
Teve início na manhã desta terça-feira, 4 de novembro, a reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que segue até a próxima quinta-feira, na sede da Conferência, em Brasília. Na manhã, o encontro refletiu sobre a conjuntura atual da Igreja e do mundo.
Reflexão espiritual e cuidado com a criação
Na abertura da reunião, o presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, destacou a proximidade da COP 30, que acontecerá já neste mês, em Belém (PA). O arcebispo recordou trechos da oração eucarística que expressa louvor a Deus pela criação e ressaltam a responsabilidade humana no cuidado com a Casa Comum.
“Estamos às portas da COP 30. Gostaria de recordar o que rezamos na Oração Eucarística: tudo o que criastes proclama o vosso louvor (…). Fomos feitos à imagem de Deus e convidados a cuidar de tudo o que Ele criou”, destacou dom Jaime.
O presidente da CNBB também citou um pensador coreano, que afirma acreditar em Deus, no Criador, nesse jogador que começa tudo de novo e também renova tudo. “Que essas palavras possam nos inspirar nesse tempo em que estamos vivendo”, salientou dom Jaime.
Na sequência, o secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, apresentou um panorama da Igreja no Brasil. Atualmente, o país conta com 492 bispos, seis dioceses vacantes e registra a lembrança de prelados falecidos e renúncias recentes. Também foram destacadas as nomeações episcopais ocorridas nos últimos meses.
Conjuntura: o mundo em transição e o papel do Brasil
Abrindo a pauta do Conselho, Dom Francisco Lima Soares, Bispo de Carolina (MA), apresentou a análise de conjuntura social, documento que traz uma leitura das transformações políticas, econômicas, sociais e culturais em curso no Brasil e no mundo.
O texto descreve um cenário global marcado pela disputa entre Estados Unidos e China, que reorganiza o sistema internacional e enfraquece a sensação de estabilidade herdada do pós-guerra. O texto enfatiza a necessidade de recolocar o ser humano no centro do debate internacional, diante da crise da atual ordem mundial, evidenciada pelos conflitos na Ucrânia e em Gaza.
“A paz não é retórica nem assinatura de cúpula; é material e cotidiana – feita de pão, trabalho, escola e segurança”, expressa a análise.
COP 30 e o cuidado com a Casa Comum
Com a aproximação da COP 30, que ocorrerá em Belém, o documento ressalta o papel simbólico e estratégico da Amazônia no debate global sobre o futuro climático do planeta.
“Esta será uma COP na floresta, e não da floresta”, destacou dom Francisco, sublinhando que o evento será um marco de responsabilidade planetária.
O texto alerta que o mundo enfrenta uma encruzilhada: ou acelera a transição energética e reduz o uso de combustíveis fósseis, ou ultrapassará os limites de sobrevivência civilizatória. Nesse contexto, o Brasil é chamado a exercer uma liderança ética e diplomática, articulando ciência, fé e política em defesa da Casa Comum.
Cenário político e social brasileiro
A análise aponta que o país vive um momento de “equilíbrio estável, mas funcional” no campo político. No campo social, a análise reconhece avanços, como a queda da pobreza e o crescimento da renda média, mas aponta que as desigualdades estruturais permanecem, sobretudo entre mulheres e população negra.
“O país precisa ir além da recuperação econômica e transformar o atual ciclo de crescimento em um processo sustentável de inclusão e dignidade”, aponta o texto.
Esperança e sinais de paz
A análise conclui com uma nota de esperança: o avanço de um plano de paz na Palestina e o reconhecimento do Estado palestino por vários países. O documento também menciona a recente Exortação Apostólica Dilexi-te, do Papa Leão XIV, como um sinal de renovação espiritual e compromisso com os pobres e com o planeta.
“A perspectiva de solução para a crise passa pelo cuidado com os pobres e com a Casa Comum”, destaca o texto.
Análise eclesial: o caminho da sinodalidade

Durante o encontro, na parte da manhã, também foi apresentada a análise de conjuntura eclesial, conduzida por Dom Joel Portella Amado, que abordou o caminho da sinodalidade e a aplicação do Documento Final do Sínodo e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE).
Dom Joel estruturou sua reflexão em quatro pontos principais: delimitação semântica do conceito de sinodalidade; quadro pastoral brasileiro; o que já existe nas comunidades e estruturas eclesiais; e o que precisa existir para fortalecer o caminho sinodal.
Quadro pastoral brasileiro
O Bispo afirmou que o país vive um tempo de pós-cristandade, no qual a pastoral tradicional tem pouco fôlego para dialogar com a realidade atual. Ele mencionou o devocionismo autorreferencial e o Censo 2022, que confirmam a mudança religiosa no país, com o avanço das igrejas evangélicas e o crescimento do número de pessoas sem religião.
Entre os desafios para a implementação do Sínodo, Dom Joel destacou a compreensão não unívoca do conceito de sinodalidade; o risco de tratá-lo como modismo do Papa Francisco; a resistência de alguns setores marcados pelo clericalismo e pela sacralização de formas históricas; e a dificuldade de lidar com as mudanças na vida eclesial.
Dom Joel explicou que a sinodalidade é desdobramento do Concílio Vaticano II, enraizada na eclesiologia de comunhão e na própria Trindade, e não “deve ser confundida com uma simples reforma administrativa ou estratégia de sobrevivência da Igreja”.
Segundo ele, a Igreja vive uma crise de escuta, empatia e alteridade, fruto de uma profunda mudança de época, e é chamada a realizar conversões complementares: pessoal, no seguimento e discipulado; pastoral, na convivência e missão explícita; sinodal, na busca de consensos e escuta mútua; missionária, na abertura à pluralidade; epocal, na leitura dos sinais dos tempos.
Prioridades pastorais
Entre as prioridades pastorais indicadas estão a iniciação à vida cristã; o fortalecimento das pequenas comunidades; a valorização de conselhos e assembleias; e o estímulo à formação para a escuta, empatia e alteridade.
Dom Joel também destacou experiências concretas de sinodalidade já presentes na vida eclesial, como as CEBs, as novas comunidades, as comunidades formadoras nos seminários e a própria CNBB, que expressa comunhão, participação e missão.
Entre os desafios para o avanço da sinodalidade, o bispo apontou a necessidade de maior integração e abertura nos campos do papel das mulheres, das juventudes – especialmente os jovens sem religião -, do ecumenismo e diálogo inter-religioso, e na relação entre clero e leigos.
Por fim, para que a sinodalidade aconteça de forma plena, ele indicou quatro passagens essenciais:
Do autorreferencial ao kenótico, com atitude de serviço e entrega; da concentração à multiministerialidade, valorizando a corresponsabilidade; do consultivo ao consensual, com discernimento partilhado; e do macro ao micro, fortalecendo os processos locais e ascendentes.
A reunião segue até a próxima quinta-feira, 6, com o aprofundamento dos temas: aprovação da pauta da 62ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE), Campanhas: Fraternidade e da Evangelização, comunicações e informes econômico, dos regionais, das Comissões Episcopais e dos Organismos do Povo de Deus, sessão especial dos 20 anos de fundação do CEFEP, Movimento de Combate à Corrupção Eleitora (MCCE e bicentenário das relações Brasil Santa Sé.
Fonte: CNBB






