O SÃO PAULO inicia série que recorda as reflexões apresentadas no documento publicado pelo Arcebispo de São Paulo em 2011
Desde os preparativos, em 2006, para a visita do Papa Bento XVI a São Paulo e a realização da Conferência de Aparecida – eventos que aconteceriam em 2007 – até a realização do 1o Congresso de Leigos, em 2010, tendo ainda neste ínterim a comemoração do centenário da Arquidiocese de São Paulo (2008) e a realização do Ano Paulino e do Ano Sacerdotal (2009-2010), os católicos em São Paulo viveram um intenso momento de reflexão sobre a própria fé e o testemunho cristão na cidade.
À luz do Documento de Aparecida (2007), que fazia um chamado à Igreja da América Latina para uma conversão pastoral e missionária, também se vivia na Arquidiocese o 10o Plano de Pastoral (2009-2012), com indicações programáticas, objetivos e métodos de trabalho para que o anúncio de Cristo chegasse a todas as pessoas, modelasse as comunidades e incidisse na sociedade e na cultura, a partir do testemunho dos valores evangélicos.
O destaque pastoral do 10o Plano para anos de 2011 e 2012 chamava a refletir sobre caminhos para que a Igreja se tornasse verdadeiramente discípula e missionária na grande cidade, em especial a partir da paróquia. Foi nesse contexto que, em 25 de janeiro de 2011, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, publicou a 1o carta pastoral de seu episcopado, “Paróquia, torna-te o que tu és”, com reflexões sobre a necessária revitalização missionária das paróquias.
Propósitos
Em artigo na edição do O SÃO PAULO de 15 de fevereiro de 2011, data em que a carta foi entregue aos padres e passou a ser distribuída à comunidade de fiéis, Dom Odilo explicou que o documento tinha como foco refletir sobre o destaque pastoral para os anos de 2011 e 2012, além de ser um convite “a avançarmos na realização das metas do nosso 10º Plano de Pastoral – ‘Ser Igreja Discípula e Missionária de Jesus Cristo na cidade de São Paulo’. Ao mesmo tempo, coloca-nos em sintonia com a missão continental e a realização das grandes propostas da Conferência de Aparecida”.
“Queremos perguntar-nos sobre como está a nossa paróquia e o que pode ser feito para que ela seja uma verdadeira comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo na cidade de São Paulo?”, prosseguiu o Arcebispo.
Acima de tudo, apontava Dom Odilo, a carta era um convite para a tomada de consciência sobre aquilo que dá sentido à existência da paróquia e o que ela é chamada a ser: “Se for vista com os olhos da fé eclesial, a paróquia é uma realidade bonita, abençoada e preciosa. Mas hoje, certamente, precisamos fazer alguns passos para ir além da preocupação com a conservação daquilo que somos e temos: as paróquias precisam fazer, como pede a Igreja, uma decidida ‘conversão pastoral e missionária’ de suas pessoas, organizações e estruturas pastorais. É necessário adotar uma nova atitude e preocupação, que traduza um claro objetivo missionário”.
‘Comunidade de comunidades’
No 1o capítulo da carta, Dom Odilo comentou que, no ano pastoral de 2011, a meta era “colocar em destaque uma expressão fundamental de nossa Igreja, a paróquia, ‘comunidade de comunidades’, como vem identificada no Documento de Aparecida […] Queremos perguntar-nos, seriamente: como está a paróquia, a nossa paróquia? Conhecemos bem a realidade, pelo menos a realidade religiosa, de nossa paróquia? Há nela vazios, espaços ou situações não atendidas pela ação da nossa Igreja? Nossa paróquia chega ao final de cada ano, com as mesmas pessoas, ou pode constatar com alegria que novos sinais de vida foram despertados e foram integrados novos membros na família de Deus? Existem iniciativas para a formação do povo na fé, das crianças aos adultos? Nossa paróquia é animada por verdadeiro ardor missionário?”
Ainda na carta, o Arcebispo ressaltava que “a paróquia é, na expressão local e concreta, aquilo que a Igreja é no seu todo”, e que renová-la “é essencial para que nossa Arquidiocese, grande comunidade de muitas comunidades de discípulos missionários de Jesus Cristo, possa realizar bem sua missão na cidade de São Paulo”.
Ao olhar a paróquia sob essa perspectiva, a 1a carta pastoral do Arcebispo Metropolitano antecipou reflexões que seriam apresentadas pelas duas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil daquela década (2011-2015) (2015-2019) e trouxe à tona uma preocupação sempre atual, haja vista, por exemplo, que em julho de 2020, a Congregação para o Clero publicou a instrução pastoral “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”.
Um novo olhar para paróquia
No 2o capítulo da carta pastoral, o Arcebispo convida a um olhar mais detalhado sobre o que é a paróquia e propõe que se tenha uma renovada consciência a respeito do seu significado teológico, místico e pastoral, superando, assim, uma visão apenas burocrática e jurídica acerca da paróquia.
“As definições da paróquia poderiam ser diversas. Cabe-lhe bem o conceito de ‘comunidade missionária dos discípulos de Cristo’ no meio do mundo. É comunidade de pequenas comunidades, famílias, pessoas, grupos, organizações e instituições, que testemunham a variedade, a riqueza e a beleza dos dons de Deus e estão a serviço da missão recebida de Cristo […] é também o conjunto de organizações, estruturas e iniciativas pastorais a serviço da vida e da missão da Igreja. Ela é o ícone visível daquilo que a Igreja de Jesus Cristo é na sua totalidade e no seu mistério humano-divino […] é a Igreja ‘na base’, onde a vida e a missão da Igreja acontecem; é a célula viva da Igreja, lugar privilegiado no qual a maioria dos batizados tem a possibilidade de fazer uma experiência concreta do encontro com Cristo e da comunhão eclesial”.
Nos demais capítulos, dez ao todo, o Arcebispo comenta a respeito da vida e missão da paróquia para o anúncio da Palavra de Deus; a santificação do povo e a caridade pastoral; o papel que nela desempenham os padres, leigos, religiosos e consagrados; os sinais que confirmam que a paróquia é uma verdadeira comunidade de discípulos-missionários de Cristo; a dimensão como comunidade de comunidades; o trabalho de formação religiosa do povo; a atuação missionária da paróquia; e o que deve ser aprendido do apóstolo São Paulo para que cada paróquia seja sinal da Igreja discípula e missionária de Jesus Cristo na cidade de São Paulo.
Detalhes sobre estes capítulos serão apresentados na próxima edição. A íntegra da carta pode ser lida no site do O SÃO PAULO.