Velas: símbolos de uma oração contínua diante de Deus

Para encerrar a série de reflexões sobre os sinais da fé cristã, o jornal O SÃO PAULO promove uma reflexão sobre a utilização das velas na liturgia católica e nas preces dos fiéis

O livro do Gênesis nos ensina que, antes da criação do mundo, tudo era uma grande confusão, o caos, a desordem. Até que Deus mandou que se fizesse a luz (cf. Gn 1,1-3). Os primeiros cristãos chamavam o batismo de “iluminação”, quando o batizando recebia a luz de Cristo. Era também costume colocar uma vela benta nas mãos de uma pessoa que morria, como sinal de sua fé.

A luz expressada na chama das velas é um costume muito antigo utilizado pela Igreja, que desde os primórdios assumiu essa maneira de honrar a Deus e os santos. O gesto de acender uma vela durante uma oração se tornou uma devoção popular e simboliza que aquela prece permanece contínua.

Para encerrar a série de reflexões sobre os sinais da fé cristã, inspirada no livro “Sinais de vida – Quarenta costumes católicos e suas raízes bíblicas”, do teólogo Scott Hahn, o jornal O SÃO PAULO promove uma reflexão sobre a utilização das velas na liturgia católica e nas preces dos fiéis.

SER LUZ É UMA MISSÃO

A lâmpada era símbolo de Jesus Cristo, que repetidas vezes falou sobre seu Evangelho –e até sobre si mesmo – em termos relacionados à luz. Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). O próprio Cristo comparou a luz da fé com uma vela acesa. Aquele que vive sua fé brilha como a luz. Aquele que evita o mal e procura praticar o bem por amor de Deus, esse ilumina os outros.

“A lâmpada é um símbolo de Cristo, a presença de Deus entre nós, mas não só. Cristo não veio somente para iluminar nosso caminho, mas também para nos dar sua luz, a fim de que a tomemos como nossa. O Deus-homem, que se revelou para ser luz do mundo, também disse a seus discípulos: Vós sois a luz do mundo (Mt 5,14)”, relata o teólogo Scott Hahn, em sua obra.

Na noite do Sábado Santo, quando o celebrante acende o círio pascal, aquele gesto significa a Ressurreição de Jesus. Por esse motivo, quando se batiza uma criança, para significar que o batismo comunica a vida da fé e também a presença de Deus na alma da criança, acende-se uma vela. Essa vela do batismo é acesa no círio pascal, mostrando que a vida de fé da criança é a mesma nova vida de Cristo em sua ressurreição.

DEMONSTRAR NOSSA ALEGRIA

Nas celebrações religiosas – seja a Santa Missa, seja os sacramentos –, as velas acesas significam a expressão da vida de fé daqueles que rezam e a presença de Deus entre o povo. Segundo Hahn, os primeiros padres da Igreja atestam esse uso abundante de velas no culto cristão, gesto que não era apenas uma mera funcionalidade.

“São Jerônimo, maior estudioso das Escrituras no mundo antigo, regozijava-se com esse costume da Igreja: ‘Sempre que o Evangelho será lido, e não obstante o entardecer ainda tinja o céu vermelho, acendem-se as velas – não para espantar a escuridão, é claro, mas como forma de demonstrar a nossa alegria’”, reforça o livro “Sinais de vida”.

São Jerônimo também recorda o ato de acender velas. Segundo ele, o próprio Jesus descreveu São João Batista como “lâmpada que arde e ilumina” (Jo 5,35), e, quando acendemos uma vela para os santos e mártires, “nós unimos nossas preces às deles”. Já Santo Atanásio de Alexandria se referiu às velas votivas como uma oferenda dos fiéis a Deus. Portanto, as velas não são algo meramente simbólico, mas uma extensão da nossa prece.

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