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Usar máscaras ainda é indispensável

Agência Senado

Barreira física capaz de evitar que partículas de saliva com o coronavírus passem de uma pessoa a outra ou de que alguém infectado as deposite em uma superfície, a máscara tem sido uma medida não farmacológica fundamental ao longo desta pandemia. Com o avanço da vacinação, porém, crescem as discussões sobre a possibilidade de que seu uso deixe de ser obrigatório em âmbito nacional ou ao menos em cidades e estados que apresentam redução significativa de novos casos, internações e óbitos por COVID-19.

Um estudo na capital paulista

Na quinta-feira, 14, a Prefeitura de São Paulo informou que ao menos até 10 de novembro o uso das máscaras continuará a ser obrigatório na capital paulista. Nesta data, haverá a divulgação de uma nova rodada do Estudo de Rastreamento, Monitoramento e Testagem de Contatos, chamado de Rastcov-Sampa.

O estudo conduzido pela Secretaria Municipal da Saúde foi feito para compreender a dinâmica da transmissão da COVID-19 entre os contatos mais próximos de pessoas cujos testes deram resultado positivo para a doença, e leva em conta a predominância da variante Delta do coronavírus na cidade.

De acordo com Paula Bisordi Ferreira, coordenadora do núcleo epidemiológico da Vigilância Sanitária, a taxa de transmissão entre um infectado e alguém com quem esta pessoa teve contato direto sem a devida proteção – por exemplo, uma conversa sem máscaras por até 15 minutos – ficou em 42,2%.

“O resultado do estudo nos recomenda manter a utilização de máscaras tanto em ambientes fechados quanto em ambientes abertos”, afirmou Edson Aparecido, secretário municipal da Saúde.

Paula citou, ainda, um estudo publicado pela revista Nature Medicine segundo o qual 44% das pessoas que se infectaram mediante este tipo de contato direto contraíram o coronavírus 48 horas antes daquele que lhes transmitiu ter apresentado os primeiros sintomas da doença, sendo que essa transmissão foi ainda mais intensa nas 24 horas anteriores ao período sintomático. “Esses contatos, caso se infectem, também vão transmitir a doença antes de terem os primeiros sintomas. Nisso está a importância das medidas não farmacológicas de prevenção, principalmente o uso de máscara, que é um aliado para se evitar a transmissão”, ressaltou.

No estado de São Paulo, o uso de máscaras continua em vigor. “Hoje os números, apesar da melhora, indicam que ainda temos pessoas ficando com doença grave, requerendo internação, ainda temos perdas de vidas e, portanto, devemos continuar utilizando também essa proteção, além da vacinação”, declarou, no dia 6, Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico que auxilia o governo paulista no combate à pandemia. Não está descartado, porém, que a obrigatoriedade seja revista até o fim do ano.

Quando será a hora de liberar o uso?

Com mais de 90% da população adulta vacinada e baixas frequentes no número de internações, casos e óbitos por COVID-19, a capital paulista reúne os principais fatores que permitiriam flexibilizar o uso das máscaras, mas a dinâmica da cidade tornaria essa decisão arriscada, conforme avalia o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

“São Paulo é um hub [ponto central de circulação de pessoas, serviços e atividades de uma região específica]. Assim, embora a área urbana da cidade tenha alta porcentagem da população completamente vacinada, o problema é que o entorno não chegou a esse percentual ainda, nem o País, de modo que liberar o uso de máscaras não é uma medida segura”, comentou Suleiman.

No dia 8, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou nota defendendo a manutenção do uso de máscaras no Brasil, além do avanço da vacinação, testagem em massa e monitoramento das pessoas infectadas e de suas contatantes: “É preciso que estejamos atentos às experiências frustrantes de alguns países que, acreditando ter superado os riscos, suspenderam a obrigatoriedade do uso de máscaras, afrouxaram as medidas de prevenção e, por isso mesmo, tiveram recrudescimento importante do número de casos e de óbitos, obrigando-os a retroceder”.

Nos Estados Unidos, a obrigatoriedade do uso da máscara passou a ser flexibilizada em maio para atividades ao ar livre e algumas em ambientes fechados. Porém, o avanço da variante Delta e a lenta velocidade de vacinação – no país, o movimento antivacina é um dos mais fortes do mundo – fizeram com que no fim de julho o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revisse a medida e voltasse a recomendar o uso da proteção facial, mesmo para os completamente vacinados, em áreas com altos índices de transmissão. No começo daquele mês, 46% da população já estava imunizada contra o coronavírus.

No Boletim do Observatório COVID-19, publicado na sexta-feira, 15, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que “o uso de máscaras continua sendo, e continuará ainda por um tempo, uma estratégia essencial para se evitar a transmissão do vírus. Com pelo menos 80% da população com esquema vacinal completo, seu uso pode ser flexibilizado em atividades ao ar livre que não envolvam aglomeração, mas deve ser exigido em locais fechados ou locais abertos com aglomeração”.

No entender de Suleiman, “não é hora de retirar a máscara, até porque não atingimos todos os idosos que precisam receber a dose de reforço e há um contingente de pessoas ainda não vacinadas. Além disso, é preciso que a taxa de transmissão chegue perto de 0.1 [ou seja, cada 100 pessoas infectadas transmitirão o coronavírus para no máximo outras dez]. Quando isso acontecer, a chance de esse vírus encontrar alguém suscetível, vulnerável, passa a ser bastante remota. Portanto, precisaremos de mais algumas semanas para levantar o manto da máscara”, avaliou.

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