Quaresma: tempo de nos aproximar mais de Deus e do próximo

Considerado o período em que mais se estimula os católicos à conversão, o tempo quaresmal é um convite à reflexão de como anda o nosso relacionamento com deus, com os outros e conosco mesmos, e como fazer para melhorá-los

Luciney Martins /O SÃO PAULO

Segundo o que estabelece o calendário litúrgico, iniciou-se na quarta-feira, 2, o tempo da Quaresma, período que antecede a celebração da Páscoa do Senhor e durante o qual os católicos são exortados a percorrer um itinerário que contribui para a sua conversão e maior intimidade com Deus.

O sentido e a observância do tempo quaresmal – e até mesmo o próprio nome Quaresma –, têm sua origem nos 40 dias em que Jesus, impelido pelo Espírito após seu Batismo, permaneceu no deserto, orou e jejuou, e, mesmo exposto à tentação, resistiu às investidas do demônio e, em seguida, dirigiu-se à Galileia e ali iniciou sua vida pública, pregando o arrependimento dos pecados e anunciando o Reino de Deus (Mt 4,1-17).

Por isso, a Igreja determinou que a Quaresma tem seu início na Quarta-feira de Cinzas e se estende até o pôr do sol da Quinta-feira Santa, ou seja, até antes do início da celebração da Ceia do Senhor. Assim, neste período, ela propõe um verdadeiro exercício espiritual aos fiéis: baseados no exemplo de Cristo, convém aos cristãos imitá-lo, por meio das práticas da oração, do jejum e da caridade, para assim vivenciar mais pro- fundamente o arrependimento das faltas cometidas e buscar a sincera conversão, e, dessa forma, se preparar bem para celebrar o ápice da missão do Senhor, com o Tríduo Pascal (que inclui a Última Ceia; sua flagelação, crucificação e morte na cruz; e a Vigília Pascal) e o Domingo de Páscoa, dia da sua Ressurreição.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma e igualmente explica esse sentido: “‘Nós não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um que, como nós, em tudo foi provado, com exceção do pecado’ (Heb 4,15). Nos 40 dias solenes da Quaresma, a Igreja se une todos os anos ao mistério de Jesus no deserto” (CIC 540).

EXERCÍCIOS

Durante a Quaresma, portanto, somos convidados a rever a nossa vida de fé e a fazer uma avaliação sobre como anda o nosso seguimento de Cristo e o progresso nas virtudes cristãs. Para tanto, a Igreja indica três exercícios penitenciais, também referidos por Nosso Senhor no Sermão da Montanha (cf. Mt 6,1ss), que exprimem a conversão, respectivamente, em relação a Deus, aos outros e conosco mesmos:

  • Oração: diz respeito à nossa familiaridade e comunhão com o Senhor, que se traduzem na escuta atenta e assídua da Palavra de Deus, na oração pessoal e comunitária e na vivência da amizade com Ele. É o meio pelo qual o cristão entra em diálogo íntimo com Deus, deixa que a Sua graça entre em seu coração e se abre para a ação do Espírito.
  • Esmola: refere-se a todas as maneiras de se exercer a caridade e a solidariedade fraterna ao próximo;
  • Jejum: inclui todas as formas de penitência, escolhas, renúncias e sacrifícios para correspondermos ao querer de Deus, o que requer disciplina e aceitação das “cruzes”. É uma maneira de nos educar, de aprendermos a dominar nosso próprio corpo e também as nossas inclinações.

PRÁTICA

Nessa busca por uma vida mais ascética, que deve ter lugar no cotidiano de todo cristão, o fomento das virtudes assemelha-se a um exercício e, como tal, seus efeitos somente são sentidos quando praticado com constância.

Assim, no campo espiritual, a Igreja destaca que é salutar a prática de atos que levem ao arrependimento e estimulem a conversão, cabendo a cada cristão, de acordo com sua consciência, estabelecer quais deles são os mais adequados.

Nesse sentido, Jesus alertou que quem quisesse segui-lo, deveria estar disposto a carregar a própria cruz. Assim, a cruz sempre deve ser tomada livremente, aquela que Deus nos envia sem que a procuremos, a do sofrimento inesperado, que deve ser abraçada com fé e amor. Há também, no entanto, outra cruz santa, que depende totalmente de nossa decisão e generosidade, que é aquela baseada nos sacrifícios voluntários, também chamados de mortificações, que optamos por abraçar por nossa própria liberdade e que têm uma função reparadora pelos pecados cometidos.

Vários são os exemplos, portanto, que podem servir como inspiração para a prática de penitência e mortificação, a fim de nos ajudar a obter maior proximidade com Deus:

  • abrir mão de algo de que gostamos (uma comida, uma bebida, um passatempo, um lazer, o uso de um aplicativo no celular, um programa de TV);
  • envolver-se na execução de obras de misericórdia corporal (dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, abrigar os peregrinos, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos);
  • e de misericórdia espiritual (ensinar os ignorantes, dar bom conselho, corrigir os que erram, perdoar as injúrias, consolar os tristes, sofrer com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e pelos defuntos);
  • dedicar-se mais ciosamente à oração;
  • praticar jejum (de alimentos, da língua, do mau humor, da murmuração, da preguiça);
  • observar a abstinência, conforme estipula a Igreja;
  • confessar-se;
  • levar uma vida mais regrada e organizada;
  • dispor-se a ajudar a quem precisa, entre outros.

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