguém se encontre com Deus”. De autoria do jornalista Daniel Gomes, o texto reporta as experiências de Catequese Inclusiva na Paróquia São Sebastião, na Vila Guilherme, Região Santana; e na Arquidiocese do Rio de Janeiro, lá chamada de Catequese Diferenciada.
O texto também apresentava citações dos Papas São João Paulo II, Bento XVI e Francisco sobre a missão da Igreja em assegurar que as pessoas com deficiências físicas ou mentais recebam os sacramentos da iniciação à vida cristã, além de indicativos a este respeito que constam no Diretório para a Catequese, publicado em 2020 pelo Dicastério para a Evangelização.
No domingo, 23, a reportagem foi anunciada entre os 19 trabalhos premiados na 55ª edição dos Prêmios de Comunicação da CNBB, que recebeu 478 produções inscritas, avaliadas por um júri técnico e pastoral, formado por oito universidades católicas do Brasil e oito bispos indicados pela Comissão de Comunicação da CNBB.
ABORDAGEM NOTICIOSA
Para a produção da reportagem, o jornalista e o fotógrafo Luciney Martins estiveram em um encontro de Catequese Inclusiva da Paróquia São Sebastião. O texto traz detalhes sobre a ambientação, os materiais usados e as metodologias aplicadas, e a interação dos catequizandos Guilherme, Noelia e Isabela – os três com deficiência intelectual – com a catequista Márcia Valéria Wissinievski Souza, que conduz as atividades junto com a catequista Silvana Lucia Nunes Aidar.
Também é destacado como os catequizandos e seus pais são integrados à vida pastoral desta Paróquia, na qual há mais de 40 anos existe um núcleo do Movimento Fé e Luz, que atua para incluir as pessoas com deficiência intelectual na Igreja e na sociedade.
A experiência da Catequese Diferenciada na Arquidiocese do Rio de Janeiro foi contada pela catequista Rosali Villa Real da Costa Bastos, em entrevista por telefone. Por 20 anos, ela trabalhou como professora em um centro de referência em educação especial. Aos 15 meses de vida, seu filho, Nielsen, teve uma infecção que resultou em significativa perda cognitiva e que afetou seu desenvolvimento motor. Passados alguns anos, ela foi convidada a ser a catequista do próprio filho e de outras crianças com deficiência.
Há mais de 30 anos, Rosali é a coordenadora arquidiocesana da Catequese Diferenciada e busca assegurar que em todas as paróquias da Arquidiocese do Rio de Janeiro haja catequistas bem-preparados para que as pessoas com deficiências cognitivas, sensoriais ou psíquicas participem dos encontros de Catequese. Ela também idealizou o “Clubinho de Mães”, para a socialização entre as famílias destes catequizandos e para que se fortaleçam na fé.
A MISSÃO CONTINUA

Ao saber que a reportagem sobre Catequese Inclusiva foi premiada, Márcia lembrou que, dias após a publicação do jornal, recebeu muitos telefonemas de mães e catequistas querendo orientações sobre como inserir pessoas neuroatípicas na catequese: “Recebi até a ligação de uma avó lá do Maranhão, pois a filha dessa senhora mora aqui em São Paulo e o neto tem autismo [Transtorno do Espectro Autista]. Eu consegui que a criança ingressasse na catequese na paróquia perto da casa da família. A reportagem foi muito boa, pois trouxe visibilidade para o tema. Também muitos catequistas passaram a se interessar mais pelo assunto”.
Márcia assegurou que já está em estudo a realização de formações de Catequese Inclusiva em âmbito arquidiocesano. Na Paróquia São Sebastião, a prioridade tem sido inserir os catequizandos neuroatípicos nas turmas que já existem, dando apoio às catequistas perante eventuais dificuldades. Apenas em casos que requeiram maior suporte é que a Catequese ocorre em uma turma separada, mas todos são integrados à vida da Paróquia.
Também há busca ativa por paroquianos que ainda não receberam os sacramentos da iniciação à vida cristã. “Quando sabemos que na família há uma criança com deficiência, nós vamos atrás, fazemos o contato, fazemos a ‘Igreja em saída’”, detalhou Márcia, enfatizando que jamais uma paróquia deve se negar a receber alguém na catequese pela condição que tenha: “Sempre se deve acolher. Que se reúna os catequistas e veja quem é aquele que melhor pode evangelizá-la. Também é importante ser sincero com a família, para que saiba que estamos dispostos a catequizar aquela pessoa e aprender ao longo do processo. E o melhor a fazer é pensar como Jesus agiria diante de uma situação assim. Ele sempre mostra um caminho, respostas, e ter medo em acolher nos paralisa”.
DE PORTAS SEMPRE ABERTAS

Na Arquidiocese do Rio de Janeiro, Rosali, hoje com 75 anos, continua a ministrar formações periódicas para os catequistas sobre a Catequese Diferenciada: “A gente tem que preparar tanto o grupo de crianças com essa condição quanto o grupo de catequese que as receberá, não é um simples ‘bota lá dentro’, que seria inscrever esta criança ou adolescente na catequese, colocá-lo no cantinho da sala, dar um papel e um lápis. Não! Assim ele não está incluso!”
Rosali detalha que, no processo da Catequese Diferenciada, quando a família informa que a criança ou adolescente é neuroatípico ou quando a catequista percebe esta condição, busca-se dar maior atenção por dois a três meses a este catequizando em turmas menores, em uma fase de adaptação para que somente depois ele participe das turmas maiores. “Assim, essa criança será mais feliz, aceita e respeitada”, assegurou.
Rosali não escondeu a alegria em saber que a reportagem sobre a Catequese Inclusiva/Diferenciada foi premiada: “Jesus veio para todo mundo e não só para os bonzinhos, os bonitinhos, os cheirosos. Ver este tema ser premiado me dá a certeza de que o Papai do Céu está contente com o meu trabalho”, concluiu.
| O QUE DIZ O DIRETÓRIO PARA A CATEQUESE? Publicado em junho de 2020 pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (atual Dicastério para a Evangelização), o Diretório para a Catequese trata, nos parágrafos 271 e 272, das peculiaridades da Catequese para pessoas com deficiência intelectual: “As pessoas com deficiências intelectuais vivem a relação com Deus no imediatismo da sua intuição e é necessário e condigno acompanhá-las na vida de fé”; “Que os catequistas procurem novos canais de comunicação e métodos mais adequados para favorecer o encontro delas com Jesus. Por isso, são úteis as dinâmicas e linguagens de tipo experiencial que impliquem os cinco sentidos e percursos narrativos capazes de envolver todos os sujeitos de maneira pessoal e significativa”; “Em vista deste serviço, é bom que alguns catequistas recebam uma formação específica”; “Os catequistas devem estar próximos também das famílias de pessoas com deficiência, acompanhando-as e favorecendo a sua plena inserção na comunidade. A abertura destas famílias à vida é um testemunho que merece grande respeito e admiração”; “As pessoas com deficiência são chamadas à plenitude da vida sacramental, mesmo quando se trata de distúrbios graves. Os sacramentos são dons de Deus e a liturgia, ainda antes de ser compreendida racionalmente, pede para ser vivida: portanto, ninguém pode recusar os sacramentos às pessoas com deficiências”; “As pessoas com deficiência podem realizar a dimensão elevada da fé que compreende a vida sacramental, a oração e o anúncio da Palavra. Efetivamente, elas não são apenas destinatárias de catequese, mas protagonistas de evangelização”. |
Muito obrigado!

Neste momento tão especial da minha carreira, agradeço à CNBB o Prêmio Dom Hélder Câmara, na categoria jornal, com a reportagem sobre Catequese Inclusiva. Minha gratidão também às catequistas Márcia Valéria e Rosali Bastos pela atenção comigo. Aproveito para parabenizá-las pelo espetacular trabalho que realizam!
Dois princípios me movem a cada dia: o primeiro é fazer Jornalismo com excelência e em busca da verdade, algo que vivo no O SÃO PAULO há 15 anos. Agradeço muito ao Padre Michelino e a Maria das Graças (Cássia) pela confiança, e a todos os meus colegas de redação, de ontem e de hoje, pela parceria. O outro princípio é não decepcionar a quem amo: meu filho Lucas, minha esposa Lidiane, minha mãe Maria Áurea e meus irmãos ‘de sangue e de coração’. Tudo isso aprendi com meu falecido pai, Pedro Roberto de Araújo, o maior incentivador da minha carreira, que já à espera da feliz ressurreição, deve estar alegre por esta conquista.
Muito obrigado e vamos em frente com fé!
(Daniel Gomes de Araújo – jornalista graduado e redator-chefe do O SÃO PAULO)

Daniel Gomes com seus familiares e parte da equipe do jornal O SÃO PAULO






