Pastoral Carcerária: presença do Papa junto a detentos dá esperança à realidade do Brasil

“O Papa nos aponta o caminho que a gente também quer seguir”, afirma o vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária. Na Semana Santa, uma penitenciária de Roma. No domingo (28), Francisco visitou uma prisão em Veneza, na Itália, encontrou detentas e dirigiu “palavras tão bondosas e cheias de misericórdia. A gente percebe que ainda há esperança”, reforça Pe. Almir Ramos, que atua num Brasil com quase 1 milhão de presos, o terceiro país no mundo com maior população carcerária após EUA e China.

Pastoral Carcerária/Arquidiocese de Florianópolis

O Papa Francisco acaba de voltar da visita pastoral a Veneza, no domingo, 28, para se programar para uma próxima, marcada para 18 de maio na cidade italiana de Verona. Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé que anunciou nesta segunda-feira, 29, o programa oficial, o Pontífice deve voltar a uma penitenciária, desta vez à Prisão Montorio, que tem virado notícia local nos últimos meses pelos trágicos suicídios registrados, além de uma preocupante superlotação confirmada por dados da Associação Italiana Antigone, já que acolhe cerca de 490 pessoas diante da capacidade de 337 lugares.

Em Veneza, Francisco visitou a Casa Feminina de Detenção na ilha de Giudecca, que abriga 80 mulheres reclusas, privadas da sua liberdade. Em discurso neste domingo, 28, insistiu que estava ali para um momento importante de dedicação mútua de tempo, oração, proximidade e afeto fraterno, desejado por Deus, porque Ele conhece a história de cada uma. Não faltou uma mensagem de encorajamento para as detentas:

“Renovemos hoje, eu e vocês, juntos, a nossa confiança no futuro: não fechem a janela, por favor, sempre olhar o horizonte, sempre olhar o futuro, com a esperança. Gosto de pensar na esperança como uma âncora, que está ancorada no futuro, e nós temos nas mãos a corda e vamos em frente com a corda ancorada no futuro. Vamos nos propor a começar cada dia dizendo: hoje é o momento favorável, hoje; hoje é o dia justo, hoje; hoje recomeço sempre para toda a vida!”

AS PALAVRAS DO PAPA QUANDO CHEGAM AO BRASIL

Para o vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária, Pe. Almir José de Ramos, do clero da Arquidiocese de Florianópolis/SC que atua como agente de pastoral há 20 anos, as palavras do Papa são sempre muito fortes para justamente chamar a atenção da realidade do sistema prisional:

“Isso nos fala muito, para nós, Pastoral Carcerária do Brasil. Primeiramente porque nós estamos no país com a terceira maior população carcerária do mundo e, também, com um número muito grande de mulheres encarceradas no nosso país. As feridas, as cicatrizes, as dores e o sofrimento dessas pessoas no nosso país – e de modo especial, das mulheres – interpelam nós, agentes da Pastoral Carcerária, para que a gente possa fazer algo para ajudar a mudar essa história.”

Em discurso, o Papa também falou da dura realidade vivida na prisão, com “problemas como a superlotação, a carência de instalações e de recursos, os episódios de violência”. No Brasil, em particular, acrescentou o Pe. Almir, o encarceramento em massa só aumenta, assim como o sofrimento e as dores das pessoas confinadas. A população carcerária no país chega a quase 1 milhão de presos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China:

“Para cada pessoa, a gente conta pelo menos mais 4 pessoas que são atingidas pela prisão. Então, se temos quase 1 milhão de pessoas ou 900 mil pessoas presas, a gente pode contar tranquilamente que 4 milhões de pessoas no Brasil são atingidas: seja uma mãe, seja um filho, seja uma esposa, um esposo, enfim, familiares dessas pessoasque se encontram não presas, mas atingidas de alguma forma pelo sistema prisional.”

“E quando a gente vê o Papa indo ao encontro dessas pessoas, o Papa dirigindo palavras tão bondosas, tão cheias de misericórdia para essas pessoas, a gente percebe que ainda há esperança. Apesar de que nós, às vezes, caminhamos contra toda essa esperança… Mas temos a certeza de que nós não podemos perder a esperança! Nós temos a certeza de que nós estamos indo ao encontro dessas pessoas, que são nossos irmãos e irmãs, e que precisam tanto da gente, que muitas vezes eles não têm outra visita a não ser a da Pastoral Carcerária. Então, que esse exemplo do Papa Francisco para todos nós sirva para que a gente continue lutando, sonhando esse sonho de Deus, que é o mundo sem cárcere, lutando pelo desencarceramento, lutando contra todo sofrimento no sistema prisional.”

AS VISITAS DO PAPA A UNIDADES PRISIONAIS

O Papa Francisco, segundo o cardeal José Tolentino De Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, “é um visitador global de cárceres. Já visitou quase 20 cárceres, mais do que um por ano”. Essa foi a segunda vez no ano que o Papa visitou uma prisão. E feminina. Na Quinta-feira Santa, em 28 de março, com humildade e ternura, o Pontífice imitou Jesus durante a Ceia do Senhor e lavou e beijou os pés de 12 mulheres que cuprem pena na Penitenciária Feminina de Rebibbia, em Roma. Um caminho seguido diariamente no Brasil, como nos conta o Pe. Almir:

“É interessante observar que aqui no Brasil, depois que começamos a acompanhar o Papa Francisco em algumas das visitas dele no sistema prisional, lavar os pés dos presos e das presas, muitos padres e também bispos começaram a fazer isso aqui no Brasil. E hoje em dia já é uma realidade que acontece em muitas dioceses. Na Semana Santa, muitos padres, bispos, leigos, religiosos e diáconos vão nas unidades prisionais, celebram com eles e fazem o Lava-pés. E mais do que isso, também, estão lá no dia a dia, semanalmente, nessas unidades, levando um pouco de dignidade, de paz e de esperança para essas pessoas. E é porque nós temos o exemplo bonito que vem do Papa e a gente também sente que a gente precisa fazer o mesmo, afinal de contas, o nosso grande pai que é o Papa, o nosso grande líder espiritual que é o Papa, nos aponta o caminho e a gente quer seguir também por esse caminho.”

O caminho é colocar a pessoa humana no centro, porque “todos têm uma dignidade que precisamos abraçar”, disse o cardeal Tolentino em entrevista ao Vatican News. “Todos nós temos erros a serem perdoados e feridas a serem curadas”, reforçou ainda o Papa Francisco em discurso na prisão de Veneza, inspirando a missão da Pastoral Carcerária no Brasil:

“Que essa presença do Papa nessa unidade prisional em Veneza, venha a reforçar a nossa luta. Venha a nos ajudar a sermos cada vez melhores e a fazer cada vez melhor o nosso trabalho, assumir cada vez mais a nossa missão de agentes da Pastoral Carcerária. E que a gente possa também lutar mais junto como essas pessoas pela dignidade, pelo respeito aos direitos humanos que são tantas vezes negados. Principalmente aos direitos das mulheres, às vezes tão esquecidas, tão abandonadas, tão marginalizadas, tão maltratadas nesse sistema e que precisam da nossa presença e da nossa solidariedade.”

Fonte: Vatican News

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