No dia 30 de junho de 1980, o Brasil recebeu pela primeira vez a visita de um pontífice. São João Paulo II desembarcou em Brasília (DF) e, logo ao descer do avião, se ajoelhou e beijou o solo, um gesto que marcou o seu pontificado.
Durante 12 dias, percorreu, além de Brasília, mais 13 cidades: Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo, (SP), Aparecida (SP), Vitória (ES), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), Belém (PA), Teresina (PI) e Fortaleza (CE).
Em seus mais de 26 anos de pontificado, São João Paulo II visitou 129 países, uma das razões pelas quais ficou conhecido como o Peregrino da Paz.
AO CORAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
Na capital federal, o Pontífice foi recebido pelo então presidente João Batista de Oliveira Figueiredo e pelas demais autoridades. Na Catedral de Brasília, encontrou-se com o clero e, logo em seguida, presidiu uma missa campal com a participação de 600 mil pessoas.
“E hoje, no início de minha peregrinação ao coração do povo de Deus em terra brasileira, desejo, com o mesmo sinal da cruz, marcar junto convosco minha fronte, meus lábios, meu peito. E como sucessor de Pedro, Bispo de Roma e pastor da Igreja, desejo abençoar com este sinal a vós todos aqui reunidos e a todo o Brasil”, disse na homilia. Depois, foi à sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e cumprimentou cerca de 60 bispos.
ESPERANÇA NOS JOVENS
Em Belo Horizonte, o Papa lembrou que a Igreja olha para os jovens com expectativa e esperança: “Vocês dizem, com razão, que é impossível ser feliz, vendo uma multidão de irmãos carentes das mínimas oportunidades de uma existência inumana. Vocês dizem, também, que é indecente que alguns esbanjem o que falta à mesa dos demais. Vocês estão resolvidos a construir uma sociedade justa, livre e próspera, onde todos e cada um possam gozar dos benefícios do progresso”.
COM AS MULTIDÕES E NAS FAVELAS DO RIO
No Rio de Janeiro, o Papa foi recebido por 2 milhões de pessoas no Aterro do Flamengo, onde celebrou missa e dedicou sua reflexão às famílias.
“Por muito tempo, nos inícios da Igreja, era em casas de família que outras famílias se reuniam para a ‘fração do pão’. Cada altar será sempre uma mesa, em torno da qual se congrega, mais ou menos numerosa, uma família de irmãos. A Eucaristia ao mesmo tempo reúne esta família, manifesta-a aos olhos de todos, estreita os laços que unem aos outros os seus membros.”
São João Paulo II também foi à Favela do Vidigal e se comoveu com a pobreza do local e o carinho dos moradores. Quebrando o protocolo, visitou um barraco e conversou com uma família. Após inaugurar a Capela São Francisco de Assis, construída pela comunidade, o Papa retirou o seu anel papal e entregou-o ao padre responsável pela comunidade, recomendando-lhe que o vendesse e utilizasse o dinheiro em prol da população local
AOS SACEDORTES
Na Catedral, o Pontífice encontrou-se com o clero e religiosas, onde comemorou os 25 anos do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Visitou também o Corcovado e abençoou a cidade do Rio de Janeiro. No Estádio do Maracanã, 160 mil pessoas participaram da missa na qual foram ordenados 74 sacerdotes.
“A expressão ‘Sacerdos alter Christus’ (‘o sacerdote é outro Cristo’), criada pela intuição do povo cristão, não é um simples modo de dizer, uma metáfora, mas sim, uma maravilhosa, surpreendente e consoladora realidade. Este dom do sacerdócio, lembrai-vos sempre disto, é um prodígio que foi realizado em vós, mas não para vós. Ele o foi para a Igreja, o que quer dizer, para o mundo a ser salvo”, lembrou o Papa.
AOS POVOS INDÍGENAS
O Papa também esteve em Manaus e celebrou uma missa para milhares de fiéis, dedicando sua mensagem aos povos indígenas.
“A Igreja procura dedicar-se hoje aos índios, como se dedicou desde a descoberta do Brasil aos seus antepassados. O Bem-aventurado José de Anchieta, nesse sentido, é um pioneiro e, de certo modo, um modelo de gerações e gerações de Missionários Jesuítas, Salesianos, Franciscanos, Dominicanos, Capuchinhos, Missionários do Espírito Santo ou do Precioso Sangue, Beneditinos e tantos outros!”
AOS CAMPONESES
O Papa também foi acolhido por multidões em Vitória, Porto Alegre, Curitiba e Teresina. Em Recife, São João Paulo II dedicou sua homilia aos trabalhadores rurais: “Como irmão, quero dizer-lhes, amados camponeses do Brasil, que vocês valem muito. Conservem as suas riquezas humanas e religiosas: o amor da família, o sentido da amizade e da lealdade, a solidariedade com os mais necessitados entre vocês, o respeito pelas leis e por tudo o que é legítimo na convivência civil, o amor à boa harmonia e à paz, a confiança em Deus e a abertura para o sobrenatural”
AO ENCONTRO DOS POBRES
Meio milhão de pessoas acolheram o Papa pelas ruas de Salvador, onde celebrou uma missa campal no Centro Administrativo da Bahia. Irmã Dulce estava presente e foi chamada ao altar para receber uma bênção especial do Papa, sendo aclamada pelo povo. Outro momento marcante foi a visita ao bairro dos Alagados, uma das regiões mais pobres da capital baiana.
Madre Teresa de Calcutá visitou o local e iniciou um trabalho de assistência aos mais necessitados, fundando, em 1979, a Creche das Irmãs Missionárias da Caridade. O Papa inaugurou, no alto da colina, a Igreja de Nossa Senhora dos Alagados, em 1980, que hoje também leva seu nome como copadroeiro, passando a se chamar Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II.
DEVOÇÃO MARIANA
Em Belém, a comitiva papal percorreu as ruas e o Pontífice celebrou uma missa campal, abençoando o povo com a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré.
“Belém e o seu Santuário de Nossa Senhora de Nazaré são monumentos do passado, como marco da evangelização e documento palpável de acendrada piedade para com a ‘Estrela da Evangelização’. Mas são também presente: o presente de uma Igreja viva e o presente da devoção mariana, nesta querida terra brasileira.
UNIÃO DA IGREJA
Em solo cearense, o Pontífice esteve na capital Fortaleza, onde participou do 10º Congresso Eucarístico Nacional, celebrando a missa de abertura no Estádio Castelão, com mais de 120 mil pessoas.
“Este Congresso Eucarístico brasileiro, o décimo na ordem, deve constituir uma particular manifestação da união de toda a Igreja em terras brasileiras, em torno do sacramento do Amor, no qual Cristo, ao dar-nos o próprio Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho, fez de nós uma oferenda permanente e agradável ao Pai (cf. Prex Eucharistica, III).”
OUTRAS VISITAS
São João Paulo II esteve no Brasil em outras três oportunidades: em 1982, discursou no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em escala para uma viagem à Argentina. Em 1991, durante nove dias, percorreu dez capitais: Natal (RN), São Luís (MA), Brasília (DF), Goiânia (GO), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Florianópolis (SC), Vitória (ES), Maceió (AL) e Salvador (BA). Em 1997, participou do II Encontro Mundial das Famílias, no Rio de Janeiro.