Devoção ao Santo é expressa por diferentes gestos de piedade popular
São José, a vós vosso amor
Sede nosso bom protetor
Aumentai o nosso fervor
O refrão acima, de um dos cantos mais tradicionais ao Patrono da Igreja, expressa a piedade popular àquele a quem os fiéis recorrem para pedir a proteção pessoal e familiar e a intercessão a Deus nos momentos de tribulação.
Especialmente em 19 de março, mas também em outras datas do ano, muitos gestos marcam a devoção a São José: a bênção dos lírios, os papéis com intenções embaixo da imagem do Santo dormindo, a sacolinha e o cordão de São José são alguns deles (leia detalhes abaixo).
“Cada um desses devocionais nos ajudam a entender uma atitude de São José que nós temos que replicar na vida: quanto ao lírio, remete à pureza do coração, à santidade; com o cordão de São José, fala-se de confiar na proteção contra todos os males e perigos, porque São José foi protegido por Deus nos momentos difíceis da vida; quanto à imagem dormindo, isso está muito ligado à oração, ao silêncio, ao abandono em Deus, que ajuda a iluminar e discernir. Assim, o foco não está nos devocionais em si, mas nos sentidos que há neles”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Padre Marcelo Maróstica Quadro, Pároco da Paróquia São José, na Região Episcopal Belém.
PIEDADE POPULAR
Na exortação apostólica Evangelii nuntiandi (EN), ao falar sobre a religiosidade popular, São Paulo VI a classifica como “expressões particulares da busca de Deus e da fé”, que devem ser bem orientadas para se evitar “deformações da religião, como sejam, por exemplo, as superstições”, de modo a, positivamente, suscitar “atitudes interiores que raramente se observam alhures no mesmo grau: paciência, sentido da cruz na vida cotidiana, desapego, aceitação dos outros, dedicação, devoção etc. Em virtude desses aspectos, nós chamamos-lhe de bom grado ‘piedade popular’, no sentido religião do povo, em vez de religiosidade” (EN, 48).
No livro “São José: o lírio de Deus – resgatando a devoção na piedade popular” (Paulus, 2015), o Padre Jerônimo Gasques fala dos traços de São José que o tornam próximo de todas as pessoas: “São José é o operário sofrido, o retirante nordestino identificado na fuga para o Egito. É o agricultor que amanhece o dia de cara pra cima, à procura de um sinal de chuva, e aposta todas as suas esperanças de inverno no Dia de São José. É o homem sedento de justiça, o pai de família que tenta educar os filhos numa sociedade consumista, ameaçada por todo tipo de violência. É a história do sem-teto que procura uma gruta de Belém para abrigar a família”.
ALGUNS TRAÇOS DA PIEDADE POPULAR A SÃO JOSÉ
*Lírio de São José: No dia 19 de março, é tradição a bênção dos lírios, que os fiéis levam para acompanhar a procissão com a imagem do Santo. O lírio representa a pureza de coração de São José, a castidade, a fidelidade a Deus e a vitória da vida sobre a morte.
* Intenções embaixo da imagem de São José dormindo: “Foi em um momento difícil da vida, em sonho, que São José teve o discernimento de assumir o projeto de Deus, e, assim, não teve medo de assumir Maria e a criança que iria nascer. Isso explica a devoção das pessoas que escrevem a dificuldade que enfrentam ou um pedido e colocam este papel debaixo da imagem, pedindo que São José possa interceder por aquela situação”, explica o Padre Marcelo Maróstica. Este é um hábito também do Papa Francisco, conforme revelou durante a viagem apostólica às Filipinas, em 2015: “Quando tenho um problema ou uma dificuldade, eu o escrevo em um papelzinho e o coloco embaixo de São José, para que ele sonhe sobre isso, para que ele reze por este problema”.
*Sacolinha de São José: Confeccionada com diferentes tipos de tecido, no interior desta sacolinha é colocada uma moeda envolta em um papel com a seguinte oração: “Neste saquinho, guardarás tuas economias e terás a proteção de São José em situações financeiras. Nunca te faltará nada. Daqui a um ano, no dia 19 de março, farás 19 saquinhos e os distribuirás após ter assistido à missa de São José. Basta fazer uma vez. Guarde sempre contigo este saquinho com esta mensagem e a moeda que deve ser colocada junto. São José te abençoará”. De acordo com a piedade popular, assim como São José proveu o sustento da Sagrada Família, também intercederá para que nada falte ao devoto e seus familiares.
* Cordão de São José: Conta-se que na primeira metade do século XVII, no convento das Agostinianas na cidade de Anvers, na Bélgica, Sóror Isabel Sillevorts sofria de fortes dores com “pedra nos rins”. Devota de São José, ela pediu a um sacerdote que abençoasse um cordão. Depois, Sóror Isabel o cingiu na cintura, suplicou a intercessão de São José e, dias depois, se viu livre das dores do cálculo renal. Desde então, os devotos procuram o cordão não só para alívio das doenças corporais ou para assistência no leito de morte, mas, também, para alcançar a pureza da alma e a castidade. Além do cordão na cintura, há quem o utilize no pulso ou o coloque entre páginas de livros, no carro, na carteira, no travesseiro etc.
* Medalhinha de São José: Em sua composição mais comum, São José é retratado com o Menino Jesus nos braços, o que simboliza a paternidade e a proteção contra todos os perigos.
* O ‘Santo da Chuva’: O dia 19 de março é muito aguardado no sertão nordestino. A piedade popular assegura que, caso chova nesta data ou o clima se apresente fresco, o inverno será um bom período de chuvas, para amenizar o clima seco e proporcionar fartas colheitas. Entretanto, não é somente nesta data que os devotos recorrem a São José. Na Diocese de Crato (CE), por exemplo, no fim de novembro, os fiéis participam de uma missa solene, saem em procissão pelas ruas com a imagem do Santo e, ao final, há a bênção, com pedido por chuvas. São José é ainda o padroeiro do Ceará. Na cidade que foi por primeiro a capital daquele estado, Aquiraz, conta-se que as primeiras embarcações que chegavam traziam a imagem de São José. Naquela cidade cearense e em outras, como na atual capital, Fortaleza, o dia 19 de março é feriado.
(Com informações de Paulus, Canção Nova e Diocese de Crato)